"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 25 de março de 2012

SOMOS TODOS CAIXEIROS VIAJANTES AGORA

A clássica peça de Arthur Miller é mais relevante hoje do que nunca
Willy Loman é um fabulista delirante com sinais de demência senil e possivelmente uma desordem bipolar. Ele inflige seu ódio em qualquer alvo no seu campo de visão, de familiares a utensílios domésticos. Ele não é, em poucas palavras, alguém com quem o espectador de teatro médio se identificaria. Ainda assim o seu retorno à Broadway, numa nova montagem da peça de Arthur Miller “A Morte do Caixeiro Viajante”, dirigida por Mike Nichols, evoca uma sensação de quão facilmente uma vida comum pode gradualmente, imperceptivelmente, e então catastroficamente, descarrilar.

Essa insinuação da precariedade da vida torna “A Morte do Caixeiro Viajante” ainda mais oportuna hoje do que quando de sua primeira montagem em 1949. Ao estrear, a idade do ouro americana ainda estava para atingir o seu ápice, mas ninguém então se preocupava em perder seu emprego para uma potência ascendente, para uma nova tecnologia ou para o colapso da economia.

Mike Nichols, entretanto, não faz nenhuma concessão especial aos dias de hoje. O figurino é de época e o cenário recria o projeto desenhado por Jo Mieliner para a montagem original de 1949. O diretor afirmou que queria retornar ao “impulso original” da peça, e esta parece uma decisão sábia. Tentar adicionar uma pertinência aos dias de hoje através de recursos visuais poderia resultar forçado.

A grandeza da peça é inata e reside no modo como sua ação e diálogo deslizam de um momento ao próximo, entre o passado e o presente, júbilo e fúria, realidade e imaginação. O público se senta na montanha russa que é a mente de Willy, mas apesar de toda sua evidente tristeza, é crucial que Willy retenha o seu sofrimento e que nunca pareça absurdo.

São necessárias força e habilidade para se manter equilibrado no fio da navalha entre a insanidade e uma sanidade meramente assustada por mais de duas horas. Philip Seymour Hoffman desempenha esse papel sem perder o equilíbrio por um momento que seja. Apesar de ter apenas 44 anos, ele habita este Willy com uma intensidade perturbadora.

Fontes:The Economist - We are all salesmen now

25 de março de 2012
opinião e notícia

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