"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 30 de março de 2012

MENSALÃO, SUCESSO DE BILHETERIA

Já que o assunto veio à baila com a banda podre ensaiando para DEMóstenes dançar, cante-se então a música de fundo, o famoso dobrado Mensalão, hit parade sem precedentes na história desse país.

Pois o Mensalão foi uma obra composta por grandes maestros para menores desafinados. A clave de sol seguia o diapasão que ficou conhecido sob os acordes da "estratégia de coalizão pela governabilidade". Uma pauta orquestrada tipo assim quanto custa você vir tocar tambor, ou botar a boca no piston aqui na minha banda?

Ou, ainda, quanto você quer ganhar para levar a vida na flauta antes que essa minha incursão pelos palcos iluminados desse país tropicaliente desafine completamente até que não reste a menor dúvida de que aqui tudo que jazz não volta mais?

O sucesso do Mensalão foi orquestrado para fazer novos amigos - que atendem ao primeiro dó de peito como aliados - e para influenciar políticos disfarçados de pessoas.

Foi com uma boa formação de bandleaders - boa, no pior sentido da nota - que nasceu o coral uníssono que ganhou a sólida denominação de um musical popular conhecido com Base Aliada.

Daí para a droga, videotapes e rock'n roll da pesada foi um pulo desenfreado para consolidar a República dos Calamares. A banda fortificou-se com maestros que tocam todos os ritmos, em todas as cadências, para todos os gostos, do calipso ao cha-cha-chá; uma composição que digere todos os sabores, de caviar a rabada.

Pois esse grupo afinadíssimo que tocou por bom tempo a ópera bufa "Estratégia da Coalizão", tem agora que aguentar a nota final para a sua temporada de incalculável sucesso de bilheteria.


O regente nacional é o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem compete a avaliação da obra musicada pelo Palácio do Planalto. Ele trata a banda - talvez pela proximidade das festas juninas - de "quadrilha". E toca o seu tonitruante trombone de vara para cima da turma que desafina e assassina a música aos ouvidos da Justiça que é cega, mas não é surda:

"Além da cooptação de apoio no Congresso, também constituiu objetivo do grupo criminoso o financiamento do projeto político do PT, mediante o pagamento de dívidas...". E canta de galo a melodia que cada maestro tocava e que agora deve dançar:

"Marcos Valério - na condição de líder do núcleo operacional e financeiro, foi com José Dirceu, pessoa de fundamental importância para o sucesso do esquema ilícito". Por quadrilha, corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro, esse tocador de bumbo pode pegar de 85 a 527 anos de carreira solo, num presídio afinado com a sociedade.

"Delúbio Soares - era o elo entre o núcleo político, comandado por José Dirceu, e o núcleo operacional comandado por Marcos Valério". Por quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro, se tudo não virar "piada de salão", vai cantar para os presos numa temporada que pode durar de 19 a 111 anos.

"José Dirceu - as provas comprovaram, sem sombra de dúvida, que José Dirceu agiu sempre no comando... Era, enfim, o chefe da quadrilha". Por incrvel que pareça, o chefe Dirceu concorre com Delúbio: por formação de quadrilha e corrupção ativa, falando sério, vai fazer dupla de sotaque caipira com ele durante o mesmo período de 19 a 111 anos de turnê artística. Não se preocupa com o andamento da m´suica, mas já trata de compor a letra do sucesso garantido "O Sol Nasce Pra Todos". Mesmo que seja quadrado.

"José Genoíno - era o interlocutor do grupo criminoso. Cabia-lhe formular as propostas de acordo aos líderes dos partidos que comporiam a base alaida do governo". Por quadrilha e corrupção ativa e distraída, pode levar de 17 a 99 anos de cana pelas costas.


"João Paulo Cunha - concordou com a proposta e, ciente da sua origem ilícita, valeu-se da estrutura de lavagem do dinheiro disponibilizada pelo Banco Rural para receber o valor". Por lavagem de dinheiro e por ser corrupto e passivo, corre o risco de tomar pelas costas de 10 a 42 suaves aninhos.

"Valdemar Costa Neto - recebeu a quantia de R$ 8.885,742 para votar a favor de matérias do interesse do Governo Federal. O parlamentar foi cooptado por José Dirceu". Corrupto passivo, lavador de dinheiro e quadrilheiro tem tudo para pegar de 9 a 35 anos de xelindró.

"Duda Mendonça e Zilmar Fernandes resolveram em busca de maior segurança na ocultação dos dados da operação que o restante deveria ser pago em uma conta no exterior". Por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e exibimento, corre o risco de ser presidiário por um tempo que varia de 8 a 32 anos.

"Roberto Jefferson - o acordo fechado na época por Roberto Jefferson com José Dirceu, impunha o pagamento do valor de R$ 20 milhões para que o PTB aderisse à base". Por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caguetagem, está sob ameaça de ser colega da turma que dedurou pelo curto espaço de 5 a 22 anos. Barbosa, o seu advogado, é dos melhores do ramo. Não vai deixar.

Ali Babá - quanto ao Ali Babá, que na mesma hora que deu o estouro do Mensalão se disse "apunhalado pelas costas", nada mais acontecerá do que já lhe aconteceu. Está condenado, até o fim de seus dias, a ser o maior esperto do País, sem saber nada, sem fazer nada, sem ser nada mais que o nada que é nessa vida. Um esperto bom e batuta, um mau companheiro. Um filho daqueles que ninguém elegeria para chamar de amigo.

30 de março de 2012
sanatório da notícia

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