"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 31 de março de 2012

O CASO DEMÓSTENES E O "HOMEM-BOMBA"

As gravações realizadas pela Polícia Federal, das conversas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres, são motivos suficientes para enquadrar o político goiano na legislação penal brasileira e convertê-lo em réu por práticas criminosas no exercício do mandato. É claro que ao acusado deve-se conceder o direito de defesa e o devido processo legal, mesmo que os indícios apresentados pela peça policial não coloquem qualquer dúvida sobre o desempenho do senador com tratativas fora-da-lei, em cumplicidade com um contraventor contumaz e figura conhecida do meio político.

A expressão “eu não sou mais o Demóstenes”, dita pelo próprio senador, dá a entender que Demóstenes não era um só, mas dois: um deles era aquele que subia à tribuna do Senado Federal e atacava o governo federal pela complacência com a corrupção nos ministérios; o outro era o delinquente que, em associação com um bicheiro, trafegava descaradamente pelos escaninhos da República transacionando facilidades para o seu cúmplice. O político goiano cairá sozinho e provavelmente os garçons do Senado nem mais estão lhe servindo o cafezinho e os porteiros mal o cumprimentam.

Os senadores José Sarney e Renan Calheiros, “dois grandes republicanos”, que foram alvos do “moralismo de araque” de Demóstenes, não moverão uma palha para livrar o desafeto da cassação e da perda dos direitos políticos. O DEM, que ainda não se recuperou da lambança promovida pelo ex-governador do Distrito Federal - José Roberto Arruda – entende que a melhor saída para Demóstenes será a de abandonar o partido por conta própria. Ou, caso contrário, optar pela saída humilhante: a expulsão sumária. Demóstenes entrou em processo de depressão, que será agudizado com novas revelações, agora sobre conversas entre a sua mulher e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, envolvendo outros políticos e um ministro do STF.

A casa dos horrores que ainda não curou as cicatrizes com a renúncia de Renan Calheiros da presidência e as graves denúncias contra José Sarney, enfrenta uma nova crise com o “caso Demóstenes”, que não se esgota com a cassação do mandato e com o afastamento do senador goiano da vida pública.

Carlinhos Cachoeira é nitroglicerina pura, um verdadeiro arquivo sobre o que rola de sujeira pelos meandros da política brasileira. As farmácias de Brasília acusam o crescimento do consumo de antidepressivos.

Um famoso advogado e ex-ministro do governo petista foi chamado às pressas para tentar estancar novas revelações que possam comprometer outros “ilustres” republicanos. Esforços estão sendo promovidos para que Carlinhos Cachoeira não abra as comportas. Caso acorde com a justiça a delação premiada, Cachoeira vai arrebentar com a República, inclusive atingindo pessoas de outros poderes .

31 de março de 2012
Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e articulista colaborador deste blog

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