"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 8 de maio de 2012

ALTERNÂNCIA...

Deve ter sido no início de 1964. Não lembro da data exata. Na faculdade de filosofia local houve uma conferência de algum arauto do comunismo mais conhecido.
Vinha para vender as benesses do comunismo aos estudantes e outras pessoas presentes. Falava da “ditadura do proletariado” como etapa necessária entes do estabelecimento da utopia comunista de justiça para todos.



Devemos lembrar que nos anos anteriores havíamos assistido nos jornais cinematográficos fuzilamentos em Cuba em que bastava alguém gritar na multidão de um estádio de futebol “foi ele que matou meu pai” para isto ser aceito como prova e o sujeito ser arrastado para um paredón no próprio estádio e ser fuzilado ante as câmaras de cinema das agências noticiosas internacionais. Lembranças tristes semelhantes ao “Terror” na França do século XVIII.

O conferencista estava envolvido em loas ao sistema, ao regime, à necessidade de uma ditadura do proletariado, e outras baboseiras mais que continuamos a ouvir ate hoje, quando um o Irmão Constâncio da ordem deLa Salle, professor de química na minha escola, espanhol e reputadamente ex-oficial da cavalaria espanhola perguntou com seu sotaque típico:
“Mas quanto tempo deve durar esta ditadura temporária? ”

O conferencista recebeu uma dica sussurrada de um assessor local que devia ter dado a ficha do Irmão Constâncio, pois respondeu com uma pergunta:

“Há quanto tempo Franco está no poder? “

Bem, o regime de Franco, na época com 25 anos, durou 37 anos, foi sério, mas não reduziu a Espanha a pedinte internacional e nem foi tão repressor quanto o regime de Cuba. Os espanhóis que quisessem podiam sair do país sem problemas.

O sucessor escolhido por Franco, atual rei pessoalmente tomou todas as medidas para converter o país em uma monarquia democrática.
Já o regime de Cuba hoje está com 53 anos e a ilha está sob racionamento de comida durante quase todo este tempo, não há o direito de ir e vir e o país virou uma cápsula do tempo de prédios da década de 50, lentamente sendo destruídos pela negligência a longo prazo.

Cito isto no momento em que a França mais uma vez passa a ter uma presidência, mas não um regime socialista. O presidente escolhido é socialista. Seu ministério será socialista, mas dificilmente o país será socialista. Há uma diferença Miterrand esteve 14 anos no poder.

Na França as eleições para presidente são a cada sete anos. Porém o Parlamento se renova mais amiúde, portanto há um certo equilíbrio com a escolha de um Primeiro Ministro. Houve sete primeiros ministros diferentes durante os 15 anos da presidência Miterrand. Dois eram de absoluta oposição a Miterrand.
Outros eram a favor, contra em certos assuntos. De uma forma geral o parlamento francês não era um mero sistema de carimbar “APROVADO” nas propostas do presidente e seus ministros.
Em matéria de democracia o “verde-amarelo” tem muito a aprender.

(*) Fotomontagem: Fidel Castro & Francisco Franco

08 de maio de 2012
Ralph J. Hofmann

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