"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 8 de maio de 2012

"QUEM NÃO CHORA NÃO MAMA"

 

A frase é do barão de Itararé, pseudônimo do jornalista e humorista político Aparício Torelly. Ela virou bordão neste país desde os idos de 1930 e rendeu até samba. Agora, com a cachoeira de generosidades, mama quem ri com amigos parlamentares e administradores públicos.


Em contrapartida, por enquanto, tem-se a performance do humor brasileiro. Ó destino... Ainda bem que neste país se gosta de dar risada. E, se isso for sinônimo de felicidade, que vivam as gargalhadas.


Em entrevista a Marcello Scarrone, na Revista de História da Biblioteca Nacional, o professor de Teoria da História Elias Saliba afirma que, por trás do humor como diversão, há o brasileiro tentando se situar na sociedade. Daí que a linguagem humorística no Brasil é uma paródia da vida real (no sentido de “canto paralelo”).


Por quê? Porque a vida nacional já é engraçada. “Nós estamos no país da piada pronta”, diz o historiador. Porém, acrescenta que a ética emotiva inclui não apenas o riso, mas também sentimentos tristes. E recorre a Millôr Fernandes: “A distância entre o riso e a lágrima é apenas o nariz.”


Que o digam governadores e outras personagens da rotina política brasileira.


Neste país emergente sem muitos princípios, onde o culto ao malandro é tão forte, fica difícil saber para onde vão os valores éticos. O reconhecimento do direito de oportunidades iguais, o pagamento de impostos para o bem comum etc.


Os sentimentos que chegam à tona com mais facilidade parecem nada ter a ver com o bem-estar do outro. Mas, exclusivamente, com a vantagem pessoal. Como, por exemplo, poder!


Essa distorção maligna cria frustrações perigosas. As quais, segundo especialistas, induzem quem se julga tratado em algum momento da vida de forma “injusta” a dispensar obrigações morais. Fazendo coisas do tipo: vamos aproveitar porque não tem ninguém à espreita.


Ora, deixar de praticar algo criticável por temer ser descoberto não vale; tem que ser correto por princípio. Até porque gente da vida pública é para ser vigiada mesmo. Se olhos e ouvidos invisíveis forem usados com intenções lícitas ou para golpes ilícitos serão temas de novas charges...


Tomara que haja cidadãos, independentemente de partidos, credos e classes, enxergando o significado da CPI do Cachoeira. E sejam capazes de pressionar os parlamentares por um resultado que freie essa corrupção endêmica. Caso contrário, há risco do Brasil perder mais uma entrada para a prosperidade sustentável e risonha. E decente.

08 de maio de 2012
Ateneia Feijó é jornalista

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