"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 6 de maio de 2012

COLLOR: A ESTRANHA MANIA DE SE CERCAR COM A ESCÓRIA POLÍTICA

 

SINTONIA - Collor em 1992, impeachment por corrupção. Agora, coabitando com seus antigos algozes.
(Fotos: Lula Marques/ Folhapress - Orlando Brito)
 
Collor reencarna como defensor da moral. Ao colocar a carranca de investigador, senador reavivou a memória dos brasileiros sobre seu desastrado fim como presidente.
 
O senador Fernando Collor de Mello perdeu o mandato de presidente da República
e os direitos políticos em 1992, depois de uma ampla investigação do Congresso. Investido agora na CPI do Cachoeira do papel de tarefeiro dos interesses subalternos dos integrantes do petismo radical, seus antigos algozes, Collor reencarnou-se como autoridade e como defensor da moral e dos bons costumes. Estranho papel. O ex-presidente faria um personagem mais crível se continuasse em sua última linha de defesa, a de raro político que realmente pagou pelos erros que lhe foram imputados. Pagou com a perda da faixa presidencial. A respeito dos crimes de que foi acusado, Collor obteve na Justiça o que mais lhe interessava. Nenhum dos processos criminais contra ele prosperou. Ele poderia passar à história, então, usufruindo esse empate técnico entre transgressão e punição.
No entanto, ao colocar a carranca de investigador, Collor reavivou a memória dos brasileiros sobre seu desastrado fim como presidente. Co­mo pode investigar as pessoas um ex-presidente que levou para dentro do governo federal o esquema de arrecadação de propinas comandado por Paulo César Farias, seu ex-tesoureiro de campanha? PC, como era conhecido, criou uma rede de contas-fantasma que era abastecida com dinheiro extorquido de empresas e usado, entre outras coisas, até para o pagamento de despesas da família do agora senador alagoano. Na Esplanada, Fernando Collor se cercou de um ministro que admitiu ter sido subornado e de outro que recebeu um jet ski de uma empreiteira. À frente do Banco do Brasil, alojou um aliado que se destacou por ameaçar adversários, inclusive fisicamente, e abusar da instituição bancária para espioná-los.
O estilo collorido lançou tentáculos sobre o Congresso. Deputados que se orgulhavam de pertencer à "República das Alagoas" marchavam armados (de revólveres!) pelos corredores da Casa e ainda se gabavam dessa truculenta estratégia de intimidação. Naquele período trevoso compartilhava da intimidade do presidente da República uma figura então corpulenta, que se apresentava como um dos expoentes da "tropa de choque collorida". Seu nome? Roberto Jefferson. Ele mesmo, o atual presidente do PTB, que, uma década mais tarde, ajudaria a trazer à luz o escândalo do mensalão, o maior caso de corrupção da história. Fernando Collor estava bem no seu limbo, mas saiu dele para entrar na CPI e piorar ainda mais sua história.
 
06 de maio de 2012
*Fonte: Texto e fotos Veja.abril.com

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