"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 6 de maio de 2012

CACHOEIRA: ATESTADO DE INOCÊNCIA DOS DEFENESTRADOS

Ah, que bonitinho! Cachoeira agora virou atestado de inocência de gente que Dilma defenestrou por bons motivos

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Não se deixe enganar. A marcha da vigarice está mais ativa do que nunca!
Escrevi ontem um texto relatando como o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, poderia estar sendo hoje linchado por certo tipo de cobertura jornalística. Por quê? Gravações feitas pela Polícia Federal em junho do ano passado indicam que o contraventor Carlinhos Cachoeira e seus asseclas estavam interessados na libertação de um prefeito que estava preso. Lembram que a decisão do habeas corpus cabe a Mendes, sugerindo que vão procurá-lo — o que, segundo o ministro, não aconteceu. Muito bem!

Para sua sorte, Mendes negou o habeas corpus ao tal prefeito duas vezes — naquele mesmo junho e em dezembro. Imaginem se tivesse encontrado motivos jurídicos para concedê-lo! Iriam tratá-lo como membro da gangue. Entenderam de que a política está ficando refém? Das conversas de Cachoeira com os seus homens, recheadas de bravatas e papo-furado. Nesse caso, a gravação serviria para condenar o ministro por um crime que não cometeu.

Mas certa cobertura de imprensa também faz o contrário: todo desafeto de Cachoeira ou todo aquele em cuja queda ele demonstra interesse se torna, em princípio, vítima de seus ardis. É o caso do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, senador pelo PTB (AM), e de Luiz Antônio Pagot, ex-chefão do Dnit. Coversas do bicheiro com seus auxiliares evidenciam que ele estaria tramando a queda dos dois. Eles acabaram sendo demitidos por Dilma. “Ah, tudo armação do Cachoeira!!!”

É mesmo? Só se a presidente é mais uma das teleguiadas do bicheiro… Não teria ela procedido a apuração nenhuma antes de concluir que ambos não poderiam continuar no cargo? Não teria ela se socorrido de informações fornecidas pela Controladoria Geral da União, por exemplo. Digam-me aqui: o fato, agora, de ficar claro que Cachoeira queria a queda deste ou daquele faz de seus desafetos da hora almas impolutas, administradores competentes, moralizadores do dinheiro público? Qual é? Tentam enganar a quem?

Pagot teve a chance de botar a boca no trombone em depoimento ao Senado. Por que não o fez? Também em gravações, Cachoeira se refere a um encontro do ex-presidente do Dnit com ninguém menos do que Fernando Cavendish. Expressa a certeza de que o demiti9do não daria com a língua nos dentes porque seria um “tiro no pé”!!!

Atenção!
VEJA publicou a primeira reportagem sobre as lambanças no Ministério dos Transportes na revista que começou a chegar aos leitores no dia 2 de julho de 2011, um sábado. A reportagem informava, inclusive, uma reunião que a presidente havia feito com a cúpula da pasta, passando uma carraspana generalizada. Ela própria sabia que a situação era de tal sorte grave que, PRESTEM ATEÇÃO, começou a demitir a cúpula dos transportes no próprio sábado.

Aquela foi só a primeira reportagem. Outras tantas vieram depois — e não só na VEJA. Nascimento não conseguiu se segurar no cargo. Pagot também saiu. Não, não foi Cachoeira quem os demitiu! Não foi VEJA quem os demitiu. Quem tomou a decisão foi Dilma Rousseff. Leiam um post de 3 de julho, justamente o que trata do início da limpa no Ministério dos Transportes. Ele traz algumas informações sobre o descalabro que vigia na pasta. Em casos assim, ou agente tem memória ou acaba engolido por vigaristas:
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A presidente Dilma Rousseff decidiu neste sábado afastar do cargo os representantes do Ministério dos Transportes envolvidos em denúncia apontada em matéria de VEJA desta semana. A reportagem revela um esquema de pagamento de propina para caciques do PR, Partido da República, em troca de contratos de obras.

Dilma conversou com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, neste sábado e acertou o afastamento dos envolvidos. São eles: Mauro Barbosa da Silva, chefe de gabinete do ministro; Luís Tito Bonvini, assessor do gabinete do ministro; Luís Antônio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit); e José Francisco das Neves, diretor-presidente da Valec. O desligamento dos funcionários será formalizado a partir da próxima segunda-feira, pela Casa Civil.

“Para garantir o pleno andamento da apuração e a efetiva comprovação dos fatos imputados aos dirigentes do órgão, os servidores citados pela reportagem serão afastados de seus cargos, em caráter preventivo e até a conclusão das investigações”, diz o Ministério dos Transportes, em nota.

Senadores da oposição ouvidos (aqui) por VEJA neste sábado haviam exigido uma postura mais firme da presidente Dilma sobre ao caso. Por enquanto, Nascimento continuará à frente do cargo. O ministro disse que vai instaurar uma sindicância interna para apurar “rápida e rigorosamente” o envolvimento de dirigentes da pasta e seus órgãos vinculados nos fatos mencionados pela revista.

“Além de mobilizar os órgãos de assessoramento jurídico e controle interno do Ministério dos Transportes, o ministro decidiu pedir a participação da Controladoria-Geral da União (CGU). As providências administrativas para o início do procedimento apuratório serão formalizadas a partir da próxima segunda-feira”, diz a nota.

O ministro rechaçou qualquer ilação ou relato de que tenha autorizado, endossado ou sido conivente com a prática de quaisquer ato político-partidário envolvendo ações e projetos do Ministério dos Transportes.

Caso

A edição de VEJA mostra que, no último dia 24, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com integrantes da cúpula do Ministério dos Transportes no Palácio do Planalto para reclamar das irregularidades na pasta. Ao lado das ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e MÍriam Belchior (Planejamento), ela se queixou dos aumentos sucessivos dos custos das obras em rodovias e ferrovias, criticou o descontrole nos aditivos realizados em contratos firmados com empreiteiras e mandou suspender o início de novos projetos. Dilma disse que o Ministério dos Transportes está sem controle, que as obras estão com os preços “inflados” e anunciou uma intervenção na pasta comandada pelo PR - que cobra 4% de propina das empresas prestadoras de serviços.

A presidente também cobrou explicações sobre a explosão de valores dos empreendimentos ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na nota, o ministro Alfredo Nascimento disse que desde janeiro vem tomando as providências para redução dos custos de obras.

“Tal preocupação atende não apenas a necessidade de efetivo controle sobre os dispêndios do ministério, mas também a determinação de acompanhar as diretrizes orçamentárias do governo como um todo. Característica de sua passagem pelo governo federal em gestões anteriores e, obedecendo à sua postura como homem público, Alfredo Nascimento atua em permanente alinhamento à orientação emanada pela presidente”.

Reunião
Com planilhas e documentos sobre a mesa, Dilma elevou o tom no encontro com representantes da pasta: “O Ministério dos Transportes está descontrolado”. A presidente chamou de “abusiva”, por exemplo, a elevação do orçamento de obras em ferrovias, que passou de 11,9 bilhões de reais, em março de 2010, para 16,4 bilhões neste mês - salto de 38% em pouco mais de um ano. Dilma também se irritou em especial com a Valec, estatal que cuida da malha ferroviária, e com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pelas rodovias.

O secretário-executivo do ministério, Paulo Sérgio Passos, o diretor-geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot, e o diretor de Engenharia da Valec, Luiz Carlos Machado de Oliveira, também estavam na reunião em que Dilma mais falou do que ouviu.

“Vocês ficam insuflando o valor das obras. Não há orçamento fiscal que resista aos aumentos propostos pelo Ministério dos Transportes. Eu teria de dobrar a carga tributária do país para dar conta”, disse Dilma, quando a reunião caminhava para o fim. Ela deu o diagnóstico: “Vocês precisam de babá. E terão três a partir de agora: a Míriam, a Gleisi e eu”.

Nas últimas semanas, VEJA conversou com parlamentares, assessores presidenciais, policiais e empresários, consultores e empreiteiros. Ouviu deles a confirmação de que o PR cobra propina de seus fornecedores em troca de sucesso em licitações, dá garantia de superfaturamento de preços e fecha os olhos aos aditivos, alvo da ira da presidente na reunião do dia 24.

O esquema seria encabeçado pelo deputado Valdemar Costa Neto, que em 2005 foi obrigado a renunciar a uma cadeira na Câmara abatido pelo escândalo do mensalão. E também pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que aliás faltou ao encontro com Dilma alegando “compromissos pessoais”.

Voltei
A suposição de que os dois patriotas caíram porque vítimas de Cachoeira ou é uma piada cretina ou é coisa de má fé. Perguntem a Dilma se foi o bicheiro que lhe deu ordens para dar um murro na mesa. Perguntem à presidente se ela não considerou mesmo abusiva, entre outras coisas, a elevação do orçamento de obras em ferrovias, que passou de 11,9 bilhões de reais, em março de 2010, para 16,4 bilhões em julho de 2011, um salto 38% em pouco mais de um ano.
Se houver alguma fita em que Cachoeira diz que o capeta é um sujeito malvado, vamos canonizar o rabudo? Se, porventura, fizer uma saudação a Deus, é o caso de considerar o Altíssimo um senhor muito suspeito?
Cachoeira, agora, virou o único juiz do Brasil? Serve tanto para lavar como para sujar biografias?

06 de maio de 2012
Reinaldo Azevedo

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