"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 2 de maio de 2012


COMISSÃO COM TELHADO DE VIDRO - A TAL CPI DA "SOBRIEDADE E FOCO" : "A única coisa que pode fazer essa CPI funcionar é o fato de ser uma guerra política, usada para descredenciar adversários”

Menos de um terço dos 32 titulares da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investigará as ligações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários já estiveram do outro lado do balcão, expostos a denúncias e desconfianças da opinião pública.

A personificação das reviravoltas políticas é o ex-presidente da República e agora senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Vinte anos depois de descer a rampa do Palácio do Planalto pela última vez, como unanimidade nacional, ele volta à cena para investigar um de seus pares, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

Na lista de representantes do Congresso indicados para buscar a verdade, há ex-fichas sujas, aliados de figuras controversas, nomes envolvidos em escândalos nacionais e até deputado pego no bafômetro.

Collor subiu à tribuna do Senado esta semana para anunciar que trabalhará contra o vazamento de informações à imprensa. Ele confidenciou a aliados que uma de suas motivações na CPI será colocar luz nas relações de repórteres e veículos de comunicação com a quadrilha de Cachoeira.

A antiga condição de vidraça, no entanto, não é exclusividade do senador alagoano.

Relator do colegiado, o deputado federal Odair Cunha (PT-MG) foi acusado de usar sua cota de passagens aéreas para financiar a viagem de um amigo entre Buenos Aires e o Rio. Cunha nega, argumentando que o bilhete foi adquirido com milhas e que pagou a taxa de embarque legalmente, segundo ele.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) teve o mandato de governador cassado em 2009. A Justiça entendeu que, durante a campanha de 2006, ele usou um programa social do governo em benefício de sua candidatura à reeleição. Então considerado ficha suja, só assumiu em 2011 a cadeira no Senado, um ano depois da eleição.

O Supremo Tribunal Federal (STF) foi favorável à posse por interpretar que a pena de inegibilidade já havia sido cumprida.

Outro que já esteve no centro do noticiário foi o senador Humberto Costa (PT-PE). Ele era o ministro da Saúde quando veio à tona o escândalo dos sanguessugas:

esquema de desvio de recursos da pasta que deveriam ser empregados na aquisição de ambulâncias. Costa, relator do processo que corre no Conselho de Ética da Casa contra Demóstenes, foi absolvido das denúncias.

Escutas

O senador Jayme Campos (DEM-MT) acumula processos na Jutiça, entre eles um de improbidade administrativa. Todas as ações são herança do período em que foi governador de Mato Grosso. Já a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) teve seu nome citado em escutas feitas pela Polícia Federal durante a Operação Satiagraha, em 2008.

Um aliado do empresário Daniel Dantas afirmava que a parlamentar recebera R$ 2 milhões de uma empresa para apresentar emendas a uma medida provisória, da qual ela era relatora. A alteração iria de encontro aos interesses de Dantas.
A denúncia nunca foi comprovada.

Cientista político da UnB, o professor Leonardo Barreto enxerga na ficha dos parlamentares motivos para endossar o senso comum de que CPI é sinônimo de pizza.

“A única coisa que pode fazer essa CPI funcionar é o fato de ser uma guerra política, usada para descredenciar adversários”, analisou Barreto.

Leonardo Barreto, cientista político da UnB

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