"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 14 de junho de 2012

DEPOIS DO JULGAMENTO DO MENSALÃO

Afinal foi marcada a data do julgamento do mensalão. Em torno dessa decisão, choveram, de lados opostos, protestos contra as pressões. Para mim, uma questão ociosa. Aqui e fora daqui, o Judiciário, como os outros poderes, sempre esteve sujeito a pressões de indivíduos ou de grupos. Lula pleiteou que o julgamento se fizesse após as eleições de outubro. Isso foi uma pressão? Sem dúvida.

O Globo, de 6 de junho passado, reiterando numerosas manifestações no mesmo sentido, exigiu em editorial: “o julgamento tem de começar logo”. Isso foi uma pressão? Sem dúvida. Em entrevista à Folha de São Paulo, o ministro Marco Aurélio, do STF (nomeado por Collor), salientou que a pressão de Lula era legítima assim como o da imprensa antilulista. Ele disse o óbvio, mas com oportunidade.

Abandonemos esse assunto que já não atrai atenção. Observo que muitos oposicionistas estão menos interessados na aplicação da Justiça, isto é, punição dos culpados, do que nas consequências políticas do julgamento. Eles alimentam a expectativa de que a decisão do Supremo acarrete em dano irreparável ao PT, faça despencar a popularidade de Lula e, em decorrência disso, Dilma se afaste de uma desconfortável vizinhança.

A meu ver, essas suposições se inspiram naquilo a que os anglo-saxões chamam de wishful thinking (pensamento desejoso). Com ele, o indivíduo faz previsões com base não nos dados da realidade e sim no que gostaria que acontecesse. Isso não é pecado, mas toda a objetividade.

Evidentemente a ruptura de Dilma com Lula só é concebível se ele sofrer um colapso político. Não é preciso apelar para a História e sim para o simples bom senso para saber que a criatura só se rebela contra o criador quando acha que tem algo a ganhar com isso. Mas se a popularidade de Lula se mantiver num alto patamar, que ganharia de Dilma se rompesse com ele? Isso facilitaria a sua reeleição? Na presente situação, todos os interesses e conveniências confluem para a continuidade da aliança Dilma-Lula. Às vezes, é preciso acentuar o óbvio.

Vamos aguardar as consequências do momentoso julgamento. Elas serão avaliadas, não apenas pelas eleições municipais, mas também pelas pesquisas de opinião que virão depois.

Humberto Braga é conselheiro aposentado do TCE-RJ

14 de junho ded 2012
Humberto Braga

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