"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de junho de 2012

O CRIME E A LEI


Foi diante dessa relação que a psicanálise colocou sua colher de pau, nesse angu, trazendo sua perspectiva, o seu olhar no ponto chave da dialética entre o individuo e o social. Ora, o dito paulino é de uma lógica a toda prova se pensarmos bem. No entanto, o sentido lógico se revela claramente quando estudamos a dinâmica social, isto é, dentro de concepções e formulações sociológicas, fundamentais diga-se, além de compreensões sobre o direito e sua implementação histórica na vida dos povos.

Mas a pergunta que cabe é: será que antes da entrada do direito na vida cotidiana, social, dos povos, não havia o crime? Certamente que sim e não é preciso apelar para as concepções bíblicas (ainda que interessantes) para termos a confirmação da afirmativa.

A olho raso é possível discernir que a chamada vida humana não tem inicio no grande social de imediato, e sim, no micro social, ou seja, na família, não importa aqui o tipo de família que estejamos pensando ou falando. E desde que nos posicionemos contrários a idéia de que o fator gerador do crime seja de base genética, fica a pergunta: de onde viria essa propensão?

Para a psicanálise, em especial a freudiana, os dois grupos de pulsões inatos a todo humano, seria o amor e o ódio, podendo ser lidos como sexo e morte, ou ainda, pulsão amorosa e pulsão agressiva. Freud defendeu que era contra essas duas tendências que a civilização lutava e sobre as quais foi erguida no sentido direto.

Agora quem retomou a idéia sobre o dito do apóstolo Paulo foi Jacques Lacan construindo toda uma articulação em torno do núcleo social original, qual seja o familiar. Para Lacan, seguindo as pegadas de Freud, toda relação inicial do bebê (por questões de necessidade e dependência biológica) tinha inicio com a mãe, algo inevitável porque a provedora do leite, do alimento, etc.
A essa relação lógica inevitável Freud irá demarcar toda uma intensa ligação a qual Lacan irá acompanhar.
A lógica levantada por Lacan é que caberia ao pai (sustentado pelo desejo da mãe) o corte a essa relação inicial intensa (espécie de paraíso perdido). E aqui a lógica lacaniana se faz sentir, ao propor como cabendo ao pai o sentido da lei.

Será diante dessa “lei” paterna que todo humano, menino e menina, terá que definir seu caminho: se irá acatar a lei ou a repudiará. Este o drama existencial levantado e defendido pela psicanálise com conseqüências na vida de todo individuo e com repercussões no social.
Obviamente que esse drama individual (ou edipiano como chamou Freud) universal possui desdobramentos e não se dá de uma forma tão linear como apontei aqui resumidamente. A própria postura do pai e da mãe e aquilo que eles viveram e experimentaram em sua infância são levadas em consideração sendo de suma importância. De qualquer forma a idéia aqui foi tocar em um assunto que pode ser útil como forma de reflexão apenas para as nossas vidas seja do ponto de vista individual ou social.

Laurence Bittencourt
19 de junho de 2012

(*) Ilustração: Apóstolo Paulo por Rembrandt (1657)

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