"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 6 de julho de 2012

GABEIRA: "DILMA TEM RELAÇÃO AUTORITÁRIA COM O CONGRESSO"


Era de se esperar que uma mesa intitulada Autoritarismo, Presente e Passado, com mediação do jornalista Zuenir Ventura e a participação do ex-deputado federal Fernando Gabeira e do ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro Luiz Eduardo Soares, fosse mais política que literária. E assim foi. Sem decepcionar expectativas, a mesa de Soares e Gabeira passeou pela história política do Brasil, tratando da tradição autoritária brasileira, que, para o político do PV, chega até o governo atual de Dilma Rousseff.
“A relação da presidente Dilma com o Congresso Nacional é um pouco de distância. Não porque o despreze, mas porque os marqueteiros disseram que era importante afastar a sua imagem da imagem dos congressistas. Hoje, você não vê projetos do governo ou a presidente chamando congressistas para convencê-los de uma ideia. O Congresso passou a ser carimbador e, nesse sentido, a relação é autoritária. Ela não fala com o Congresso nem com os partidos, mas direto com a população a partir de uma técnica marqueteira”, disse Gabeira.
Ainda falando de autoritarismo, Soares e Gabeira apresentaram seus comentários sobre a Comissão da Verdade, instalada pela presidente no início do ano para investigar os crimes ocorridos durante a ditadura militar.
“Não existiu um ritual de passagem na transição da ditadura para a democracia. Saltamos para a reconciliação sem passar pela verdade. Não chamamos crime, assassinato e tortura pelo nome que merecem”, disse Soares. “Eu desejo que o resultado seja objetivo e reúna versões capazes de sustentar a narrativa que estarão nos livros escolares dos nossos netos.”
Gabeira, por outro lado, disse não esperar muito da Comissão. “Chamar o crime de crime não vai mudar o crime real, que eles não querem apurar. Eles não querem apurar a verdade”, disse. Para o ex-deputado, quem está fora da Comissão, a sociedade civil, deve cobrá-la. “A imprensa já avançou enormemente no tempo, com lançamentos de livros. À medida que a sociedade se interessar, chegaremos a uma visão bem clara do que aconteceu e aprenderemos com isso.”
Durante a conversa, que durou cerca de uma hora e meia, os intelectuais ainda comentaram os avanços conquistados no campo social, como o novo papel da mulher em relação ao homem e a questão homossexual, as semelhanças e as diferentes interpretações dadas às ditaduras do Estado Novo e Militar e as heranças da cordialidade brasileira, expressão criada por Sérgio Buarque de Holanda para designar o a sobreposição do privado sobre o público.
06 DE julho de 2012
Raissa Pascoal - Veja

Nenhum comentário:

Postar um comentário