"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A TEORIA DO VALOR-TRABALHO DE OBAMA

    
          Artigos - Movimento Revolucionário 
O marxismo é, sob diversas formas, uma confusão intelectual. Teoricamente, não faz sentido. Na prática, não levou à utopia, mas à distopia.
É importante lembrar que até ideias decrépitas podem ser populares por longos períodos de tempo. Outros dois exemplos clássicos são o malthusianismo e o keynesianismo.

Além de ser irritante e ofensivo, o agora notório discurso “você não construiu isso” do presidente Obama provavelmente deixou muitas pessoas confusas. Essa ideia é tão alheia a como a maior parte dos americanos pensa que eles podem ter ficado imaginando de onde isso saiu.

Pense você ou não que é correto chamar Obama de marxista, sua perspectiva de como a economia funciona é marxista de cabo a rabo. Mais especificamente, é um reflexo do que é comumente chamado de “teoria do valor-trabalho” de Marx.
De acordo com o Dictionary of Economics, essa teoria defende que “o valor de um bem ou serviço é proporcional ao trabalho empregado para produzi-lo”.

Economistas imunes ao feitiço do marxismo consideram a teoria do valor-trabalho uma confusão tremenda. O próprio Marx teve dificuldade em corrigir as lacunas e contradições lógicas dessa teoria. Um problema óbvio é que “trabalho” não é um recurso homogêneo. Assim sendo, não é o único recurso escasso necessário para a produção de praticamente todo bem ou serviço.

A questão de como os preços relativos são determinados ainda é uma questão central em economia. “Teoria dos preços” é o que abarca a maior parte da microeconomia.

Hoje, a conclusão principal sobre o que determina os preços relativos é que eles resultam da interação entre “oferta e demanda”. No contexto da teoria dos preços, oferta e demanda são como gavetas de arquivos onde inúmeros fatores podem ser organizados e analisados.

O preço de qualquer produto é afetado pela quantidade de todos os recursos necessários para produzi-lo – trabalho, energia, terra, informação, tempo, por exemplo. A posição de Marx era que apenas um desses recursos importava, qual seja, o trabalho. Ademais, ele não dedicou nenhuma atenção ao papel da demanda na determinação do preço.

É como se ele tivesse tentado fabricar uma tesoura com uma única lâmina e, de fato, um pedaço bem pequeno. Não creio que seja exagero dizer que nenhum economista, além dos crédulos marxistas, pensa que a teoria do valor-trabalho faz algum sentido ou tem alguma serventia para se compreender como a economia realmente funciona.

Em sua clássica obra sobre a história do pensamento econômico, William Fellner levanta a seguinte questão sobre a teoria do valor-trabalho e oferece uma explicação:
 
Que função a teoria exerce no sistema marxista, e por que os marxistas contemporâneos continuam agarrando-se a ela? A resposta, pensamos, é que uma doutrina simples e genérica da exploração é a essência do marxismo enquanto crença, e que é impossível obter uma doutrina da exploração tão simples e genérica quanto a marxista fora da premissa do “direito do trabalhador ao total da produção”. O Marxismo enquanto crença é fundado sobre a ideia de que todo o lucro haurido pelos donos da riqueza resulta da exploração. O credo marxista necessita da doutrina da exploração como fundamento. (Grifos no original.) – William Fellner, Modern Economic Analysis
Crer na teoria do valor-trabalho é o que explica a hostilidade ao lucro que é tão prevalente na esquerda. Se o trabalho é 100% responsável pela criação do valor, lucro é roubo. O lucro só é possível se o trabalho é explorado e somente se o capitalista obtém o que não é seu de direito. Da mesma forma, propriedade é roubo, assim como diversas formas de capital. Marx é o inventor da palavra “capitalismo”. Seu túrgido magnum opus de três volumes se intitula Das Kapital.

O marxismo é, sob diversas formas, uma confusão intelectual. Teoricamente, não faz sentido. Na prática, não levou à utopia, mas à distopia. Os regimes mais horrendos e repressivos do mundo de hoje – Coreia do Norte, Cuba e Zimbábue, por exemplo – são marxistas na teoria e na prática.

Todavia, a visão marxista de mundo continua popular na esquerda. Os discursos de Obama refletem sua crença profundamente sólida de que os donos de negócios não merecem seu quinhão de renda e riqueza que recebem. Todo valor deve ser dos trabalhadores. Qualquer outro arranjo é resultado da “exploração do homem pelo homem”. De acordo com Marx, isso é o que acontece no capitalismo e continuará a acontecer até que a propriedade privada seja abolida. Somente assim a verdadeira igualdade será alcançada.

É importante lembrar que até ideias decrépitas podem ser populares por longos períodos de tempo. Outros dois exemplos clássicos são o malthusianismo e o keynesianismo. Suas predições e prescrições políticas se provaram equivocadas um sem-número de vezes, mas ainda mantém grande apelo como doutrinas.
O “Ensaio sobre o Princípio da População” de Malthus foi publicado em 1798 e a “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” foi publicado em 1936. A falha do maciço gasto de estímulo dos Democratas deveria ser suficiente para jogar o keynesianismo na lixeira de ideias que soam boas e se revelam desastrosas quando aplicadas ao mundo real.
Marx realmente acreditava que o capitalismo colapsasse poucos anos depois da publicação de “O Manifesto Comunista”, em 1848. “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, de V. I. Lenin, publicado em 1916, foi essencialmente uma tentativa de explicar porque o capitalismo ainda existia. Nessa época, os marxistas esperavam que o capitalismo tivesse acabado há muito tempo.

Um mérito de J. M. Keynes foi sua compreensão do poder da ideologia. No parágrafo final de sua “Teoria Geral”, escreveu: “As ideias dos economistas e dos filósofos políticos, estejam certos ou errados, são mais poderosas do que é comumente compreendido. [...] As autoridades loucas, que ouvem vozes no ar, estão destilando seu frenesi de algum escritor acadêmico de alguns anos atrás.”

O fato de Barack Obama ser ou não marxista depende de como você define marxismo. Quase todo mundo que age como marxista reage abruptamente quando chamado de marxista. Provavelmente há uma centena de marxistas enrustidos para cada um que admite sê-lo. A certidão de nascimento que eu realmente gostaria de ver é aquela que mostra onde a ideologia de Obama nasceu.
Ron Ross, Ph.D., é economista e mora em Arcata, California. É autor do livro The Unbeatable Market.

Publicado na The American Spectator.

16 de agosto de 2012
Tradução: Felipe Melo

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