"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 7 de agosto de 2012

MINISTROS JÁ TRABALHAM NA FORMULAÇÃO DOS VOTOS

 
Magistrados estudaram com antecedência a ação, mas formato final depende das sustentações orais
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) começaram a ouvir ontem a maratona de 38 horas de sustentação oral dos advogados que defendem réus do mensalão, mas enquanto o plenário da Corte cumpre o calendário do julgamento e acompanha os argumentos dos representantes, os ministros já começaram a preparar os votos. Alguns trabalham no texto há pelo menos dois meses, estudando a peça da denúncia do Ministério Público, os memoriais enviados com antecedência pelas defesas e o texto do relator e do revisor, ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente. A participação deve ser encerrada na próxima terça-feira.
Assessorias dos gabinetes de seis dos 11 ministros informaram ao Correio que os magistrados trabalham para adiantar o texto base dos votos, mas se algum dos defensores apresentar uma prova ou argumento que acrescente nova informação aos dados presentes nas 50,6 mil páginas do processo, alterações podem ser feitas. De acordo com o gabinete do ministro Celso de Mello, o magistrado "tem uma estrutura básica pronta", mas está ouvindo com atenção as sustentações orais.
Mergulhado no estudo da Ação Penal 470, o ministro Gilmar Mendes escalou dois analistas do gabinete só para esmiuçar os documentos do processo. De acordo com sua assessoria, Mendes trabalha no texto base do voto desde que a ação penal foi prevista no calendário de 2012 para julgamento. A prévia do voto de Mendes é o ponto de vista do ministro do que está no processo, memoriais da defesa e sustentação oral do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, mas novidades na apresentação dos advogados podem produzir mudanças e inserir seus pontos no texto do magistrado, pontua a assessoria. No gabinete, apenas os funcionários destacados para acompanhar a ação penal do mensalão têm acesso a todo o processo, pois há documentos referentes às quebras de sigilo que fazem parte da investigação, mantidos sob reserva.
Os ministros Lewandowski e Marco Aurélio Mello também trabalham, há meses, no voto do processo do mensalão. De acordo com a assessoria de Lewandowski, ele "já tem tudo preparado", mas alterações de juízo podem ser feitas diante de novas argumentações e apresentação de provas por parte da defesa. O relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, concluiu a elaboração do texto-base de seu voto e agora realiza ajustes a partir da sustentação oral do procurador-geral da República e da participação dos advogados de defesa.
O ministro Luiz Fux também já adianta o texto do voto, mas, segundo a assessoria, vai incluir trechos das sustentações orais dos representantes dos 38 réus do mensalão para fazer acréscimos. A assessoria da ministra Cármen Lúcia informa que a magistrada "ainda não tem o voto pronto", mas está trabalhando há muito tempo nos estudos da ação penal. As sustentações orais servirão para agregar elementos que confirmem ou modifiquem a convicção, informou a assessoria.
Divergências  
No primeiro dia de sustentações orais, cinco advogados dos réus José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério e Ramon Hollerbach apresentaram argumentos e questionaram a denúncia do Ministério Público. Ontem, os advogados que fizeram sustentação oral representaram acusados ligados ao mesmo partido, o PT, e réus do núcleo financeiro que também tinham relação de proximidade.
O procurador regional da República em São Paulo, Pedro Barbosa, pontua que a principal importância da fase de sustentação oral no julgamento são as possíveis divergências entre as defesas, que podem representar elementos de avaliação para os magistrados. O procurador também explica que os advogados mais experientes aproveitam a oportunidade para abordar na sustentação oral temas que ainda são considerados obscuros pelos ministros.
"É muito difícil, quando o juiz tem um voto pronto, mudar o entendimento por meio da sustentação oral, mas no processo da Ação Penal 470, há uma quantidade de documentos imensa. Os advogados podem chamar a atenção para pontos em que os ministros estejam em dúvida. Divergências entre advogados de defesa, um argumenta uma coisa, o outro fala outra, também costumam chamar a atenção dos ministros."
"É muito difícil, quando o juiz tem um voto pronto, mudar o entendimento por meio da sustentação oral, mas Os advogados podem chamar a atenção para pontos em que os ministros estejam em dúvida"
Pedro Barbosa, procurador regional da República em São Paulo
Eliana Calmon elogia STF  
O julgamento da Ação Penal 470 — o mensalão — foi elogiado pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, que ressaltou a organização e o respeito do cronograma determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "O STF está dando um exemplo de organização", disse Eliana ontem. A ministra afirmou ainda que os magistrados do Supremo não serão influenciados pela opinião pública. "O STF não julga por pressão das ruas, mas, naturalmente, há uma influência, diminuta, porque os ministros sabem que o julgamento é para a sociedade brasileira. Eles estão conscientes disso."

Correio Braziliense (DF) - 07/08/2012
JOSIE JERONIMO

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