"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O BOM JUIZ!

 
"Meu Deus do céu". "Sim, o Brasil quer um Judiciário independente. Mas isso é tudo o que ele não tem."
"Meu Deus do céu"

Joaquim Barbosa, ao ouvir a ameaça de Lewandowski de faltar ao julgamento se não puder contraditá-lo.


Erra o juiz que leva em conta a opinião pública?
Por opinião pública entenda-se a opinião geral de uma sociedade.
Da parcela majoritária ou dominante da sociedade que se expressa por meio de pesquisas e dos veículos de comunicação.


Ricardo Lewandowski, ministro revisor do processo do mensalão, votou a favor da absolvição de réus que antes haviam sido condenados pelo ministro relator Joaquim Barbosa.
Alvo de duras críticas, o próprio Lewandowski saiu em defesa do seu voto.
"Já esperava. As críticas, as incompreensões, isso faz parte do nosso trabalho" argumentou. "Mas eu tenho certeza de que o Brasil quer um Judiciário independente, um juiz que não tenha medo de pressões"
E por fim: "Eu acho que o juiz não deve ter medo das críticas porque o juiz vota ou julga com sua consciência e de acordo com as leis. Não pode se pautar pela opinião pública." Quem disse que um juiz não pode se pautar pela opinião pública?Quem disse que o melhor juiz é o que vota em desacordo com ela?

Sem dúvida é mau juiz aquele que se orienta unicamente pela opinião pública.
Mas não é bom o outro que parte do princípio de que a opinião pública deve ser desprezada. Se num processo há elementos de convicção possíveis de justificar um voto para um lado ou para
o outro por que tapar os ouvidos ao clamor popular?

Por que só ouvi-lo quando se trata de crime que choca a sociedade?
Até ser julgado, o casal Nardoni ficou longos meses preso, acusado de ter assassinado Isabella, de cinco anos de idade, jogada do sexto andar do edifício London, em São Paulo, onde passava o fim de semana com o pai e a madastra.
Salvo a indignação produzida por crime tão bárbaro, nada na lei autorizava um período extenso de detenção sem julgamento. Corrupção rima com indignação, mas as duas palavras raramente andam juntas. Corrupção é vista como crime menor e corriqueiro.

A impunidade dos casos de corrupção esteriliza a indignação das pessoas
.

Sim, o Brasil quer um Judiciário independente.
Mas isso é tudo o que ele não tem.
Quem escolhe os ministros do Supremo Tribunal Federal?
O presidente da República. A escolha é referendada pelo Senado, que só reprovou uma desde 1891 — a do médico Barata Ribeiro.

Entre nós, a sabatina mais demorada de um ministro durou sete horas.
Foi a de Dias Toffoli, empregado toda a vida do PT e dos seus principais líderes.
E que agora irá julgar alguns deles.

Dias Toffoli foi reprovado duas vezes em concursos para juiz da primeira
instância .

Falta-lhe "notório conhecimento jurídico." Sobrou-lhe padrinhos.
A história da Corte Suprema dos Estados Unidos registra caso de ministro que levou sete meses para ter seu nome aprovado pelo Senado. Certa vez, o presidente Bush, o pai, quis nomear ministra uma brilhante advogada que trabalhava para ele.
Foi tal a reação contrária de senadores democratas e republicanos que Bush desistiu.

É um truísmo dizer-se que um juiz deve votar "com sua consciência e de acordo com as leis." É de se imaginar que assim procedeu Lewandowski ao absolver o deputado João Paulo Cunha (PT) e o publicitário Marcos Valério. E que assim também procedeu Joaquim Barbosa ao condená-los.
O direito não é objetivo.
É como o Kama Sutra — admite várias posições.
Juiz algum é neutro.
"O fato incontroverso" e "a verdade processual" nem sempre discrepam da opinião pública.O Globo
27 de agosto de 2012

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