"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 4 de agosto de 2012

O RESGATE DO BRASIL COLÔNIA

O engenheiro Alfredo Bondukim, presidente do Sinditêxtil-SP, comenta que, depois de 189 anos de sua independência de Portugal e de uma história de nação soberana permeada de governos de exceção e regimes voláteis, o Brasil desde as “Diretas Já”, em 1984, parece ter consolidado uma firme democracia, que tem resistido às mais duras provas.

Mas assinala que a liberdade política parece não ter afastado de modo definitivo o estigma do colonialismo, pois estamos trocando a antiga subserviência econômica ao fraterno povo lusitano por uma nova dependência da China.

“A exemplo do que fazíamos há mais de dois séculos”, explica o engenheiro, “quando éramos meros fornecedores de riquezas naturais e minerais a Lisboa, recebendo em troca poucos bens de valor agregado, estamos exportando para Pequim produtos essenciais e de alta relevância nesta era da sustentabilidade, como petróleo, ferro e soja, e importando um monte de quinquilharias. E, o que é pior, pagando por elas preços de produtos de alto valor agregado”.

Alfredo Bondukim adverte que, “por conta desse equívoco estratégico em termos de política industrial, a indústria de transformação brasileira fechou 2010 com déficit superior a 70 bilhões de dólares em sua balança comercial, com risco de ultrapassar 90 bilhões ao cabo de 2011.
Desse total, a indústria têxtil e de confecções terá saldo negativo de 5 bilhões. Em meio ao potencial de nossa economia em relação a um mundo tomado por graves crises, parece que não estamos percebendo a corrosão de nossa manufatura e um perigoso avanço para a sino-dependência”.

Graças a uma correta ação de nossa política econômica, temos reservas cambiais superiores a 350 bilhões de dólares e uma situação fiscal equacionada. Portanto, não precisamos, como os Estados Unidos, que os chineses comprem títulos de nossa dívida para garantir o seu adequado serviço.

Assim, não devemos temer qualquer represália caso adotemos medidas mais eficazes de proteção comercial contra uma concorrência muito desigual quanto à qualidade dos produtos, manipulação cambial, respeito às condições sociais e trabalhistas mais dignas, cuidados com o meio ambiente, utilização de insumos saudáveis e práticas civilizadas no tocante às leis de mercado, sustenta Bondukin.

O governo brasileiro argumenta que a China é nosso maior parceiro comercial e principal comprador de nossos produtos, afirma Alfredo . “Por isso, devemos, então, ter muito cuidado para não ferir suas suscetibilidades, pois isso poderia reduzir suas importações, afetando nossa balança comercial.
Ora, tal justificativa não é suficiente para nos resignarmos à dependência, conformando-nos em ser parceiros da África no fornecimento de produtos primários à potência asiática. O ministro Mantega já afirmou que o Brasil somente seria afetado pela crise se a China reduzisse suas encomendas, o que já indica nossa dependência”.

Para o engenheiro, “a indústria brasileira tem feito seu papel, investindo pesadamente nos últimos anos em inovação, modernização e ampliação de capacidades. Somente a indústria têxtil investiu 2 bilhões de dólares em 2010. Temos um parque industrial moderno, pujante e dos maiores do mundo, que garante uma pauta diversificada de exportações”.

Mesmo se nos impusermos no comércio bilateral, os chineses continuarão precisando, e muito, de nossas commodities, alimentos e aço, dentre outros produtos, acrescenta Alfredo Bondukim.

“Devemos, ainda, aproveitar e valorizar a força do ascendente mercado interno nacional. Qual o sentido estratégico para o nosso país de aumentar a exportação de fibras de algodão e, ao mesmo tempo, ampliar o volume de roupas importadas? Ou seja, não temos nenhuma razão para reinstituir o Brasil Colônia”.

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