"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

STF COMEÇA A DECIDIR QUAL SERÁ A FISIONOMIA MORAL DO BRASIL DO SÉCULO 21

Mais que o destino dos 38 réus, o julgamento do processo do mensalão vai decidir qual será a fisionomia moral do Brasil do século 21. Se for indulgente com réus comprovadamente culpados, constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o Supremo Tribunal Federal estará chancelando a institucionalização da corrupção impune. Só haverá esperança de salvação se os ministros deixarem claro que todos são iguais perante a lei „Ÿ e que ninguém é mais igual que os outros. Não há uma terceira opção. Nunca existem mais de duas quando se trata de escolher entre o certo e o errado, a verdade e a mentira.

Os jornalistas que se fantasiam de apóstolos da imparcialidade para criticar o que qualificam de “clima de Fla-Flu” são apenas pusilânimes. Fingem enxergar uma encruzilhada no que é bifurcação. Sete anos depois da descoberta do pântano, a pergunta essencial „Ÿ existem crimes a punir? „Ÿ só comporta duas respostas. Quem vê as coisas como as coisas são afirma que sim. Os muito espertos e os dóceis demais fazem de conta que não. A turma do olhar neutro murmura um talvez.

Quem tateia esse inexistente caminho do meio deve admitir que pode ter ocorrido uma conspiração, concebida para derrubar o governo, de tal forma abrangente que acabou juntando no mesmo balaio golpista partidos de oposição, a imprensa independente, dois chefes da Procuradoria Geral da República, ministros do Supremo, dirigentes do PT (que andaram punindo pecadores sem pecados a purgar) e até o presidente Lula, que fez um pronunciamento em rede nacional para pedir desculpas por nada. Haja cinismo.

Nas próximas semanas, a plateia colossal verá o suficiente para descobrir quem é quem, quem fez o quê, quem merece castigo, quem merece o benefício da dúvida, quem foi alvo de suspeitas impertinentes, o que faz ou pensa cada ministro e para que serve o Supremo. O desfecho da história dirá o que foi exatamente esse programa transmitido ao vivo que monopolizou durante quase dois meses a atenção de milhões de brasileiros.

Também aqui as hipóteses são duas. Na primeira, a nação testemunhará seu reencontro com valores morais hoje em frangalhos. Na segunda, vai assistir ao primeiro Big Brother Brasil da Bandidagem. É um reality show sem heróis que zomba de gente honesta e premia quem tem culpa no cartório.

02 de agosto de 2012
Augusto Nunes
 Veja Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário