"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 23 de setembro de 2012

CELSO RUSSOMANNO: "EU SOU VOCÊ NO PODER"

 

Não há dúvidas de que a capacidade de promover engajamento e mobilização da Igreja Universal é enorme. Mas não pode ser tão maior que o poder de “padrinho” Lula, o ex-presidente-operário com maior exposição na mídia que o país já viu, e seus altíssimos níveis de aprovação.

Da mesma forma, o poder de popularização de um programa diário na TV é imenso. Mas não tão maior que o recall proporcionado por duas campanhas presidenciais como as que José Serra traz na bagagem.
O que explica o sucesso de Celso Russomanno é menos simples, embora constrangedoramente óbvio.
Passa menos pelo poder de capilaridade dos obreiros da igreja e mais, bem mais, por uma construção discursiva que apela ao senso comum. E o faz com tamanha competência que dificilmente poderá haver alguma mudança drástica no quadro eleitoral de São Paulo.
Ao contrário: no segundo turno, com mais tempo de TV, é bem provável que o sucesso deste discurso se consolide de forma irreversível já na primeira semana.
 
Não é difícil perceber como as coisas chegaram a este ponto. Basta se despir da arrogância que costuma pairar sobre os QGs de campanha e lembrar que não há focus melhor do que o ibope da TV aberta. Basta se desfazer dos muitos vícios adquiridos por quem é ou foi governo – os vícios advindos do profundo conhecimento da máquina e seus entraves – e reaprender a arte de fazer promessas.
 
O sucesso de Russomanno pode, sim, ser um pouco humilhante para os experts de plantão. Mas nada tem de misterioso.
 
O que temos no primeiro ato? Russomanno na televisão, em defesa do consumidor. Ali, desde a época do SBT, ele construiu um capital simbólico poderoso porque palatável ao senso comum: o do homem simples que, uma vez que tem em mãos o poder de denúncia de uma câmera de TV, aponta injustiças e erros clamando por solução.
 
As vítimas pertencem, é claro, a camadas populares da população. As soluções são simples: Russomanno não faz nada diferente do que qualquer um de seus telespectadores faria se estivesse em seu lugar. Bate pé, diz que o problema precisa ser resolvido de uma vez por todas e, se preciso, chama a polícia.
 
No segundo ato, temos Russomanno candidato a prefeito, diante de uma câmera de TV, apontando problemas e apresentando soluções. O modelo é o mesmo do ato um. O que Celso Russomanno faz como candidato é exatamente o mesmo que fazia como jornalista. Não houve a necessidade, e nem o risco, de que sua audiência tivesse que se adaptar a um novo Celso Russomanno, investido do papel de prefeito.
 
Neste papel, ele segue fazendo o que qualquer um de seus telespectadores faria se estivesse em seu lugar: apresenta soluções simples, de fácil entendimento, ainda que de execução duvidosa.
 
Enquanto seus adversários se enroscam em explicações complicadas para resolver os muitos problemas de São Paulo – e ficam parecendo, aos olhos do povo, criaturas de má vontade -, Russomanno diz ao homem comum: “eu sou você no poder”.
 
O exemplo mais acabado desta estratégia discursiva é a promessa de aumentar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana para 20 mil homens. Enquanto seus adversários fazem contas para provar a inviabilidade da coisa, o homem comum se regozija com Russomanno porque, finalmente, alguém está prometendo fazer o que ele faria se fosse prefeito: colocar mais polícia na rua.
 
É simples, direto e palatável - como, ao fim e ao cabo, são todas as coisas nascidas do senso comum. É impossível? Pode ser. Mas ganha eleição.
 
23 de setembro de 2012
nariz gelado

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