"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

UMA OPORTUNIDADE DE OURO DE FICAR CALADO

 


O presidente do PT, Ruy Falcão, perdeu uma oportunidade de ouro de ficar com a boca fechada ao atribuir a condenação de seu correligionário João Paulo Cunha (por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro) no julgamento do mensalão a um golpe da oposição “conservadora, suja e reacionária”.

A opinião do dirigente, na segunda-feira passada, é, para dizer o mínimo, estranha. Para começo de conversa, Falcão lança suspeitas sobre os critérios utilizados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente Dilma Rousseff para escolher os magistrados para a mais alta corte do país.

Dos 10 ministros em exercício no Supremo Tribunal Federal, cinco foram nomeados por Lula e 2 por Dilma. Também foi de Lula a indicação de César Pelluzzo, que deixou o Supremo na semana passada. Ainda integram o Supremo magistrados nomeados por outros três ex-presidentes: José Sarney, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.

Ao tentar politizar os votos dos ministros, Falcão contribui para dar um caráter partidário aos delitos, ao invés de individualizar a condenação de um petista que não conseguiu explicar o que o dinheiro de Marcos Valério fazia em sua conta. Os crimes do mensalão, como qualquer outro crime, são cometidos por pessoas, não por instituições.

Há candidatos do PT que fazem campanha sem serem atingidos por um único respingo do lamaçal do mensalão. Simplesmente porque não têm nada a ver com a história.

Fernando Haddad, que disputa a prefeitura de São Paulo, é um. Patrus Ananias, que concorre em Belo Horizonte, outro. Há muitos na mesma categoria.

Imaginar que a ideia de transformar dinheiro de corrupção em caixa dois colaria é uma piada.
Ruy Falcão, no entanto, tratou de incluí-los na lista suja ao prometer uma reação partidária contra o resultado do julgamento: “Não mexam com o PT, porque quando é provocado, o PT cresce e reage”.

A surpresa que algumas pessoas têm demonstrado diante das sentenças do julgamento não faz sentido. A diferença entre o caso do mensalão e outros que foram julgados pela corte é que, desta vez, as provas são claras e a culpa está bem caracterizada por documentos e depoimentos anexados ao processo.

Além disso, a estratégia de defesa traçada por alguns dos acusados desde o início do processo foi, sem dúvida, um insulto à inteligência da sociedade e do Supremo. Imaginar que a ideia de transformar dinheiro de corrupção em caixa dois colaria, aqui entre nós, é uma piada. Nem todos os réus, no entanto, se apoiam na mesma tese.

Os juízes do Supremo têm comprovado que, independente de quem os tenha nomeado, são magistrados. Todas as condenações feitas até agora, foram feitas com base em critérios técnicos.

Se amanhã ou depois, o STF entender que tem algum dos réus do mensalão merece ser absolvido, a decisão tem que ser acatada, ainda que isso contrarie a oposição. Falcão e o PT têm a obrigação de acatar as decisões que desagradem ao partido governista. Sem fazer ameaças.

10 de setembro de 2012
Ricardo Galuppo
Fonte: Brasil Econômico, 05/09/2012

 

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