"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CHAPÉU DE OTÁRIO

 



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Se vivo ainda estivesse, o incrível Joelmir Betting teria alguma frase lapidar para definir esta situação nonsense do mercado aéreo brasileiro — em que uma passagem Brasília-Fortaleza neste fim de ano ultrapassa os R$ 5 mil.

Seguindo-se a lógica do governo e dos empresários, que praticamente culparam o consumidor por deixar tudo para a última hora, valeria esta: "No Brasil, chapéu de otário é marreta", vociferaria ironicamente Betting, com sua voz grave.

É, deveríamos esperar um pouco mais dos executivos do setor — em que apenas uma companhia precisa eliminar um prejuízo de R$ 1 bilhão. Porém, a capacidade de realização não deve ser a competência principal de um empresário, de um dirigente. Nem mesmo a criatividade, o grau de motivação, a intensidade de sua energia e dinamismo.

Empresários, assim como ministros e dirigentes de agências estatais de regulação, têm que ser obrigatoriamente éticos.

Não me parece um comportamento moral exemplar comprar uma empresa concorrente, desmanchá-la e demitir os funcionários. Concordam, amigos leitores? E, sem constrangimento, elevar em 300% (ou deixar isso acontecer) os preços cobrados nos trechos em que a finada companhia operava.

Sério:

em 18 de outubro, um bilhete no voo 5767 (Guarulhos-SP/Santos-Dumont-RJ) era vendido por R$ 183,99 pela Webjet. Quando o site dela saiu do ar, a Gol (agora dona do voo) ofertava a passagem por

R$ 571,90, segundo levantamento de funcionários afastados.

Não me parece nada exemplar, ainda, o comportamento de conselheiros de defesa econômica do Ministério da Justiça e de burocratas da Anac, da Secretaria de Aviação Civil. Tudo bem, entendemos:

o mercado é livre e nem Joaquim Roriz conseguiu revogar a lei da oferta e da procura. Mas cabe ao Estado, sim, evitar abusos.

Algumas das competências mais destacadas da presidente Dilma Rousseff, como energia, autonomia e capacidade para solucionar problemas, estão começando a ser questionadas: afinal, o Estado não é fraco por si só; é fraco se tem governantes fracos, de rabo preso, exageradamente suscetíveis a lobbies, ineptos, relapsos, degenerados, imorais...

Renato Ferraz Correio Braziliense
30 de novembro de 2012

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