"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O ADEUS A JOELMIR BETING

 

Esta semana o pêndulo que oscila entre a vida e a morte, a existência e a eternidade, levou para sempre o grande jornalista Joelmir Beting, cujo talento e a clareza ele deixou como marcas difíceis de esquecer.
Começou no jornalismo impresso, deslocou-se para a televisão, tornando-se mais que um apresentador, um tradutor essencial da matéria e dos fatos econômicos.



Na Globo, antes da entrada na BAND, além de economia, comentou política, pesquisas eleitorais, decifrando suas curvas, acompanhando os acessos e declínios, suas dúvidas e certezas.
Estas, quanto as pesquisas, em número infinitamente maior. Mas entrevistou muito bem os diretores do Ibope e do Gallup, no equívoco de 85, quando apontaram a vitória de Fernando Henrique Cardoso para prefeito de São Paulo e ganhou Jânio Quadros.

Mas fez inúmeras outras sobre o tema. Ficou claro que os acertos são em torno de 1997 ou até 98%, mas não são infalíveis. Mas esta é participação menor numa carreira extremamente brilhante como foi a sua.

No jornalismo, nas telas e nas teclas ele não abrilhantou e iluminou apenas o jornalismo, mas a própria cultura brasileira. Como ele ninguém. Intérprete irônico e elegante de todos os assuntos que comentou, tornou-se um personagem raríssimo no universo da comunicação. Vai fazer muita falta.

Sua ausência para sempre será lembrada toda vez que um assunto econômico mais complexo surja no horizonte do conhecimento público. Faltará ele, com seu estilo, sua fleuma, para abrandá-lo com a exatidão que seu tempo na emissora de João Sayad, ao lado de Ricardo Boechat, lhe proporcionava. Perdeu a opinião pública brasileira, perdemos todos nós.

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UMA MARCA

Se é fato que ninguém é insubstituível, nãomenos verdadeira torna-se a afirmação que será muito difícil encontrar alguém com seu estilo e sua capacidade. Aparecerá. Sem dúvida. Mas a marca Joelmir Beting permanecerá como um emblema e um exemplo. Dignidade, correção, atuação sempre precisa e clara num universo são escorregadios como o mundo econômico e financeiro.

Uma informação imprecisa pode acarretar prejuízos irreparáveis num efeito de horas entre a noite de um dia e o amanhecer de outro. São divagações que faço apenas para ressaltar a importância veloz de um comentário na área econômica. Na política, na administração, no plano social, a correção de algum erro humano pode ser reparado com rapidez sem os reflexos aos quais o universo financeiro encontra-se sujeito.

Daí a importância maior de jornalistas como Joelmir, como Miriam Leitão, Guto Abranches, Sidney Rezende, George Vidor, além da equipe que se revesa no Globo News. Todos excelentes profissionais. Uma corrente de comentaristas que se formou a partir de Joelmir Beting, um mestre que desaparece. Ele se foi com o vento normal desse processo circular que é viver. Sua imagem e seu exemplos ficam. Mas sua imagem também inspirando todos aqueles que começam nessa aventura vibrante que se chama jornalismo.

30 de novembro de 2012
Pedro do Coutto

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