"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 11 de novembro de 2012

MEFISTO

    
          Artigos - Movimento Revolucionário 
zéabreuSe todos roubam, por que o PT não roubaria, repete o filósofo-ator do lixão José de Abreu. Com esse tipo de raciocínio, a impunidade deveria ser regra, porque o PT rouba.

Lembro-me de um filme alemão interessante, que assisti na adolescência, chamado Mefisto, cujo protagonista foi o ator Klaus Maria Brandauer.
É a história de um ator de teatro que adere alegremente ao regime nazista, em troca de favores e da delação de seus amigos. Ou melhor, “vende” sua alma a Hitler.

Um aspecto curioso desta história é que, ao contrário do que se imagina, os atores, aparentemente, desejosos da liberdade, por vezes, adoram sucumbir à tirania. Contanto que seus egos sejam bajulados ou que tenham suas peças de teatro ou filmes financiados pelo governo, o mundo pode se tornar um verdadeiro campo de concentração. Não importa. Os artistas servem ao espetáculo da farsa totalitária.

Eles podem servir a Hitler, como serviram a Stálin e a qualquer outro déspota. Bertolt Brecht não se tornou um teatrólogo financiado pela monstruosa ditadura comunista da Alemanha Oriental? Não apoiou o Grande Terror stalinista? Chico Buarque e demais artistas nacionais não apóiam a ditadura de Fidel Castro?
Por que no Brasil seria diferente? Uma boa parte dos atores que conheço é ávida por dinheiro público.

Ou melhor, é ávida para que o Estado financie seus projetos artísticos, mesmo que sejam medíocres, ainda que isto signifique a perda da independência intelectual. No Pará eu presenciei muitas cretinices desse tipo. Certo escritor da minha cidade, conhecido por “dramaturgo” e autor de peças de teatro, é o retrato cabal dessa anomalia. Em suas manifestações públicas, nunca vi nada que seja contra o status quo vigente.
Pelo contrário, ele é um servo feliz, senhorito arrogante e satisfeito. Qualquer agenda política que o governo dite, ele a estará aderindo, sem qualquer tipo de escrúpulo moral. Penso, cá com meus botões, o que seria dele sem o Estado, que é o maior patrocinador de suas peças.

Quando o Estado não é o seu ganha-pão, este sujeito faz com que boa parte de sua divulgação seja a propaganda de si mesmo. Não existe outro assunto senão ele próprio e suas peças. As peças até perdem o valor perto de seu ego, tornam-se figuras secundárias. 
O protagonista, o personagem principal, por assim dizer, é sempre ele. Tão narcisista, tão tolo, tão vazio em si mesmo é este homem, que acaba comprometendo a arte em favor de sua vaidade. Sacrifica o talento pelos aplausos e dinheiro fáceis. E pior: sacrifica a liberdade artística por tão pouco.

E ele não é o único assim em Belém do Pará. Muitos artistas e escritores são esquerdistas porque é tradição dos socialistas buscar no dinheiro público o financiamento de seus projetos. Não é por acaso que alguns notáveis da dita “literatura paraense” nada mais são do que literatos estatais, bancados pelo contribuinte, ainda que a grande maioria dos paraenses nem os conheça.
E se tivessem que escolher a quem pagar, jamais comprariam e leriam os livros destes autores. Jamais pagariam pelas suas peças. Tal é o estado de coisas aqui nas terras da “Amazônia”.

O problema não é apenas regional, mas nacional. Poderíamos afirmar que é até mundial. Recentemente, o ator global José de Abreu, famoso pelo seu papel na novela da Globo ‘Avenida Brasil’, fez algumas declarações incrivelmente estúpidas, numa entrevista à Folha de São Paulo, no dia 17 de outubro de 2012.

Declarado amigo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos envolvidos no escândalo de corrupção do Mensalão, o outro José, o de Abreu, soltou a seguinte pérola: “O Supremo quer mudar a maneira de fazer política no Brasil. Ótimo, maravilha! Óbvio que tinha que começar com o PT. Então, agora, para ser condenado aqui, basta ser preto, puta, pobre e petista.”

Curiosa explanação. O PT ganhou auras de “pobrismo”. Está equiparado aos pobres, aos pretos e às putas. Resta-nos saber qual preto ou pobre existe no PT, já que Lula, Dirceu, Delúbio, Marcos Valério, Genoino e tutti quanti não são negros e tampouco pobres. Ou melhor, ficaram riquíssimos com suas falcatruas na política brasileira. Entretanto, de uma coisa poderemos concordar: equiparar os petistas a putas foi algo extraordinário. Um ato falho? Talvez. Se bem que há putas bem mais dignas e honestas do que os larápios do PT. “Zé” de Abreu acabou por ofender as putas.


O STF pode ser acusado de só condenar preto, puta e pobre? O juiz Joaquim Barbosa, negro e ex-pobre, até então era a vitrine da “igualdade racial” petista do Supremo. Esse mesmo STF aderiu à agenda das cotas raciais, inoculando a ideologia racista do movimento negro nas instituições políticas brasileiras. Cabe acrescentar que uma boa parte dos juízes do STF foi entronizada pelo PT. Agora eles são malvados, só porque foram obrigados a condenar os seus antigos nomeadores?

O ator soltou outra pérola, que reflete a moralidade petista da atualidade: “Acho que o PT fez o que sempre se fez. É errado? Sim! Mas fez o que sempre se fez”. Durante o governo Lula, o PT pregou que a corrupção era legítima e aceitável, porque outros grupos políticos também roubavam.
Ora, se todos roubam, por que o PT não roubaria, repete o filósofo-ator do lixão José de Abreu. Com esse tipo de raciocínio, a impunidade deveria ser regra, porque o PT rouba. Roubar poderia ser até direito adquirido. Se o PT fez o que sempre se fez, então coloquemos a corrupção como regra constitucional. Que maravilha!

Se os artistas brasileiros possuem espírito de rebanho, ocorre nos Estados Unidos o mesmíssimo fenômeno. Artistas americanos apoiaram em peso a reeleição de Obama. Ainda que o presidente reeleito dos EUA seja a antítese das liberdades americanas, o cúmulo da onipotência estatal, a trupe de saltimbancos ricos e cabeças de vento nutrem o desejo de terem amarras e algemas. 
Não estranhemos: nos EUA, o espírito de rebanho na arte é bem antigo. Não foram artistas como Jane Fonda que defendiam a sanguinária ditadura do Vietnã do Norte, na guerra contra os EUA e o Vietnã do Sul? Não são indivíduos como Robert Redford e Michael Moore que morrem de amores por Fidel Castro?

Confesso que fico perplexo com pessoas tolas que acreditam nos filmes de Michael Moore. Um conhecido meu falava do sistema de saúde americano vendo o filme Sicko. Só faltou defender o SUS como modelo. Também pudera. Quando Moore vende a patacoada das excelências do sistema de saúde cubano ou do falido sistema europeu para criticar os EUA, podemos esperar qualquer asneira. Inclusive, é claro, de seus admiradores...

Todos esses exemplos remetem um papel teatral comum: o de Fausto vendendo a alma a Mefisto. Goethe e Marlowe não poderiam ser tão autênticos. Estes sim eram artistas genuínos. Alguns outros, apenas deformações de personagens por eles criadas, estéreis espectros e caricaturas sombrias do inferno.

11 de novembro de 2012
Leonardo Bruno

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