"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

ANÁLISE ECONÔMICA: SCHIFF vs BERNANKE

   
          Artigos - Economia 
SchiffPeter Schiff nos lembra que a intervenção governamental é o que torna pequenas recessões em grandes recessões. Mais escandaloso que um sistema em que bancos podem falir é um sistema em que os bancos não podem falir.
Nossos líderes são incompetentes porque eles pretendem nos liderar quando na verdade eles deveriam nos deixar em paz. Uma economia livre funciona maravilhosamente. A mão do governo é desastrosa.

Se você não teve o prazer de assistir a resposta de Peter Schiff às conferências de Ben Bernanke, então você deveria dar uma pausa e assistir. Na apresentação de Schiff, ele nos lembra que existem fatos e existem análises; e às vezes as pessoas acreditam em coisas que são contrafactuais, embora na maior parte das vezes isso seja consequência de análises malfeitas. Nas conferências de Bernanke, os fatos históricos foram mal interpretados por conta de uma análise malfeita e é aí que Schiff pega ele.

 
Bernanke alegou que bancos centrais são necessários porque eles promovem a estabilidade. Em sua terceira conferência, Bernanke defendeu os resgates massivos da Bear Stearns e da AIG definindo-os como "difíceis e, em muitos aspectos, desagradáveis..." Segundo ele, isso foi inevitável, pois "precisávamos [...] prevenir um colapso do sistema".
Mais adiante, Bernanke afirmou que a peculiaridade do que foi feito "está ganhando maior aceitação [pois] estabilizou o sistema financeiro no ano de 2008 e no começo de 2009..." Assim, o Presidente do Fed argumentou que a massiva intervenção no sistema financeiro patrocinada pelo governo é essencial em alguns casos.
 
De acordo com Bernanke, os Estados Unidos historicamente passaram por episódios de pânico financeiro antes da criação do Federal Reserve. Por conta dos bancos serem negócios privados, eles poderiam ir à falência. Se os consumidores percebessem que um banco poderia falir, eles entravam em pânico e tentavam sacar suas economias.
 
Sob essas condições, até mesmo um banco solvente pode entrar em colapso; e, sem sombra de dúvidas, muitos negócios prósperos foram afetados pelo pânico. "Esse não é um caso hipotético", disse Bernanke. "Momentos de pânico financeiro nos Estados Unidos foram um grande problema". Bernanke então nomeou seis grandes pânicos financeiros do passado: 1873, 1884, 1890, 1893 e 1907. Mais de 500 bancos faliram no pânico de 1893. Na crise de 1907 os bancos ameaçados eram maiores e o Congresso americano começou a ponderar acerca da criação de um banco central.
 
Bernanke cobre outros pontos de interesse na sua série de conferências, mas sua análise dos episódios de pânico bancário foi a mais marcante. Tendo maior conhecimento de história financeira, Schiff respondeu com a seguinte crítica: "O recorde de estabilidade era melhor antes de existir o Fed. Na verdade, as maiores recessões e as maiores bolhas econômicas aconteceram durante a existência do Federal Reserve..."
Ao afirmar isso, Schiff fez referência à Grande Depressão, que Bernanke afirma ser um estudioso dela.
 
Segundo Schiff, não há como comparar os pânicos bancários e colapsos entre 1873 e 1907 com a Grande Depressão que foi de 1929 até 1939. Se checarmos as cifras das falências bancárias durante a Grande Depressão, veremos que Schiff está certo. Enquanto 500 bancos faliram em 1893, 744 bancos faliram durante 10 meses em 1930. Mas eis aqui a diferença: em 1893 as falências bancárias cessaram porque o governo não interveio, enquanto em 1929 o governo interveio e a crise continuou até que 9 mil bancos foram à falência.
 
Schiff nos lembra que a intervenção governamental é o que torna pequenas recessões em grandes recessões. Mais escandaloso que um sistema em que bancos podem falir é um sistema em que os bancos não podem falir. Evidentemente, nesse sistema de "grande demais para falir", evita-se o problema do pânico; mas só se atinge isso introduzindo um risco moral, privando a pessoa que deposita o dinheiro da responsabilidade de escolher o banco certo. Conforme Schiff explicou, "os clientes dos bancos não se preocupam mais com a solvência dos bancos". E se um banco é grande demais para falir, talvez essa instituição possa vir a se arriscar na certeza de que o governo cobrirá suas perdas.
 
Seja qual for a estabilidade que o FED produza, ela é anulada pelo risco massivo que ele representa para o sistema econômico como um todo, pois sem um banco central você não pode colapsar um sistema econômico inteiro. Além disso, um colapso se torna muito mais possível assim que se abandona o padrão-ouro. Para Schiff, isso acontece pois o sistema de moeda fiduciária "permite que o governo seja fiscalmente irresponsável". Se as taxas de interesse são determinadas pelos planejadores e não por um sistema de moeda corrente baseada no ouro, a taxa de interesse pode tornar-se muito baixa e, desse modo, fomentar maus investimentos que criam um falso boom econômico. Para aumentar a confusão, os políticos de hoje veem o boom econômico como uma coisa boa e a recessão como ruim. Na verdade, o boom econômico é o que prejudica a economia enquanto a recessão é o que cura. Por isso mesmo é que nos termos "estabelecidos" pelos nossos políticos a ignorância os leva a cometer erros seríssimos.
 
De acordo com Schiff, tudo o que Bernanke tinha a dizer era "pura fantasia". As pessoas responsáveis por estruturar a recuperação econômica do país não sabem o que estão fazendo. "A economia está debatendo-se sob o peso de todo esse sistema de centralização bancária do governo" disse Schiff. "A verdadeira crise, o verdadeiro dia de pagar as contas não está no nosso passado, está no nosso futuro".
 
Os fatos históricos são importantes, mas uma análise adequada também é importante. Se tivermos os fatos e não conseguirmos descobrir qual seu correto significado, basearemos nossas políticas em mal-entendidos históricos. Em seu livro Os Intelectuais e a Sociedade, o grande economista e analista social Thomas Sowell escreveu: "Nada se provou que a idéia de uma intervenção governamental na economia ser essencial como na Grande Depressão dos anos 1930". E qual foi o resultado dessas intervenções segundo Sowell? "Muitas coisas que o FED, o Congresso e os dois presidentes fizeram foram contraproducentes. Dadas as múltiplas falhas na política governamental, não está de forma alguma claro que foi a economia de mercado que falhou".
 
Aqueles que não aprendem com a história estão de fato condenados. Nossos líderes são incompetentes porque eles pretendem nos liderar quando na verdade eles deveriam nos deixar em paz. Uma economia livre funciona maravilhosamente. A mão do governo é desastrosa. Como Le Bon uma vez disse, "O historiador que souber qual fraqueza nos causará a ruína e a queda das civilizações que nós defendemos tão impropriamente, não só não nos consolará, como sentenciará que tal destino foi merecido".
 
06 de dezembro de 2012
Jeffrey Nyquist
Publicado no Financial Sense.
Tradução: Leonildo Trombela Júnior

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