"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

NATAL AZUL, ROSTOS AZUIS

    
          Artigos - Cultura 
Em uma época em que tudo vai sendo pintado de vermelho: os livros e uniformes escolares, as ruas, as paradas de ônibus, e até o logotipo da copa, justamente o que era inocentemente vermelho passa a ser azul. Só eu que notei?

Nesta época natalina de 2012, tenho percebido um movimento estético inovador no tocante às decorações natalinas: a substituição do tradicionalíssimo vermelho e verde pelo branco e azul.


Verdade seja dita, desde o ano passado esta moda vem sendo implementada, sendo que aqui em Belém foi inaugurada com a introdução das lâmpadas de LED azuis na decoração das ruas e praças.

Curioso este fenômeno: em uma época em que tudo vai sendo pintado de vermelho: os livros e uniformes escolares, as ruas, as paradas de ônibus, e até o logotipo da copa, justamente o que era inocentemente vermelho passa a ser azul. Só eu que notei?

Coisa de reacionário empedernido? Petrificado, mesmo, fiquei na noite anterior, ao ter comparecido a um famoso restaurante desta cidade, onde haveria de assistir a um "show de Natal", mas que no entanto, testemunhei alguma coisa como os "Filhos de Gandhi", vestidos em turbantes e cantando em uma língua desconhecida (teria sido aramaico, a língua natal de Jesus Cristo? hummm...) o que à primeira vista seria uma versão do Pai Nosso Cristão (segundo a tradução, apresentada em um telão), mas que também daria ensejo a entender que se tratava de uma adaptação New Age, com aquela atmosfera plúmbea cheirando um misto de ONU, Rede Globo, Instituto Cultural Steve Biko, Lula-Dilma, Secretaria Especial da Igualdade Racial, Betinho, Kwanzaa, MST, Santo Daime, Forum Social Mundial, Greenpeace, Mensalão e tudo o mais do gênero.

No meio dos dançarinos, destacava-se um sujeito barbudo, também de turbante, trajado numa indumentária que faria lembrar um aiatolá, e portando nas mãos uma caixinha luminosa que sob o meu entender deveria simbolizar....o quê mesmo? Sei lá...

Ah, e a decoração natalina do estabelecimento? Azul, claro, assim como numa roupa impecavelmente branca com detalhes também azuis apareceu o Papai Noel, que se punha imediatamente a beber uma Coca-Cola sempre quando ao posar com os presentes para as fotos; eu já ia me pondo a perguntar se ele era mesmo o bom velhinho vindo da Finlândia no seu trenó ou um notável pai de santo, mas fui contido ao imaginar a reação dos presentes, afinal, a confraternização não era propriamente para mim.

Azul, ou melhor, "blue", em inglês, designa não somente a cor em si, mas também o estado de desânimo, tristeza ou depressão numa pessoa - claramente uma referência ao frio e aridez da alma. Pois deu pra perceber inequivocamente a estranheza dos espíritos mais puros do lugar - as crianças, cujos semblantes denunciavam-nas como completamente sem lugar em meio àquelas inovações que sugeriam absolutamente nada que fosse com a ternura das brincadeiras de natal, com o aconchego das cores tradicionais e com o júbilo pelo nascimento do Nosso Senhor.

Há quem reclame das festas e costumes que se produzem anualmente, pois, dizem, tornam-se enfadonhamente lugares-comuns. Pois vejo o contrário: parece-me, dia após dia, que as tradições andam se revestindo de caráter mais novidadeiro do que a roda vida das descaracterizações de tudo o que nos tem sido de valioso significado.

12 de dezembro de 2012
Klauber Cristofen Pires

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