"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A LONGA ESPERA PELO ATENDIMENTO MÉDICO PÚBLICO

 

Na edição de sexta-feira, a Folha de São Paulo publicou reportagem de Talita Bedinelli revelando que existem 661 mil pedidos de consultas, exames e cirurgias no sistema de atendimento médico da Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo aguardando atendimento.



Média de espera: 35 meses. Incrível. O novo Secretário, José de Filipi Júnior, acentua a matéria, pensa em realizar um mutirão. Uma iniciativa de emergência, melhor do que nada, mas que não vai ao encontro das raízes do problema.

Mutirão para consulta, ainda é possível, embora a rapidez seja contraproducente. Mas mutirão de cirurgias e de exames? O risco da sobrecarga no setor cirúrgico é enorme. E a cirurgia não termina praticamente com sua realização. Há necessidade de os pacientes serem internados para recuperação. Surge aí o problema dos leitos.
Os números existentes são inferiores à necessidade. Verifica-se assim um outro impasse. Sem falar no volume de medicamentos necessários, no aparelhamento da rede hospitalar, na presença e ação dos médicos e paramédicos.

Os dados sobre o déficit de atendimento cingem-se à capital paulista. Imagine-se a situação em todo o país. No setor de exames, as solicitações acumuladas elevam-se a mais de 72 mil. Ora, os exames são fundamentais, vêm na sequência das consultas e são básicos para a efetivação das cirurgias. Caso contrário, a consulta pode ocorrer, mas o que vem depois dela? Na maioria dos casos os exames de sangue e de urina. Além de todos esses aspectos, é indispensável qualidade e confiabilidade.

VIDA E MORTE

A complexidade é enorme, inclusive o que distingue o atendimento médico, geralmente de urgência, das demais atividades do setor público. O atraso de um mês num processo pode ser compensado. Numa ação de saúde, trinta dias podem ser o limite entre a vida e a morte. O momento do início do tratamento também. Um retardamento pode causar danos enormes à integridade humana.

O Brasil investe pouco na Saúde. No plano federal e nas esferas estaduais e municipais. Investimento não é só o aspecto financeiro, embora este seja o principal no caso. Investimento encontra-se também na organização administrativa, na boa vontade das pessoas para com os que buscam serviços públicos, já que é impossível que possam pagá-los à rede particular.

Existem os planos de saúde, por certo. Mas as reclamações são muitas. Recentemente a Agência Nacional de Saúde desacreditou um número enorme de empresas que anunciam coberturas, mas que não as efetivam, cobrando pelo que não podem fazer, ou então iludindo setores da sociedade. O tema saúde é um desafio a ser enfrentado urgentemente, sobretudo para que o déficit existente não se agrave.

É imperioso que o atendimento às filas existentes seja maior que o surgimento de novos pedidos. Só assim, a vergonhosa situação poderá ser reduzida por etapas, na cidade de São Paulo e nas demais cidades brasileiras. O combate à violência, à imprudência nas ruas e rodovias faz parte do esforço aguardado. Até porque os acidentes de trânsito podem ser evitados. As doenças não. Sempre aconteceram, em maior ou menor escala. Infelizmente.

21 de janewiro de 2013
Pedro do Coutto

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