"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DE JOELHOS PARA O APEDEUTA

 
Depois de Luiz Inácio Lula da Silva submeter Fernando Haddad, o prefeito Coxinha de São Paulo, a uma humilhação, dando-lhe uma aula, e a seus secretários, de governança, chegou a vez de o Apedeuta dizer a Dilma Rousseff como se dança o baião. E ele faz isso hoje, num seminário promovido pelo instituto que leva o seu nome.
 
O Apedeuta comanda um encontro sobre política externa que reúne, entre outros, o ministro da Defesa, Celso Amorim; o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Os intelectuais petistas, este delicioso oximoro, estarão no gargarejo. Há ainda alguns convidados estrangeiros. A grande estrela do evento, e nem poderia ser diferente, é o próprio Lula.
 
É evidente que se trata de mais um despropósito deste senhor. Não por acaso, um dos destaques do encontro deve ser Amorim, que agora está na Defesa, depois de liderar o Itamaraty nos oito anos de governo do Babalorixá de Banânia. Tornou-se um lulista fanático. O antes diplomata de carreira fez-se político e acabou se filiando ao PT. Nas conversas que mantém, também ele gosta de exaltar sua origem humilde. Não para emular com o chefe, que isso não pode!, mas para ser digno…
 
Amorim é o principal responsável por uma das políticas externas mais asquerosas de nossa história. Sob sua gestão, o estado brasileiro evitou condenar na ONU alguns notórios carniceiros, mas votou sistematicamente contra Israel, por exemplo, que é uma democracia — sob ataque cotidiano, destaque-se. Foi sob o seu comando que o governo brasileiro tentou aquele estupefaciente acordo com o Irã, lembram-se?
A coisa foi tão patética que até os iranianos tiveram de vir a público para anunciar que não existia entendimento nos termos alardeados pelo Itamaraty. Não! O Ministério das Relações Exteriores não mudou muito com a saída de Amorim. Em muitos aspectos, até piorou. É que se instituiu por lá uma cultura…
 
Pois bem: agora titular da Defesa, Amorim vai para o seminário para receber algumas instruções do Iluminado. Lula até poderia fazê-lo privadamente, mas isso não deixaria claro, como ele pretende, quem, afinal de contas, está no comando da máquina partidária, que vai tocar a campanha de Dilma à reeleição.
Amorim pode não saber a diferença entre um tanque de guerra e um punho de renda, mas é o ministro da Defesa. Formalmente, é o chefe dos comandantes militares. Isso significa render nada menos do que as Forças Armadas a um líder de facção.
 
Alguém pode imaginar o Secretário de Defesa dos EUA, por exemplo, a participar de um seminário, como aprendiz, de um chefete partidário? Não nos damos conta do absurdo da situação — desta ou do evento ocorrido em São Paulo — porque ele já começa a fazer parte da rotina, já começa a ser um nosso conviva.
 
Não menos intrigante é a presença de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, num encontro dessa natureza. Por quê? Coutinho é o hoje o todo-poderoso de uma instituição que tem sido o esteio do, como chamarei?, “modo de produção petista”. Se a Petrobras já foi a grande caixa-preta do país — não quer dizer que tenha se tornado mais transparente —, o BNDES lhe tomou o lugar.
 
O banco tem sido usado não como fonte de fomento do desenvolvimento, mas como instrumento de gestão. E com o resultado — péssimo! — conhecido. Não é preciso ser muito bidu para constatar que o banco é ambém um instrumento de cooptação daquilo que Lula chamava antigamente “a Dona Zelite”.
 
Conspiração?

Estaria eu aqui a sugerir alguma conspiração entre Lula, Amorim, Coutinho e outros que vão lá babar na gravata? Besteira! A questão é de outra natureza. Trata-se de saber quem governa o país: as instituições ou um ente de razão que se situa acima das leis e à margem do estado. Se o BNDES e, na prática, as Forças Armadas vão lá prestar vassalagem a Lula, quem não vai?
 
A busílis, obviamente, é político e cobra, como tantos outros, uma resposta da oposição — daqueles que falam em seu nome. Mas também isso será deixado de lado, como todo o resto. “Que mal há em participar de uma seminário, afinal de contas?”, vão se indagar alguns. A oposição, como vocês sabem, se prepara para atuar na hora certa, que é… quando mesmo???
 
21 de janeiro de 2013
Reinaldo Azevedo

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