"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

COPA, OLIMPÍADA, ILUSÕES E SUBDESENVOLVIMENTO NO BRASIL DE HOJE

 

A história econômica do Brasil, desde a sua formação, tem sido a história da dependência, do subdesenvolvimento, da infundada euforia e das crises e das falências, sempre penitenciando as classes que se formavam na base.



A concentração de renda nos remete ao ciclo da cana-de-açúcar, primeira atividade produtiva de elevada lucratividade, empreendida pelos portugueses com a sua experiência nas ilhas do Atlântico, em associação com os holandeses por meio do financiamento e da adequada distribuição.

Sua instalação permitiu a ocupação efetiva do território, mas não abriu espaço para um mercado interno, focava-se na mão-de-obra escrava, na grande propriedade voltada à exportação, na importação de insumos e de artigos de luxo e na remessa dos lucros para o exterior, sem viabilizar uma salutar circulação de riquezas.

A crise do próspero sistema produtivo açucareiro, oportunizada pela quebra do monopólio e pela redução drástica do preço no mercado internacional, delineou o caminho do retrocesso. O Brasil passa então a se concentrar na mineração, que viabilizou um débil mercado interno, com expansão da pecuária.

Mas a produção mineral também sofreu sua decadência e amargamos mais uma vez a crise típica do subdesenvolvimento e da cômoda concentração e da ausência de defesa dos interesses locais.

SEM OPÇÕES

Permanecíamos sem opções políticas para a industrialização e desenhávamos os caminhos da dependência econômica. A inferioridade técnica e a acomodação sempre estiveram presentes. Desde então, sucessivas crises e guerras internacionais geraram oportunidades, aproveitadas com relativo sucesso, mas local e limitadamente.

O algodão, o café e a borracha foram seguidamente desperdiçados como oportunidades históricas de desenvolvimento. A própria independência política custou caro e vinculou-se a acordos de privilégios para a Inglaterra.

A industrialização concentrada, limitada, tardia e de tecnologia e propriedade estrangeira (fontes de dependência e subjugação) representou mais uma oportunidade para o riquíssimo, mas assaltado, amarrado e espancado país. As amarras financeiras também funcionaram como armadilhas, bem como a importação excessiva, inclusive ideológica, sem a devida adaptação, desconstruindo as perspectivas de autonomia e defesa dos interesses nacionais.

RODOVIAS

A opção rodoviária, cara e ineficiente, também faz parte desse jogo de enriquecer os outros, traindo a sua própria pátria. O colapso educacional e ausência da saúde educativa (preventiva) também são ferramentas para o enfraquecimento e derrota da pluripotente nação, condenada à condição de colônia dos novos tempos.

Por intermédio de uma integração inspirada nos textos de Celso Furtado, podemos inferir que o momento atual repete mais uma vez a um ciclo de oportunidades externas, com preços elevados para as exportações, mas com a economia sujeita à extrema cobiça internacional e à frouxidão corrupta, com graves problemas de infraestrutura, bolhas de crédito e juros ainda exorbitantes para um mercado interno louvável, mas ainda bastante limitado.

A venda de ilusões para os incautos, com a Copa do Mundo e a Olimpíada, em meio à incompetência gerencial, sobrecarga tributária, desperdício estatal, falta de planejamento e crescimento das importações por manutenção da dependência tecnológica – enfim, prepara-se para o próximo período de crise internacional, e o maior preço sempre foi e será pago pelas populações mais pobres dos países fraudulentamente subdesenvolvidos.

21 de janeiro de 2013
Pedro Ricardo Maximino

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