"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 16 de março de 2013

PERGUNTE AO PAUL


          Internacional - Estados Unidos 
       
“Se for bonzinho com elas, elas montam em você.”
A frase é do barman Sammy, em carta ao escritor protagonista Arturo Bandini, no romance “Pergunte ao pó”, de John Fante, que marcou minha juventude.

Na opinião de Sammy, Bandini não tinha o mesmo sucesso que ele com a garçonete Camilla Lopez, porque não sabia lidar com mulheres mexicanas. Elas “não gostam de ser tratadas como seres humanos”, explicava o barman (que hoje seria acusado de machismo, racismo, xenofobia, preconceito e tudo mais, sendo o autor excluído de toda e qualquer bibliografia acadêmica, caso nela estivesse).

Muitos anos se passaram desde que li Fante pela primeira vez, mas, se tem uma coisa que os homens do mundo nunca me deixam esquecer, é a falta que uma Camilla Lopez faz em sua educação sentimental e política.

Amar uma “mulher mexicana” é um ótimo aprendizado, sobretudo se você tem um Sammy por perto (ou uma boa terapeuta, ok?) para tirar da experiência as devidas lições.

Não sei se o senador Rand Paul teve, mas louvada seja sua luta de um mês e meio, com direito a um discurso de mais de 12 horas, para arrancar do governo Obama um simples “não” à pergunta:

“O presidente pode usar aviões não tripulados para matar cidadãos americanos não envolvidos em combate, em pleno território dos EUA, como usa contra terroristas fora do país (matando inclusive o filho de 16 anos de um deles, para silêncio da imprensa obamista)?”

Por mais de uma semana, o procurador-geral Eric Holder alegara apenas que o governo não tinha a "intenção" de fazer isto, sugerindo que poderia fazê-lo se eventualmente lhe desse na telha. Só quando a pressão ganhou o noticiário e o apoio da população, Holder respondeu negativa, taxativa e oficialmente à “pergunta adicional” de Paul.

(Não repare: quando um esquerdista se refere a uma “pergunta adicional”, significa que você já está lhe fazendo esta mesma pergunta há 1 mês e meio.)

Se Paul não a tivesse feito, impondo-se sozinho a contragosto de republicanos “bonzinhos” como John McCain, o governo que se diz transparente teria legal e literalmente em mãos, por controle remoto, a possibilidade de mandar pelos ares qualquer cidadão – sentado num café de rua, para usar o exemplo de Paul - que o próprio governo considerasse apenas “suspeito” de terrorismo.

“Ah, mas é ridículo achar que eles fariam isso!”, dizem uns e outros, seja por ingenuidade incurável, ignorância histórica, cegueira ideológica ou má-fé partidária. Ora. Proteger a população contra abusos futuros, por mais hipotéticos que sejam, exigindo esclarecimentos sobre declarações e decretos vagos ou suspeitos, é uma obrigação básica de qualquer político de oposição.

Que tenha surgido um (hum) dessa espécie no quinto ano do governo Obama é uma prova de que os EUA ainda precisam piorar muito para chegar ao nível de testosterona do Brasil, onde nunca se viu tal coisa nos 10 anos petistas.

Hoje, depois de 40 anos de hegemonia cultural da esquerda, a presidente Dilma Rousseff pode falar que “Nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição” que nenhum político a azucrina; os parlamentares do PT podem derrubar o requerimento para Marcos Valério falar no Senado sobre a ligação de Lula com o mensalão que nenhum político faz um discurso de 12 horas a respeito; Lula pode chamar de “assunto pessoal” o fornecimento de todas as regalias públicas à sua “amiga íntima” Rosemary Noronha e de “questão privada” os milhões que a Telemar (hoje Oi) investiu na empresa de seu filho que nenhum político lhe arranca explicações; o Mapa da Violência pode mostrar um país com 36.792 homicídios em 2010 só por arma de fogo (lembrando que apenas 5% do total geral é elucidado) que nenhum político vai à TV, a não ser para falar em desarmamento; o prefeito de Santo André pode inaugurar uma fila de 8 cadáveres relacionados ao mesmo caso que nenhum político consegue abalar a reputação dos nossos governantes (e nem lhes oferecer, por ironia, um aviãozinho não tripulado, caso um dia eles ou os companheiros das FARC julguem mais prático o uso do controle remoto).

É por essas e outras que o debate público americano é muito mais divertido. Lá, ainda há no rádio, na TV a cabo e no Senado algumas pessoas conscientes de que os revolucionários são como as mulheres mexicanas de Fante:
“Se for bonzinho com eles, eles montam em você.”
Pergunte ao Paul.

16 de março de 2013
Felipe Moura Brasil

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