"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 5 de março de 2013

QUESTÃO DE TEMPO

 

Quando deixou a presidência da Câmara dos Deputados, em 2002, para se lançar ao governo do Estado e, em seguida, ser eleito governador – ainda em primeiro turno, com quase 70% dos votos válidos -, não havia dúvida: a chegada de Aécio Neves à Presidência da República era uma questão de tempo.

Neto e herdeiro político de Tancredo Neves, o mineiro ainda trazia consigo a juventude, a fama de bom articulador político, como o avô, e um estilo de vida simpático à opinião pública – meio político, meio celebridade.

Em 2006, como se esperava, após quatro anos como governador, com ações projetadas por um forte marketing, Aécio chegou em condições de ser o candidato do PSDB ao Planalto.
À época, havia dois problemas a serem superados: derrotar Lula, um fenômeno político sem precedentes na história recente do Brasil, e conseguir desmontar o feudo paulista dentro do próprio partido.

O mineiro sucumbiu a essa última batalha, “cedendo” a vez para o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Provavelmente, Aécio perderia a primeira disputa também, como ocorreu com o tucano paulista.
No entanto, na avaliação de muita gente do meio político, caso forçasse a situação naquele momento e conseguisse a indicação, mesmo derrotado, Aécio já teria em seu currículo uma campanha presidencial com a projeção de seu nome país afora, uma carência ainda hoje sentida pelo senador mineiro.

Em 2010, os personagens mudaram, mas a história se repetiu. Ao fim de mais quatro anos como governador, tendo como portfólio a inauguração da Cidade Administrativa, uma “mini-Brasília” em Minas Gerais, orçada em mais de R$ 500 milhões, Aécio tentou novamente consolidar seu nome como presidenciável do PSDB. O cenário era animador. Sem Lula, a aposta do PT era Dilma Rousseff, até então, uma ministra linha-dura sem nenhum traquejo político.

Novamente, o cavalo passou arriado diante do tucano. Serra, com a retaguarda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, impôs sua candidatura, e Aécio, em nome da unidade partidária, tirou seu time de campo e assistiu, com certo deleite, ao segundo naufrágio (2002 e 2010) – e, talvez, o derradeiro – do ex-governador paulista.

Mais de dez anos depois da primeira eleição para um cargo no Executivo, parece ter chegado, finalmente, a hora de Aécio. Com o grupo de Serra sem força política e com o PSDB paulista desgastado por três derrotas consecutivas na corrida presidencial, o campo ficou aberto pela primeira vez para o ex-governador de Minas Gerais. Mas há uma enorme interrogação pairando sobre se Aécio está pronto para a disputa. O tempo roubou a jovialidade da imagem e do discurso do mineiro.

E não há cirurgia plástica – o senador se submeteu, recentemente, a duas intervenções no rosto – para remediar tal problema. Em uma década, o PSDB e Aécio – este, mais calvo e menos eloquente – ainda não encontraram o espaço para a oposição, ficaram isolados e sem articulação

05 de março de 2013
Murilo Rocha (O Tempo)

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