"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 4 de maio de 2013

DAVID HUME. ALGUMAS ANOTAÇÕES BIOGRÁFICAS

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Embora mais conhecido por suas posições sobre filosofia, história e política, o filósofo escocês David Hume também fez várias contribuições essenciais para o pensamento econômico.
Seu argumento empírico contra o mercantilismo britânico é uma das bases da economia clássica. Seus ensaios sobre a moeda e o comércio internacional, publicados nos Ensaios políticos, influenciaram fortemente seu amigo e compatriota Adam Smith.
 
Os mercantilistas britânicos acreditavam que a prosperidade econômica poderia ser alcançada pela limitação das importações e pelo incentivo às exportações, visando aumentar a quantidade de ouro acumulada no país. As colônias americanas facilitavam essa política ao fornecer matéria-prima, que a Grã-Bretanha então manufaturava em produtos finais e reexportava para os mercados consumidores na América. Como se sabe, essa relação entre a metrópole e a colônia durou pouco.

Mas, mesmo antes de a Revolução Americana intervir nos interesses mercantilistas, David Hume mostrou por que a exportação líquida por ouro, que a Grã-Bretanha aferrolhava, não poderia aumentar a riqueza.
O argumento de Hume era, essencialmente, a teoria quantitativa da moeda dos monetaristas: em um país, os preços variam de acordo com as mudanças na oferta de moeda. Hume explicou seu ponto de vista dizendo que, conforme as exportações líquidas aumentassem e mais ouro entrasse no país para pagar por elas, os preços dos bens aumentariam. Portanto, um aumento na entrada de ouro na Inglaterra não necessariamente aumentaria substancialmente sua riqueza.

Hume mostrou que o aumento nos preços domésticos devido à saída do ouro desencorajaria as exportações e encorajaria as importações, limitando automaticamente, portanto, o montante em que aquelas excedem estas.
Esse mecanismo de ajustes é chamado de mecanismo de fluxo preço-espécie. Surpreendentemente, ainda que a ideia de Hume pudesse ter amparado o ataque de Adam Smith ao mercantilismo e seu argumento a favor do livre comércio, Smith a ignorou.
Embora poucos economistas aceitem literalmente a visão de Hume, ela é, ainda, a base de muitas reflexões sobre questões relacionadas à balança de pagamentos.

Considerando a sólida compreensão de Hume da dinâmica monetária, seus equívocos sobre o comportamento da moeda são ainda mais notáveis. Hume, erroneamente, defendeu a noção de “inflação rastejante” (creepy inflation no original): a ideia de que um aumento gradual na oferta de dinheiro levaria ao crescimento econômico.

Hume fez mais duas contribuições duradouras para a ciência econômica. Uma é sua ideia, mais tarde desenvolvida por Friedrich Hayek no livro O caminho para a servidão, de que a liberdade econômica é condição necessária para a liberdade política.
A segunda é a afirmação de que “não se pode deduzir o que deve ser do que é” – isto é, julgamentos de valor não podem ser baseados puramente nos fatos. Os economistas hoje apontam essa mesma diferença com a distinção entre o normativo (o que deve ser) e o positivo (o que é).

Hume morreu no ano em que A riqueza das nações foi publicado, e na presença de seu autor, Adam Smith.

04 de maio de 2013

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