"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 17 de junho de 2013

EMBOTAMENTO E DESCRENÇA

 

Ando meio embotado e não sei por quê. Afinal, meu esporte predileto é bater e “nunca antes na história deste país” houve tanta gente merecendo apanhar.
 
Até me veio à cabeça a luta entre George Foreman e Cassius Clay (recuso-me a chamá-lo com seu nome islâmico) pelo título mundial dos pesados em 1974 em Kinshasa, no então Zaire, quando Foreman, até então campeão, bateu sem piedade em Clay durante sete rounds para depois cair no oitavo e não levantar mais.
 
Eu não pretendo cair como Foreman, definitivamente, mas confesso que ando cansado de bater. Enjoado de mim mesmo. É sempre a mesma coisa, a mesma gentinha, os mesmos ratos imunes a qualquer veneno que foram parar no poder por obra e graça de um povo sem vergonha, sem educação e sem fibra, de uma elite (olha eu falando dela!) empresarial que não está nem aí para o país, que enquanto der dinheiro a eles nada mais importa, e de uma “intelectualidade” que só nos faz rir e lamentar pelas suas posições políticas - Emir Sader e Marilena Chauí, o casal 20 do “pensamento” petralha, são uma comédia.
 
Aliás, sobre essa “intelectualidade” eu vou esticar um pouco. Existem “intelectuais” que hoje posam de coerentes, que, por serem grandes formadores de opinião, foram também os responsáveis por esse lastimável estado de coisas que hoje se encontra o Brasil quando estavam do outro lado. Cito alguns: Gullar, Jabor, Gabeira, Ubaldo, Bicudo e o próprio FHC. É preciso lembrar que estes, que hoje são grandes críticos do PT e seus quadrilheiros, já foram durante muito tempo seus fieis incentivadores. Incluo FHC porque além dele ter sido durante um tempo pré-PT uma espécie de mentor de Lula, nada fez para que o apedeuta não o sucedesse, muito pelo contrário: em plena campanha presidencial de 2002 ele foi à França - então grande parceira comercial do Brasil - tranquilizar Jacques Chirac sobre a possibilidade de o PT assumir o poder.
 
Em tempo: destes citados, o único que fez um mea culpa foi Gabeira. Os outros são incapazes de reconhecer que apoiaram a tentativa de troca de uma ditadura militar por uma comunista.
 
Eu até concordo que muita coerência seja sinal de teimosia, que mudar de opinião não é vergonha e depende das circunstâncias, mas o que me incomoda é uma coisa que até hoje não consegui entender: por que estes e outros apostaram em um analfabeto rodeado de notórios terroristas, assaltantes, sequestradores e assassinos quando tinham a opção de continuar com Serra um governo que foi exitoso em quase todos os setores? Deu pane de crânio em todo mundo? Foram vencidos pelo marketing do retirante nordestino? Realmente acreditavam que Lula seria melhor do que Serra e FHC - que forçosamente continuaria como eminência parda? Achavam que um homem que não sabe o que é direita ou esquerda, a não ser quando olha o relógio que “dona” Marisa lhe coloca diariamente no pulso esquerdo, iria seguir um modelo socialista europeu?
 
Pois é. Faltam explicações lógicas, mas quem sou eu para cobrá-las de tão incensados gurus do pensamento da classe média, cujos artigos a gente recebe aos montes por e-mails de amigos?
 
Como eu disse no início, ando meio embotado. E cada vez mais descrente.
 
17 de junho de 2013

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