"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 17 de junho de 2013

PROTESTOS EM SÃO PAULO E AS JANELAS QUEBRADAS: NEHUMA PREOCUPAÇÃO COM A TARIFA DO ÔNIBUS

Sob um discurso de "manifestação pacífica" que só por acidente se desvirtua em vandalismo, os protestos escondem uma lógica que nada tem a ver com a tarifa.

 
protesto paulista 9 507x338 Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
“Se você acha que o transporte coletivo é caro hoje,espere até você ver o que custará quando for grátis.”
— Roberto Chiocca
  
Os protestos em São Paulo parecem apenas mais um na rotina de protestos interditando a Avenida Paulista. Como já é consabido, manifestantes ocuparam a avenida contra o aumento das passagens de ônibus, de R$ 3,00 para R$ 3,20. Colocadas na perspectiva correta, as coisas tomam outra grandeza.
 
Barricadas foram armadas, ônibus foram incendiados (tentou-se até invadir a garagem de uma companhia no parque D. Pedro), a principal avenida do hemisfério teve todas as pistas fechadas, estações de metrô foram destruídas, lixeiras pegaram fogo, palavras de ordem e discursos de políticos foram proferidos, símbolos revolucionários foram pichados e bandeiras de partidos políticos comunistas pregando marxismo desabridamente foram vistas por todos os lados comandando a revolta.
 
Fazendo as contas, o aumento de R$ 0,20 (meia pra estudante) dá R$ 146 por ano (ida e volta), R$ 73 pra estudante. Quanto gastaram no protesto hoje? A conta simplesmente não bate. Incrivelmente, absolutamente nenhum jornalista até agora parece ter feito a mesma conta e concluído o inescapável: este protesto nada tem a ver com o preço da passagem.
 
Sob um discurso que conquista até os jornalistas que estão narrando a própria violência (como o aumento da passagem), propaganda partidária do PSOL, PSTU, PCO, UNE (comandada pelo PCdoB) e afins grassaram a olhos vistos.
 
Quando atos de violência destróem o patrimônio da população, reivindicando algo que custa muito menos do que o próprio protesto, cabe sempre fazer três perguntas, que nos dão o prisma completo da situação: quem quebra? Quem paga? E, se quem quebra e quem paga são pessoas distintas, quem sai ganhando com isso?

Quem quebra

Existe uma famosa teoria de criminologia chamada Teoria das Janelas Quebradas. Basicamente, ela diz que se um edifício tem janelas quebradas por vândalos, a tendência é que outros vândalos quebrem mais janelas.
A lição óbvia é para consertar os problemas enquanto são pequenos para evitar vandalismo. A lição óbvia, mas nem sempre lembrada, é que um crime que cause algum resultado (nem que seja chocar a sociedade) é imediatamente repetido (vide os casos recentes de pessoas queimadas por não terem tanto dinheiro quanto os ladrões queriam – três apenas nos últimos 2 meses).
 
facebook lança Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
 
Os comentários deixados no ar basicamente se resumem a uma cantilena repetida ad nauseam: “Sou a favor de protestarem, mas não pode haver vandalismo”. 
Os organizadores destes protestos não são ingênuos a este ponto: sabem muito bem que a pancadaria vai acontecer – do contrário, seu lema não seria “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar”. Não é claro o suficiente? Dêem o que eles querem, ou as pessoas da cidade, inocentes, trabalhadores, terão a vida infernizada.
 
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Isto é uma forma de reivindicação chamada terrorismo. A tática do medo generalizado, da destruição em massa, do pânico social. É o mesmo que o “flanelinha” que cobra para que o seu carro, estacionado na rua, não seja destruído, mas feita em grandes proporções, a ponto de virar notícia. Era o que Lenin chamava de “propaganda armada”.
 
O governante, diante de atos de terrorismo, pode aceitar o delicado pedido ou reprimir manifestantes espalhados, que não são um exército uniforme longe de civis inocentes como numa guerra. Qualquer atitude que tome, os terroristas saem ganhando e posando de heróis sociais e vítimas da truculência obscurantista, quando eles causaram a violência.
 
É a já comentada “agressão mínima”, como bem definida pelo professor de filosofia da USP João Virgílio. Cria-se uma situação de incômodo máximo, de impedimento completo da normalidade, que só pode acabar com alguma reação com alguma violência. Imediatamente passa-se a criticar a agressão de revide, posando-se então de vítima.
 
Como foi com o surpreendente caso do PM que quase foi linchado pelos terroristas (vídeo impressionante, vejam). Enquanto isso, conforme relato da Folha, outro vândalo “desferiu cinco ‘voadoras’ até conseguir quebrar um dos vidros da entrada da estação Trianon do metrô. Após destruir o vidro, sacou seu iPhone e registrou o feito.”
 
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Essa violência, como janelas quebradas (nesse caso, não em sentido figurado), tende a ser repetida, cada vez com força maior. Quando se tem um projeto de poder abertamente comunista (é a tal “Juventude Marxista” que está lá, fazendo propaganda dos partidos políticos PSOL, PSTU, PCO, da UNE controlada pelo PCdoB e apaniguados), não se pode pregar simplesmente uma Revolução violenta.
 
Toda a população tem horror ao que essa gente defende (e não costumam ter 1% dos votos). Todavia, a cada motivo encontrável para fomentar uma revolta, mesmo um motivo cuja conta não feche como os centavinhos do ônibus, estarão lá os partidos fazendo propaganda, aprendendo com Gramsci a comer o poder pelas bordas e se meter nas frinchas do Estado aos poucos, ao invés do papo de armas e casernas de Lenin.
 
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Não é à toa, portanto, que os organizadores desses protestos sejam os mesmos que usam de uma retórica de relativismo moral absoluto quando crimes acontecem. Porque o objetivo final dessas manifestações não é outro senão minar o poder constituído (a chamada “lei burguesa”) e a cultura de certo e errado que o sustenta.
 
protesto pstu incêndio Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
 
Quando dentistas e motoristas são queimados vivos por não terem muito dinheiro quando são assaltados, estes formadores de opinião acabam por retirar a culpa dos bandidos de maneira cuidadosa, pelo choque que aquilo causa à população (como o blogueiro do UOL Leonardo Sakamoto dizendo que é uma fatalidade, que quem fez isso deve pagar pelo que fez, mas apenas criticando a sociedade e terminando paradoxalmente afirmando que não acredita que exista culpa).
 
Entretanto, este é um crime individual, que exige muito sangue frio, e apenas posteriormente se tem uma multidão de formadores de opinião aliviadores e a portadecadeiosfera para defendê-los de maneira não muito direta.
 
Contudo, isso gera uma sensação de liberação da violência. Vide quantos vândalos, com muitos hormônios e pouca responsabilidade, se jactam dos atos que cometeram até no Facebook?
Ninguém (ainda) tem coragem de dizer “queimei um dentista hoje!”, mas encontramos no Facebook quem diga “queimamos 2 ônibus hoje!”, com comentários reclamando de terem tirado as pessoas do ônibus antes. Que tal lembrar que essa é apenas uma forma retórica bonita para não dizer “queimamos vários inocentes de uma vez hoje”?
 
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Estes partidos políticos estão pouco se lixando para o preço da tarifa. Se assim o fosse, a UNE, controlada pelo PCdoB, não precisaria estar nas ruas com… bandeiras da UNE e UJS (igualmente do PCdoB). Poderia apenas mandar um e-mail para a vice-prefeita, por sinal prefeita em exercício enquanto Fernando Haddad está em Paris, que é do próprio PCdoB, e pedir pra conversar. Eles não querem conversar. Eles querem desgastar o governo e fazer propaganda partidária e comunista.
 
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Fazendo seus forrobodós apenas quando há uma causa inatacável por trás (como preços altos, que ninguém, afinal, quer pagar), até mesmo as pessoas mais contrárias à violência e à concentração de poder através de violência caem na esparrela do discurso bonzinho, e separam a organização de um protesto da violência que esse próprio protesto gera, protegendo a causa alardeada – ou seja, acreditando em propaganda partidária, tão somente porque ela é feita no meio da rua, e não no horário eleitoral.
 
Não importa que slogans, palavras de ordem, discursos revolucionários de candidatos por partidos sejam proferidos, ou que símbolos, faixas e bandeiras comunistas sejam hasteados e apareçam até no Jornal Nacional, na cara de todo mundo: enquanto ainda falam em “manifestantes” neutros, aparentemente ninguém percebe que o objetivo da manifestação, afinal, não tem a mais remota conexão com o preço da tarifa de ônibus.
 
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Como bem definiu Janer Cristaldo, o protesto, “na verdade, só beneficia o atual prefeito. Haddad apela a Dona Dilma – como já apelou – e, se esta se digna a soltar algum lastro, ele se transforma no prefeito que foi sensível aos apelos populares”.
 
Mais uma vez, os ideólogos que sabem fazer controle social como quem joga Sim City saem ganhando de um jeito ou de outro. Não há “sonhos” românticos nem utopias: há vandalismo e inconseqüência.
 
Os organizadores, até um “estudante” de 19 anos, não ganharam as primeiras páginas dos jornais, não deram suas primeiras entrevistas para a imprensa na vida? Acham que isso não teve mais impacto na vida deles do que 20 centavos a menos por dia, aproximadamente 25 vezes menos do que dão para um trombadinha não riscar o carro do papai na balada do fim de semana?
 
protesto corpo Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
 
Se fosse possível desvincular o protesto da violência, não veríamos Leonardo Sakamoto reclamando de alguém sugerir um protesto onde não haveria quebra-quebra e não se atrapalharia a população, como o Parque do Ibirapuera (e por que atrapalhar a população inocente, senão com o objetivo de ter quebra-quebra?). Nem veríamos, nas páginas dos organizadores da baladinha, até uma enquete discutindo se é para ter vandalismo ou não (!!!).
 
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Quem paga

Outro teórico que também tem uma teoria sobre janelas quebras é o grande economia Frédéric Bastiat. Em seu livro O que se vê, o que não se vê, Bastiat explica sua teoria de economia justamente com uma vidraça quebrada.
 
Teorias com aparentes excelentes intenções como a social-democracia costumam querer criar empregos artificiais, como compilados na famosa idéia de Maynard Keynes: é preciso pagar para algumas pessoas cavarem buracos e outras para tapá-los.
Curiosamente, costuma-se pensar que a social-democracia enriquece os pobres ao invés de mantê-los sem oportunidades, mas ninguém pergunta por que essa teoria mantém os trabalhadores geradores de riqueza pagando para manter operários e, por que não, até quem limpa banheiros em suas pobres funções.

Bastiat mostrou o erro, através da superstição comum de seu tempo (de que uma vidraça quebrada gera riqueza, porque garante o trabalho do vidraceiro). O que uma pessoa gasta com o novo vidro, afinal, ela gastaria com outra coisa, se a janela não tivesse sido quebrada. Assim, se vê uma relação econômica (a compra de um novo vidro) e não se vê outra (a compra que poderia ter sido feita).
 
Ora, o tal “Movimento Passe Livre”, que organiza a patifaria, tem a idéia francamente panaca de haver “condução de graça”, idéia que nem o mais radical dos regimes comunistas tentou pôr em prática. O preço da tarifa é calculado através do preço pago pelo usuário, mais subsídios. O subsídios são “concedidos” pelo Estado, com o dinheiro que arranca da população (não é da carteira do Haddad que sai).
 
Diminuir o preço da passagem é aumentar os subsídios – ou seja, fazer a população pagar de todo jeito, mas sem saber quanto está pagando. Pior: para o Estado e sua estrutura fechada, cheia de corrupção.
 
O que é mais sensato, senão diminuir subsídios, que acabam financiando empresas cupinchas da prefeitura, com um cartel livre de concorrência – o que impede que outras empresas entrem no mercado com serviço mais barato e mais eficiente, mas não podem por causa do monopólio do Estado?
 
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Então privatiza essa porcaria, fia!
Escondendo a conta de quem paga a cota, é possível realizar outro truque que as pessoas de esquerda cometem sem perceber: a inversão radical de sujeito e objeto da ação humana.
Como fazem no caso de um assalto frio (a culpa é da vítima, porque ela “ostentou”), assim também podem inverter direitos: pedem por bens públicos destruindo patrimônio público, pedem direito de ir e vir atrapalhando o direito de ir e vir das pessoas e até mesmo consideram que o tal direito significa que toda a população tem obrigação de lhes pagar sua passagem.
 
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Fica-se a dúvida: para passagem grátis São Paulo-NY, temos de quebrar o quê? Afinal, de celulares até uma carona, o que é fomentado é uma cultura de hedonismo, em que a distância entre o desejo e a conquista do objeto desejado deve ser encurtada à força, e às custas alheias.
Assim, a vontade de gratuidade e a lei do menor esforço (até para descobrir quem paga a conta) de jovens pouco inteligentes se torna poderoso instrumento de achincalhe político. Obviamente que eles próprios contarão a história.
 
Óbvio, pedem alguns centavinhos a menos sob slogans batidos, e causam prejuízos astronômicos. Destróem bancas de jornais, portas de lojas, causam engarrafamentos (poluição e gasolina queimada), além do rastro de destruição com pichações de símbolos comunistas para todos os lados.
Destróem o que deixarão para o povo pagar, dizendo que lutam pelo povo – para se ter uma idéia, cada barril que incendiaram em uma animada algazarra, sob bandeiras tremelicando o número de suas legendas, custa mais de R$ 700.
Os cones saem pela bagatela de R$ 112, o que pagaria mais de um ano e meio de passagem para um estudante.
Enquanto isso, fazem tranqüilamente propaganda partidária no meio do caos que criaram, sabidos de que ninguém investigará se estão infringindo o art. 243 do Código Eleitoral. PCdoB, PSOL, PSTU, PCO e congêneres podem dormir tranqüilos depois da divertidíssima festinha dessa semana.
 
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Quem ganha

Claro que as dezenas de milhares de pessoas que vão à manifestação não têm um mínimo lampejo do que está acontecendo. Se consideram no máximo de sua “consciência política” por não querer pagar a mais pelo ônibus (este óbvio que um neném já tem consciência). Apenas são massa de manobra útil a quem organiza as pessoas, os ânimos e os confrontos.
 
Os partidos, demonstrando um desprezo monumental pelo preço da tarifa de ônibus, demonstram apenas querer poder para o partido. Não é à toa que estão mais preocupados em “repetir Porto Alegre” (o caos que instauraram na cidade) com bandeiras até com o número de votação do PSOL do que fazer algum comentário sobre quem vai pagar a gasolina para os ônibus andarem. Afinal, por que não protestam contra a Petrobras, ou pedem para mais empresas privadas poderem competir e oferecer serviços mais baratos, ao invés de um cartel criado pelo próprio governo com suas concessões?
 
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Aliás, como mostrou Reinaldo Azevedo, a Associação Alquimídia, que é dona do domínio na internet do Movimento Passe Livre, que organiza essa manifestação, recebe verba da Petrobras, do MinC e da Lei Rouanet.
E será mera coincidência que paulistas queiram “repetir Porto Alegre” com tantas bandeiras da associação Juntos!, do PSOL, quando o domínio do negócio é da própria Luciana Genro?
 
protesto luciana genro Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
 
Além de uma nova roupagem para a violência como arma política (o que Herbert Marcuse chamava de “tolerância revolucionária”), os discursos e os atos das massas coordenadas pela esquerda são unificados apenas com vias a garantir a unidade do grupo e seu fortalecimento. Vide que todas as pessoas, quando comentam o acontecido, precisam se justificar. É de se duvidar que alguém tenha ouvido uma única pessoa não declarar sua opinião na base do “Protestar é legítimo, mas sem vandalismo…”, como se fechar todas as pistas da principal Avenida do hemisfério não fosse, justamente, conquistar um território onde tudo se torna lícito longe da polícia.
 
Os atos dos manifestantes, não fazendo sentido economicamente, mas conseguindo granjear uma larga massa de manobra, apenas marcando quem é do grupo contra quem não é – ainda fortalecidos por um tema sensível, o que faz com que ninguém se posicione contra o protesto em si (só contra “o vandalismo”, como se fosse um desvio, e não o objetivo verdadeiro do próprio protesto). Não importa que usem de fatos que se contradizem, fora a conta econômica que não bate.
 
Flávio Gomes, por exemplo, é um sujeito único no mundo. Todas, absolutamente todas as suas opiniões sobre Fórmula 1 parecem as mais sensatas possíveis – nem Koen Vergeer ou Dennis Jenkinson, muito mais bem informados, costumam ter opiniões tão acertadas. Aí Gomes sai das pistas e… nunca fala uma única coisa que preste. Sobre os protestos, para defender “alguma coisa” indefinida, saiu-se com essa:
 
tweet flaviogomes 01 Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
 
Claro que Flávio Gomes sabe que a tal “juventude direitosa” não fecha avenidas nem hasteia bandeiras comunistas e de partidos de extrema-esquerda, portanto, estava apenas tentando limpar a barra dos esquerdistas que causaram o furdunço.
A função de sua frase não era nem exatamente ser contra o protesto, mas apenas garantir a seus amigos limpinhos: “até parece que a violência seria de esquerda, se começa o quebra-pau, naturalmente vire de direita”..É só ver uma foto do Estadão para tentar analisar se “direitosos reaças” usam bandeiras comunistas tão apreciadas por Flavio Gomes:
 
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Horas depois, Gomes sai-se com essa:
tweet flaviogomes 02 Protestos em São Paulo e as janelas quebradas: nenhuma preocupação com a tarifa do ônibus
 
Como disse o @roberto_alm, mas não era a “juventude direitosa reaça” que estava no protesto? É a tal “direitona” que adora quebrar coisas, ferir pessoas e incitar o caos pela cidade? Pela lógica, isso é um paradoxo evidente, mas serve ao pensamento dialético de pessoas preocupadas tão somente em proteger seu partido: se o protesto tem causa justa, é de esquerda.
Se mostra sua real cara, basta dizer sem motivo algum que é “de direita” (o inimigo do grupinho). Se o resultado foi ruim, é de esquerda, mas dá munição para a direita (?!). O que importa é proteger o grupo com a mentira que for a todo custo.
 
Obviamente, Gomes parte da confusão entre significante e significado dos termos “esquerda” e “direita” sem se perguntar, afinal, “what’s left?”. É assim que a esquerda trabalha: dividindo a sociedade com discursos prontos e unificados pelo dog whistle, como já explicamos aqui.
Assim, toda vez que você critica algo, mesmo a maior violência (e cada vez conseguem mais violência, como mostra a teoria das janelas quebradas), acaba automaticamente caindo em outro grupo, pelo discurso deles. Vira “direitoso reaça”, “tucano”, “fascista”.
 
Tem sempre de justificar por que discorda de algo facilmente discordável, e é associado com o que mais odeia ser associado. É assim que a esquerda nos domina e nos prende.
E é por isso que esses protestos existem. Não por 20 centavos.
 
17 de junho de 2013
Flávio Morgenstern

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