"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 4 de julho de 2013

MINHAS LEITURAS E AS "MANIFESTAÇÕES PACÍFICAS"


          Artigos - Educação 
A "rapaziada politizada e engajada" que quer mudar o mundo, que tem um número infinito de causas a defender e que quebra tudo de qualquer maneira passou por um processo ainda mais acentuado de manipulação psicológica e de modificação comportamental do que nós, eu e você, passamos.

Desde que recebemos o Trivium, não consegui parar de lê-lo. Claro, naquele meu horário pré-coma noturno, mas, ainda assim, e apesar de não ser fluente em inglês, tenho avançado com certa facilidade todos os dias. Diante disso, o Maquiavel (I e II) foi ficando em segundo plano, o que não é difícil se considerarmos o tipo de conteúdo da obra e, além disso, o meu péssimo hábito de pular de um livro para o outro.

De todo modo, conforme prossigo no Trivium, não consigo deixar de vê-lo como uma espécie de contraponto à obra Maquiavel Pedagogo. Eu sei, parece estranho, mas enquanto este último é como que uma amostra de veneno mortal, com ampla descrição dos componentes da fórmula e seus respectivos sintomas, aquele é como que o remédio, a cura para este e para ainda outros venenos. Assim, o contraste entre as obras tem me ajudado a compreender mais intensamente diversos pontos em questão.
 

"E as 'manifestações pacíficas', o que elas podem ter a ver com os dois livros?" Tudo. Vejam só: vocês observaram a faixa etária predominante entre os participantes? Trata-se, é inegável, de uma maioria de jovens e adultos entre 15 e 30 anos.
É gente mais nova que eu e que você, talvez. Agora, afastemo-nos um pouco no tempo a fim de recapitularmos alguns elementos do nosso período escolar, especialmente se você, assim como eu, frequentou escolas públicas.
Você consegue lembrar-se do tipo de posicionamento ideológico dos seus professores de história/sociologia/filosofia?

Os meus eram todos, sem exceção, esquerdistas. E como prova basta rememorar alguns lugares-comuns da doutrinação em sala de aula: a Idade Média foi uma época de trevas dominada por fanáticos católicos, "a religião é o ópio do povo", os EUA são os vilões do Ocidente, os militares deram um golpe em 64 e acabaram com a liberdade do povo, Cuba é muito legal e só há pobreza por culpa do embargo norte-americano, o comunismo é "do bem" e só deu errado por detalhe, etc. 
 
Na verdade, se retrocedermos mais um pouco, veremos que a doutrinação em sala de aula não começou na minha geração, mas, antes, provavelmente na mesma época do contra-golpe militar de 64 (sim, pois foi isso o que ocorreu), quando os militares restringiram sua esfera de ação à inibição das ações armadas dos grupos terroristas, não zelando pelo campo teórico, deixando aberto o caminho para uma revolução marxista ao estilo gramsciano, isto é, por meio da cultura, não das armas.

De lá para cá, geração após geração, o pensamento esquerdista tem ganhado cada vez mais espaço e cada vez mais adeptos, estabelecendo uma homogenia política e ideológica quase completa. Assim, não é de admirar que, embora há quem afirme a presença de "conservadores" nas manifestações, os mares de pessoas presentes nas capitais são compostos por esquerdistas, pouco importando se extremados ou "festivos". 

Ou seja, a "rapaziada politizada e engajada" que quer mudar o mundo, que tem um número infinito de causas a defender e que quebra tudo de qualquer maneira passou por um processo ainda mais acentuado de manipulação psicológica e de modificação comportamental do que nós, eu e você, passamos. Com isso não os estou justificando, mas apenas tentando explicar os fatos. E assim podemos ver como Maquiavel Pedagogo tem tudo a ver com as "manifestações pacíficas".

Agora, talvez você, mãe cristã, esteja sob a pressão de "o que fazer, afinal?". Alguns insinuam chamar-lhe de covarde por não participar dos eventos, outros, de acomodada, afinal, "fazer alguma coisa é melhor que não fazer nada, pois a hora é agora e o gigante acordou": eis o discurso de muitos, inclusive cristãos.
E é aqui, como resposta às pressões externas (e talvez internas também) que se encaixa o Trivium. Há mais de duas décadas o casal Bluedorn, autores do Teaching the Trivium, perceberam o avanço da ideologia esquerdista nas escolas do EUA e, embora este não tenha sido o motivo essencial para que optassem pelo homeschooling, por compreenderem o total antagonismo desta com a fé cristã, encontraram aí mais uma razão para afastar suas crianças das escolas, fossem elas públicas ou privadas.

Sinceramente, em nossa situação específica e a curto prazo, não vejo saída. Enquanto os Bluedorn anteciparam-se a um problema, nós chegamos tarde. O que temos é a esquerda digladiando-se contra a própria esquerda em busca de mais poder, rumo à instauração de um regime totalitário a pedido do "povo", ainda que as palavras de ordem e os "direitos" reivindicados soem benéficos.


É a concretização do golpe à moda gramsciana, sem terrorismo, sem bombas, sem sangue derramado, no qual a revolução parte do coração das massas manipuladas. Posso estar engana, e tomara mesmo que esteja, mas não vejo como as circunstâncias possam melhorar, pois não há uma liderança alternativa às opções que aí estão. E também isso, ao que me parece, é resultado do longo e paciente trabalho subversivo esquerdista.

Porém, a longo prazo, a situação não precisa nem pode continuar idêntica. Assim como os esquerdistas entregaram-se perseverantes ao trabalho de implodir o país atacando-o, durante décadas, por diversas frentes, dentre as quais a educação figura como uma das principais, nós também, pais e mães cristãos precisamos nos entregar ao trabalho de preparar uma nova geração de fato, não simplesmente na esperança de salvarmos o futuro do Brasil, mas no dever de criarmos nossas crianças para a glória de Deus, não para a vergonha de Seu nome.

Claro, isso envolve homeschooling ou, no mínimo, intenso acompanhamento paralelo. Mas sobre todas as coisas, a mais importante não diz respeito a meros conteúdos, mas à postura da família: esta deve compreender que suas crianças não são responsabilidade do governo, mas SUA responsabilidade; elas são presentes de Deus PARA OS PAIS, não para os professores, de modo que os primeiros é que prestarão contas a Deus, não os segundos; e a única coisa que pode mantê-la firme contra o roubo e a confusão esquerdistas é a manutenção e o fortalecimento dos vínculos de AMOR e de FÉ, nada mais.

É sobre estes fundamentos que o planejamento curricular da família poderá ganhar força e prosperar, seguindo na direção oposta à que nos oferece o governo, para pleno desenvolvimento de nossas crianças, para um futuro melhor ao nosso país e para a glória de Deus. E o Trivium, parece-me, é a ferramenta mais adequada para a realização dessa tarefa.

Que Deus possa iluminar nossos corações para que compreendamos a seriedade do que está em jogo e nos dê sabedoria e ousadia para buscarmos agradá-Lo vivendo uma vida familiar segundo a Sua vontade, não segundo nos aconselha o mundo.


04 de julho de 2013
Camila Hochmüller Abadie

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