"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 4 de julho de 2013

CINISMO HENRIQUE ALVES AVISA QUE DONOS DO PODER SUBESTIMAM VOZ DAS RUAS

 

Na semana em que milhares de manifestantes ocuparam o teto do Congresso e tentaram invadir o prédio, o deputado federal Henrique Alves não se teria atrevido a aparecer no Maracanã para ver um jogo de futebol. E nem lhe passaria pela cabeça requisitar um jato da FAB para encurtar a duração do voo entre Natal e o Rio de Janeiro.
 
Na semana em que a multidão indignada voltou a sitiar a sede do Poder Legislativo, o presidente da Câmara não teria ousado transformar em passageiros da FABTur um de seus filhos, a noiva, dois filhos da noiva, um irmão da noiva e uma cunhada da noiva. Um pai-da-pátria e sete agregados. Um espanto, até para os padrões do Brasil.
 
Se a onda de atos de protesto estivesse em seu clímax, o parlamentar do PMDB potiguar não desferido tantos e tão vigorosos pontapés no decoro, na ética, na moral, na lei e no patrimônio público. Descoberta a delinquência, Henrique Alves jurou que havia viajado (justo na véspera da final da Copa das Confederações) para um encontro oficial com o prefeito Eduardo Paes. Devem ter debatido a escalação do time de Felipão.
 
Para reparar o que rebatizou de “erro”, o gerente da Casa dos Horrores promete devolver ninguém sabe a quem uma quantia equivalente a sete passagens de ida e oito de volta (um amigo do irmão da noiva pegou carona no retorno ao Rio Grande do Norte). Feito isso, deu por finda a história muito mal contada. Página virada. Vida que segue.
 
É muita desfaçatez. É muita sem-vergonhice. E é mais uma prova de que os destinatários se recusam a receber a claríssima mensagem das ruas: a paciência do país que presta acabou. Parecia ilimitada. Não era. Milhões de brasileiros estão fartos de bancar a gastança dos parceiros pendurados no poder. Cansaram-se de ser tratados como idiotas.
 
Os henriques alves que infestam os três Poderes parecem acreditar no que anda recitando o marqueteiro João Santana: o que se viu neste junho foi apenas “uma catarse temporária”. Estão brincando com fogo „Ÿ literalmente. Desde o começo da revolta da rua, o governo e o Congressi nada fizeram para eliminar os motivos dos incontáveis atos de protesto. O copo continua até aqui de náusea. Vai transbordar de novo.
 
O elenco do espetáculo do cinismo decerto ignora que, minutos antes do tsunami, as águas se afastam da praia. É um recuo enganoso. É o aviso sinistro: a onda imensa está chegando.

04 de julho de 2013
Blog Augusto Nunes - Veja

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