"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 20 de novembro de 2011

E AÍ? MARAVILHA MEMBEMBE! ATA OU DESATA? FAZER OU GASTAR?


Fazer ou gastar?

Pelos conselhos que ela andou dando aos EUA e à Europa sobre como enfrentar a crise, está claro que a presidente Dilma Rousseff fará de tudo para impedir que o crescimento econômico perca o rebolado.

O ritmo do Produto Interno Bruto (PIB) está há três trimestres em queda e já acena para um crescimento anual de 3%, vindo de 7,5% no ano passado. À luz das ações tomadas pelo Banco Central, o juízo é de que o consumo está anêmico e precisa ser reanimado o quanto antes.

É o caminho clássico em tempos de retração.A questão a entender é se, como noutros períodos assemelhados, a economia precise mais de juros menores e prazos maiores do crédito, como o Banco Central decidiu (para o PIB voltar a arrancar e virar o ano apontando para um crescimento acima de 4,5% em 2012), que de tapete vermelho para o investimento.
Essa escolha não leva ao mesmo resultado.

A pilotagem dos fatores que impressionam o consumo é o jeito mais fácil de aquecer a economia. Mas, apesar de indicadores de crédito e de criação de emprego corroborar o senso de menor dinamismo da economia, não estão neles — já que, ainda assim, seguem crescendo acima da média histórica — as causas do emagrecimento do PIB.

Também não repercute, pelo menos não ainda, o clima recessivo na Europa, nos EUA e no Japão. A desaceleração do ritmo de crescimento da economia, de 7,5% em 2010, para o entorno de 3% este ano, choca à primeira vista.

Mas a comparação apropriada é com a média dos anos anteriores, para ajustar os momentos extremos da economia, como a recessão em 2009 (queda de 0,3% do PIB) e o forte salto em 2010, devida à orientação do então presidente Lula para fechar com chave de ouro seu duplo mandato e minimizar o risco da eleição de Dilma.

Contra a média de crescimento do PIB entre 2008 e 2010, de 4%, a redução para algo como 3% fica mais palatável. Economistas diriam que essa seria a taxa próxima ao crescimento potencial, estimado em algo como 4,5%, talvez um pouco mais, sem pressionar a inflação nem o deficit externo, financiado com a entrada de capitais.

É mais fácil recuperar a tração do crescimento quando a economia fraqueja por indução da política econômica.
Assim está o Brasil. E isso não está suficientemente esclarecido pelo governo.

Ajustando o contexto

O BC apertou os juros e o multiplicador do crédito, e a Fazenda, a execução do gasto fiscal e os financiamentos da banca estatal, sobretudo o BNDES, para retirar os excessos no fim do governo Lula, responsáveis por afastar a inflação do centro da meta (4,5%) — agravada pelo choque de preço dos produtos agrícolas em 2010.

Posto em perspectiva, o movimento da economia no Brasil fica mais lógico.

Mas, especialmente, se diferencia da crise da Zona do Euro e dos impasses políticos nos EUA. Ajuda também a dar o devido peso à decisão da agência Standard & Poor"s de aumentar a nota de risco do Brasil.

Ela ainda está três degraus abaixo da pontuação dada à Itália, cuja dívida pública de 120% do PIB — mais que o triplo da do Brasil em termos líquidos —, faz a Zona do Euro estremecer.

A nota que nos importa

Um diretor da Standard & Poor"s atribuiu a promoção do Brasil ao endurecimento da política fiscal contra a inflação, abrindo espaço para a redução dos juros.

Está implícito que ele se refere mais à solvência dos papéis da dívida soberana (preocupação que não mais se coloca nas análises sobre o Brasil), que ao desenvolvimento potencial da economia.

Agências dialogam com os interesses de quem as contratam:
basicamente, grandes investidores internacionais.

A expansão da riqueza nacional interessa mais a nós mesmos, assim como aos patrocinadores públicos e privados dos investimentos que a expandem.

É nesse sentido que importa a reflexão sobre as ações tomadas pelo governo para ativar o consumo e o ritmo da economia.

Como escapar do vício

O governo parece tratar como decorrente de um problema de fluxo (o consumo) e não de estoque (a capacidade instalada de produção) o motivo da rateada do crescimento, que, como vimos, perdeu pique por indução do próprio governo para frear a inflação, implicando as sequelas de uma fase de ajustes (juros altos, câmbio apreciado etc.).

E por que é assim toda vez que a economia cresce forte?

Porque a oferta não atende a demanda num quadro de pleno emprego — como tem sido desde meados de 2009 —, levando o consumo a vazar para o exterior, no que foi exacerbado pelo real apreciado, usado pelo BC de Lula como coadjuvante da Selic.

Esse é o nó:
o aumento da demanda favorecer as importações, não a indústria, prejudicando o investimento produtivo. É o círculo vicioso de sempre.

A prioridade virtuosa

Depois de pautada pelo ajuste das finanças públicas nos governos de FHC e no primeiro de Lula, e pelas políticas de transferência de renda em seu segundo mandato, a economia era para ser regida pela primazia do investimento com Dilma.

Isso ainda é uma expectativa.

Boa parte do ajuste fiscal deste ano, feito para cortar demanda e ajudar o BC no controle da inflação por meio de uma economia de R$ 50,8 bilhões de gastos orçamentários, saiu do aumento da receita e da postergação de investimentos, que o governo jurara não cortar.

É essa prioridade que precisa ser retomada, única forma de acabar com o para-anda do crescimento e para que os bons empregos, a renda e a educação comecem a dispensar a urgência das políticas sociais.

Antônio Machado/Correio Braziliense

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