"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

DEMORA EXPÕE FALHA DOS SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA

Se o ocidente levou dois dias para saber do ataque cardíaco do 'Querido líder', como poderá prever um possível ataque militar?

Satélites, sistemas de escuta e rede de espiões internacionais. Nem a mais sofisticada das tecnologias foram suficientes para que os serviços de inteligência estrangeiros descobrissem que um dos ditadores mais temidos do mundo havia morrido. Foram precisos mais de 50 horas para que a CIA descobrisse o enfarto fatal de Kim Jong-Il, líder da Coreia do Norte há quase duas décadas. Mesmo a Coreia do Sul, que mantém um olho vigilante em sua belicosa vizinha, também falhou, e só soube do ocorrido depois do anúncio da imprensa oficial norte-coreana.

Conhecida por ser um dos países mais fechados do mundo, a Coreia do Norte assusta por seu arsenal nuclear, que agora estará em mãos de um garoto de 20 anos do qual ninguém sabe nada – Kim Jong-Un, filho do finado ditador. Mas se os serviços de inteligência dos grandes países demoraram mais de dois dias para se informar sobre a morte do principal líder do país, como irão se prevenir de possíveis ataques militares?

“Toda informação na Coreia do Norte é extremamente bem controlada”, explica o Alexandre Uehara, Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. “A prova é que o governo conseguiu fazer testes nucleares que só foram diagnosticados muito depois, e só por causa dos índices de radiação. Quando um deslocamento militar acontece sobre a superfície, ainda é possível detectar por imagens de satélite, de outra forma é impossível”.

Uma fonte anônima do serviço secreto americano confirmou à imprensa que os Estados Unidos só souberam da morte do ditador na segunda-feira. “Sabíamos que havia um risco de enfarto maior nos últimos tempos, mas ninguém sabe quando este tipo de coisa pode acontecer”, acrescentou a fonte.

Interrogado pela Reuters, o chefe do grupo de especialistas da Pacific Fórum CSIS (sigla em inglês para Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais) Ralph Cossa disse que “ninguém estava em alerta para uma eventual morte do ditador. “Se alguém estava pensando ter um bom controle do que se passa na Coreia do Nortem suas fontes não são muito boas”.

As agências de espionagem ocidentais não economizam esforças para tentar descobrir o que se passa dentro das fronteiras norte-coreanas. Aviões espiões americanos e satélites estão sempre monitorando o que se passa no país, assim como antenas altamente sensíveis ao longo da fronteira com a Coreia do Sul.
Todos os anos, autoridades sul-coreanas entrevistam milhares de fugitivos norte-coreanos. Mesmo assim, as autoridades foram incapazes de captar qualquer indício do que havia ocorrido, como chamadas telefônicas dos responsáveis governamentais ou operações ao redor do trem em que morreu o ditador.

“O que há de pior em nossa serviço de inteligência é a incapacidade de penetrar fundo na liderança existente”, admitiu ao The New York Times uma fonte anônima da inteligência americana. “Quando conseguimos falar com desertores, suas informações em geral são velhas. Quando conseguimos falar com pessoas de um nível intermediário dentro do governo, eles em geral não sabem o que se passa dentro dos círculos fechados”.

Não é de se surpreender, portanto, que o ocidente esteja tão apreensivo quanto ao período de transição vivido pela Coreia do Norte. “Com pouquíssimas informações sobre o filho e o sucessor de M. Kim, Kim Jong-Un, e uma visão ainda mais limitada das intrigas no seio do palácio de Pyongyang, boa parte das ações americanas serão baseadas em conjunturas”, escreve o jornal nova-iorquino. “É assustador de ver a que ponto sabemos pouco” sobre o que vai acontecer com o país, confirma anonimamente uma autoridade americana que segue de perto a região. “A preocupação é grande”.

Fonte: NYT, 21.12.2011

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