"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

MÉDICO PARA QUEM PRECISA DE MÉDICO E POLÍCIA PARA QUEM PRECISA DE POLÍCIA



Sabem qual é o busílis do crack? Ele desorganiza a poesia dos laxistas, dos defensores da descriminação ou da legalização das drogas. E então se apela à tese da medicalização como alternativa à repressão policial, o que é, evidentemente, no que respeita à lógica e à argumentação, um truque baixo. Vamos pensar as duas questões.

Nos tempos pré-crack, a droga, do ponto de vista do consumidor, parecia mera questão privada, restrita ao indivíduo ou às famílias. O problema de segurança pública já estava dado, sabíamos. Os traficantes se dedicam, como é evidente, a outros tipos de crime além da venda de drogas.
No extremo da delinqüência, sitiam áreas da periferia das grandes cidades - ou os morros do Rio - e impõem as suas próprias leis. O viciado, no entanto, era mais ou menos invisível.

Ainda hoje, em comunidades pobres - falo porque sei e vivi a situação, à diferença de alguns bobinhos endinheirados, que consomem droga protegidos por segurança privada -, “ser maconheiro” não é uma coisa boa, não.
As famílias não aprovam; a sociedade rejeita. Inexistiam e inexistem áreas das cidades “ocupadas” por viciados, vivendo numa espécie de transe, dispostos a qualquer coisa. A invisibilidade do viciado facilitava, e facilita, o discurso laxista, do “deixa-estar”, do “cada-um-faça-o-que-bem-entender”.

O crack leva o viciado para o limite sem limites da abjeção, onde tudo é possível, e qualquer coisa é permitida. Se boa parte dos consumidores de maconha e de cocaína ainda consegue manter vínculos familiares e sociais, como emprego por exemplo, o viciado na pedra se desliga, vamos dizer assim, do mundo da produção.

Pesquisa Datafolha indica que mais de 70% dos que têm moradia - isto é, dos que ainda não estão no estágio da sarjeta - moram sozinhos. A loucura do crack não é compartilhável a não ser daquele modo, os zumbis-mônadas, cada um imerso na própria loucura.

Essa droga, em suma, joga no lixo a tese de que o consumo é “só uma questão individual”, uma espécie de luta contra “o estado repressor”. O álcool, por exemplo, é, sim, um grave problema de saúde pública, ainda não devidamente abordado pela legislação, acho eu.
Mas onde fica o “Vale dos Bêbados”? Inexiste! E não me venham com a tese ridícula de que é a ilegalidade que faz as cracolândias.
A verdade está no contrário: é a tolerância com o crack, isto sim (na suposição de que se trata de um “problema social”), que criou essas áreas nas cidades. Chegamos ao ponto a que chegamos, e não só em São Paulo, porque a pedra passou a ser vista como uma fatalidade. Muito bem!

Os laxistas, no entanto, continuam refratários à ação da polícia para reprimir o tráfico e, evidentemente, impedir a formação, na marra, de uma comunidade de viciados, que funciona com leis próprias.
Ora, imaginem-se as leis criadas por pessoas que perderam o discernimento. Não por acaso, 90% das mulheres que perambulam pela cracolândia são mães - quase sempre de filhos sem pais. Ou se prostituíram para conseguir a droga ou fizeram sexo sem proteção.

Ora, se a polícia não pode atuar, então fazer o quê? Aí vem a conversa do “Chamem os Médicos!” O liberou-geral teria como corolário um rigoroso programa de tratamento que supõe, como quer o Ministério Púbico, desde uma espécie de babá para refazer os laços do viciado com a família até a prioridade na fila por moradia gratuita - é o tal do “Pavlov às avessas”, como chamei, que compensa a transgressão.

A “medicalização”, acompanhada do trabalho de “prevenção”, substitui a repressão? Trata-se de uma tese estúpida. O trabalho da polícia coíbe o tráfico e, insisto, a formação de uma comunidade de “diferenciados” (como dizem os militantes tolinhos) que impõem a sua vontade, ao arrepio da lei, a cidadãos de bem, que lutam para ganhar a vida honestamente.

Assim, caros leitores, sempre que alguém vier com essa conversa de que droga é um assunto para médicos, não para policiais, responda que a imposição dos valores democráticos da Constituição, quando violados, na marra, por um grupo, é, sim, assunto para a polícia. Isso não pode ser feito por médicos ou psiquiatras.

Médico para quem precisa de médico e polícia para quem precisa de polícia! Que o governo de São Paulo não esmoreça e não ceda à pressão políticamente estúpida.
16 de janeiro de 2012
Por Reinaldo Azevedo

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