"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO, POLÍTICA TORPE: UMA GRANDE TRAGÉDIA E NENHUMA VERBA


Cocal, no Piauí, que sofreu com rompimento de barragem em 2009, não recebeu nada da Integração

COCAL (PI). Desde 27 de maio de 2009, quando a Barragem Algodões, em Cocal (a 283km de Teresina), rompeu-se, matando 11 pessoas e destruindo casas e propriedades de 270 famílias, a situação não mudou na cidade, e o cenário é o mesmo deixado pela tragédia.

A barragem continua destruída, e o Rio Pirangi, antes manancial na região, não passa hoje de um filete d"água. Os recursos prometidos pelo Ministério da Integração para obras de uma nova barragem nunca foram liberados.

O presidente do Instituto de Desenvolvimento do Piauí, Elizeu Aguiar, disse que os R$110 milhões necessários para a nova Barragem Algodões estão previstos no Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2).

Segundo ele, as obras de construção da barragem, com capacidade para 50 milhões de metros cúbicos, só serão licitadas este mês, porque houve demora na elaboração do projeto, que ainda não tem o relatório de impacto ambiental e a licença do Ibama.


- Aqui, eu tinha, com minha família, cem hectares de terra, onde plantava mandioca, milho, cana, para vender garapa, criava carneiros, cabras e porcos. Agora, não tenho nada. As águas destruíram minha casa, e tenho cinco filhos para dar de comer - disse o agricultor José Honório Alves Neto, que ainda mora perto da barragem, em uma casa que construiu após a tragédia.


- Eu tirava um salário e meio, e hoje vivo de uma pensão de R$225 que o governo do Piauí paga por mês e que atrasa até cinco meses. A terra onde a gente plantava agora é seca e cheia de pedras que chegaram com as águas da barragem que se rompeu. Minha vida está uma desgraça - acrescentou Alves Neto.

A dona de casa Maria Clemilda Machado contou que seu pai, o pedreiro e agricultor Romão José Machado, morreu de depressão e câncer há três meses. Ela disse que, desde que teve a casa destruída no rompimento da barragem, o pai não saiu mais da casa onde foi viver, construída na serra.

- Ele não só perdeu a casa, mas também toda a propriedade, os animais, e ainda tentou plantar em outro terreno, mas era muito seco e não dava nada. Ele entregou os pontos e vivia em profunda depressão - afirmou Maria Clemilda.

Efrém Ribeiro O Globo

NOTA AO PÉ DO TEXTO

O meu Brasil dos indigentes, dos desesperados que se amontoam nas filas dos muitos SUS desse Brasil; esse meu país desencantado, que castiga o homem simples, tanto os das cidades, quanto os das 'roças', aparece na imagem dessa mulher do povo, cuja angústia se lê nas marcadas linhas do rosto. Uma barragem que se rompe e muitas promessas, a que se seguem discursos da burocracia entorpecida em seu 'bem-bom' com ótimos salários... Tudo adiado para depois, para amanhã ou quem sabe para o próximo ano...
Apenas mais uma história dramática, mais uma tragédia entre tantas outras, de vítimas de enchentes, de deslizamentos de encostas, de destruições avassaladoras das chuvas que desabam sobre as cidades, arrebentando casas, destruindo bens, levando tudo na enxurrada.
Políticas de prevenção? Belos discursos, promessas maravilhosas, depois o esquecimento das populações atingidas, que continuam vivendo sob a desgraça do abandono público.
O cinismo político que se repete a cada desastre, enoja até o mais paciente dos homens, o mais tolerante, porque a indiferença alonga o sofrimento da espera, de uma espera quase infinita, que não chega nunca para aquele povo miúdo, crente, ingênuo, sempre disposto a acreditar na demagógica baboseira daqueles políticos que apenas passam por esses lugares, para colher o voto que lhes dará acesso ao poder. Depois... Esquecimento. "Estaremos de volta na próxima eleição! Conto com vocês, meu povo!"
Paisagens desoladoras ficam para trás, destruições, pranto, perda das esperanças. A água levou os poucos bens, de cambulhada na torrente selvagem da inundação, mas aquele povo crente, miúdo, continuará hipnotizado pelo discurso eleitoreiro, pela distribuição de chinelos, de dentaduras, de bonés e camisetas com o nome do seu eleito.
E a história se repetirá.
m.americo

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