"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

MINISTRO FERNANDO BEZERRA DIZ QUE DILMA SABIA DE TUDO SOBRE O FAVORECIMENTO A PERNAMBUCO NA DISTRIBUIÇÃO DE VERBAS


O jornalismo tem umas coisas estranhas. Toda a grande imprensa cobriu a entrevista coletiva convocada pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), para explicar o espantoso privilégio dado a seu Estado, Pernambuco, na distribuição de verbas contra calamidades públicas.

Toda a imprensa estava lá, repita-se. Mas apenas o Correio Braziliense deu para sua reportagem este título espantoso: “Sob pressão, ministro Fernando Bezerra diz que Dilma sabia de tudo”. Será que o repórter do Correio, Paulo de Tarso Lyra, foi o único que entendeu assim as declarações do ministro? Por que os outros jornais bobearam?

O fato é que, pressionado pelo Palácio do Planalto, que o obrigou a antecipar o retorno a Brasília, e pelo PMDB, que pretende tomar-lhe a vaga na Esplanada, Fernando Bezerra disse mesmo que a presidente Dilma Rousseff sabia do repasse de R$ 70 milhões para a construção das usinas na Bacia do Una, em Pernambuco.

Interessante. Como o repórter do Correio destacou, esta é a primeira vez que um ministro instado a dar explicações sobre ações consideradas suspeitas teve a coragem de envolver diretamente a presidente da República e a cúpula do governo em suas justificativas.

“O repasse dos R$ 70 milhões foi discutido com a Casa Civil, o Ministério do Planejamento e com o conhecimento e participação da presidente da República”, declarou Fernando Bezerra.

Questionado se a presidente saberia detalhar todos os recursos liberados pela sua pasta nas ações de combate a enchentes, Bezerra foi enfático. “Eu não disse todos os recursos. Mas sobre esses R$ 70 milhões ela tinha conhecimento.”

Aliados do ministro confirmam que, logo após o desastre ocorrido na Bacia do Una em junho de 2010, que provocou alagamentos em 41 municípios, atingiu 80 mil pessoas e deixou 18 mil famílias desabrigadas, integrantes do governo federal ligaram para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, perguntando o que precisava ser feito para que a situação fosse contornada. A liberação dos recursos ocorreu em 2011.

Bezerra Coelho também abriu uma crise com um colega de Esplanada — o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), que está com os dias contados no governo federal. O titular da Integração Nacional disse que o orçamento de sua pasta é ínfimo se comparado ao comandado pelo colega baiano. “O Ministério das Cidades tem um orçamento de R$ 11 bilhões para as obras de contenção e prevenção a enchentes. Nossos recursos são muito pequenos”, completou.

Durante a entrevista coletiva, o ministro desmentiu o noticiário de O Globo e do Estadão, e reforçou a nota divulgada pela Casa Civil negando que o Ministério de Bezerra estivesse sendo esvaziado por Gleisi Hoffmann a pedido da presidente Dilma Rousseff.

“Quando isso ocorrer, espero estar longe. Ao me chamar para uma tarefa, gosto de fazer a tarefa completa, não pela metade”, completou Bezerra, negando que estivesse fazendo uma ameaça. “Minha relação com a ministra Gleisi é muito estreita”, arrematou.

Agora só resta saber quando o ministro será demitido. Os motivos, ele mesmo já os alinhou, dar entrevista com tamanha franqueza. E o repórter do Correio, com clareza, ‘captou a mensagem”.


06 de janeiro de 2012
Carlos Newton

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