"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

GILBERTO CARVALHO PEDE "PERDÃO" AOS EVANGÉLICOS

Josias de Souza - Uol Notícias
Como previsto, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Previdência) reuniu-se com congressistas evangélicos nesta quarta (15). No encontro, ele expiou um pseudopecado que assegura não ter cometido.

A bancada da Bíblia levou o ex-seminarista Gilbertinho à fogueira por causa de declarações que o auxiliar de Dilma fizera em Porto Alegre, numa reunião com representantes de movimentos sociais.

Ao penitenciar-se, o ministro fez o que fazem todas as autoridades pilhadas em declarações mal proferidas. Pôs a culpa na imprensa. Em enredos desse gênero, o repórter cumpre o papel reservado aos mordomos nos romances de Agatha Christie.

Gilbertinho disse aos seis inquisidores que foi mal interpretado pelos jornalistas, os culpados de sempre. Negou ter dito o que disseram que ele disse. A despeito disso, pediu “perdão“. O irmão Anthony Garotinho (PR-RJ), evangélico da seita dos molequinhos, desafiou o ministro-pecador a assinar um documento desdizendo o que jura que não declarou.

Gilbertinho refugou a sugestão. Comprometeu-se, porém, a veicular no site da Secretaria-Geral da Presidência uma nota. No texto, dará por não dito o dito que supostamente jamais foi realmente dito.

Em texto levado ao seu blog, Garotinho ironizou: Gilberto Carvalho diz que a imprensa inventou tudo e pede perdão pelo que não disse.”

A nota prometida por Gilbertinho ainda não veio à luz. Por ora, não se sabe que mágica retórica o ministro vai usar para fazer desaparecer as declarações que declara não ter declarado. Para reposicionar-se em cena, terá de dar sumiço ao seguinte lero-lero, despejado no famigerado encontro de Porto Alegre:

“É muito importante que nós façamos nosso trabalho social pensando nesse novo Brasil, conhecendo essa nova realidade, não tendo ciúmes daquelas políticas de governo que atingem as nossas clientelas, que não batem mais às nossas portas muitas vezes, porque já caminharam por outros caminhos.” Hã?!?

“E aí [vem] uma necessidade importantíssima de uma disputa ideológica, de uma disputa de projeto frente a esse nosso público. Que nós sabemos, quem conhece a periferia desse país, que é um público hegemonizado muitas vezes por setores conservadores.” Heimm?!?

“Lembro aqui, sem nenhum preconceito, o papel e a hegemonia das igrejas evangélicas, das seitas pentecostais que são a grande presença nesse [meio]… É esse público que está emergindo, é esse público que até hoje é organizado por esses setores que estão emergindo e que carecem da nossa generosidade e da nossa atenção, para estabelecermos um debate dialético, um debate em torno do novo projeto para o nosso país.”

Antes mesmo de ser apresentada ao prometido milagre da subtração das frases, parte da banda evangélica do Congresso já parece propensa a perdoar Gilbertinho. O deputado João Campos (PSDB-GO), líder dos cristãos da Câmara, disse que a polêmica é “matéria vencida”.


Para Campos, a expiação do ministro no Legislativo contribui para desintoxicar a atmosfera. De resto, disse o deputado de Cristo, “o episódio tem um aspecto pedagógico”. Como assim? O governo, agora, vai “procurar ser mais zeloso na forma de se expressar.”

Afora o caso que o envolve diretamente, Gilbertinho foi crivado de perguntas também sobre a encrenca que indispõe a colega Eleonora Menicucci, nova ministra-chefe da Secretaria de Políticas para Mulheres com os evangélicos. Na reunião, o ministro disse que a nomeação de Eleonora, conhecida ativista pró aborto, não dissolve os compromissos assumidos por Dilma na campanha de 2010.

Quer dizer: a presidente mantém a disposição de não mexer na legislação que trata do tema. Uma legislação que considera aceitáveis os abortos em dois escassos casos: quando a gravidez decorre de aborto ou quando o feto é comprovadamente mal formado.

E quanto à presença de Eleonora no Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres em relação ao aborto? Segundo Gilbertinho, a nova ministra defenderá na ONU as posições oficiais do governo, não suas opiniões pessoais sobre o tema. Amém, irmãos!

- Atualização feita às 19h15 desta quarta (15): saiu a nota que Gilberto Carvalho prometeu aos evangélicos. Na peça, que pode ser lida aqui, o ministro diz coisas definitivas sem definir muito bem as coisas que lhe haviam sido atribuídas.

17 de fevereiro de 2012
Josias de Souza - Uol Notícias

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