"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 12 de março de 2012

'BRINCADEIRA' CRIMINOSA

“A palavra transar está incorporada ao dicionário, sinônimo de relacionamento íntimo, sexual. Tem outra palavra, só que há muito registrada, é transir, que significa invadir, penetrar. De sons parecidos, transar e transir se juntam mesmo” – (Gudé).

“Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas
uma coisa é certa: haverá na terra um canalha a menos”

Millôr Fernandes

Amarildo de Araújo Pereira está morto. Tinha 19 anos, foi enterrado onde ele vivia, em Rancho Alegre do Oeste. Rapaz de boa afeição, tinha problemas mentais, o que não o impedia de ser simpático e generoso. Vítima de uma “brincadeira criminosa”, expressão empregada pela família do jovem, ele estava em um bar da cidade quando passou a ser incentivado a beber, induzido intensamente por um grupo que pagou a bebida para se divertir.
Na medida em que ingeria grande quantidade de álcool era motivo de zombaria, alvo de gargalhadas sobretudo desumanas, posto que feriram visceralmente a dignidade moral e física de alguém relativamente incapaz e naquelas circunstâncias mais vulnerável ainda.

O fato, noticiado pela Tribuna no domingo passado, informa que Amarildo ainda foi levado com vida para a vizinha cidade de Goioerê, mas não suportou o coma alcoólico e retornou em um caixão. O inquérito está aberto e um vídeo, já em poder da Polícia, é objeto de investigação. Evidentemente que a família clama por Justiça.
O fato mantém enorme repercussão na pacata e querida Rancho Alegre do Oeste, dada a maneira preparatória, ânimo de fazer e a torpeza em praticar tamanha covardia e hedionda conduta criminosa, além de covarde.

Indignar-se e associar solidariamente à família enlutada é o mínimo que se pode fazer. Embora este Jornal tenha dado adequadamente a machete e além da expectativa tangente aos desdobramentos do fato, existe uma característica comum entre Amarildo e o Jorel, recentemente abordado por esta Coluna.
Em ambas as situações um grupo de covardes se aproveita de alguém com limitações mentais, criando ou se aproveitando de situações para zombar e satisfazer instintos sórdidos. Andarilho ou pessoa pobre, tais fatores, bem como a condição mental restrita a ponto de aquelas pessoas não terem o correto discernimento e capacidade de reação.

Mais do que esperar, exigir é que o se impõe no intuito de a Justiça seja efetivamente exercida, a de condenar os que estiveram no bar, seja pela ação absolutamente repulsiva e mesmo para aqueles que assistiam a tudo e nada fizeram no caso de ser sido possível evitar.
Tão certos da impunidade provável que julgaram estar seguros, é que filmaram aquela prevalecida violência, “brincadeira criminosa”, destituída de qualquer graça e impregnada de perfídia, no mais cruel significado.

12 de março de 2012
José Eugênio Maciel

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