"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 28 de março de 2012

CHINA SEGUE DITANDO AS REGRAS NO NEPAL

Polícia proibiu reuniões de cunho cultural e religioso, até mesmo as reuniões privadas

Um estranho conjunto de turistas ocidentais, peregrinos nepaleses, refugiados tibetanos e espiões chineses circulam incessantemente ao redor de um estupa (templo) em Boudha, Katmandu, capital do Nepal. Enquanto as pessoas caminham em sentido horário, como reza a tradição budista, seguranças nepaleses à paisana se misturam entre elas.

Desde que os protestos em Lhasa, a capital do Tibete, foram reprimidos violentamente em 2008, os refugiados tibetanos no Nepal passaram a sofrer uma pressão intensa por parte das autoridades locais, que por sua vez recebem ordens diretas de funcionários da embaixada chinesa.

A polícia proibiu reuniões de cunho cultural e religioso, até mesmo as reuniões privadas. Protestos políticos são suprimidos antes mesmo de ter início. Funcionários do governo do Nepal afirmam que uma delegação de técnicos do serviço secreto chinês chegou à cidade para monitorar e acompanhar a repressão aos protestos organizados por ativistas para relembrar a insurreição Tibetana de 1959 no dia 10 de março, bem como relembrar a ocasião das marchas de Lhasa em 14 de março 2008.

A comunidade tibetana no Nepal, de cerca de 18 mil pessoas, é bastante infiltrada por agentes chineses. De acordo com as pessoas procuradas pelos chineses para esses serviços e funcionários do governo do Nepal, informantes são contratados através de recompensas em dinheiro e ameaças a suas famílias. Outros são treinados na China e a eles é dado todo tipo de auxílio em sua jornada como refugiados rumo à base do Dalai Lama em Dharamsala, na Índia.

Em áreas de Katmandu onde muitos tibetanos moram, a vigilância pode ser indiscreta. Ativistas são seguidos e ameaçados. Coisas peculiares acontecem às suas contas de e-mail e ligações de telefones celulares. A polícia nepalesa diz que é informada pelos chineses quando e onde acontecerão reuniões. Antes de grandes eventos, faxes cheios de ordens são enviados da embaixada chinesa para o ministro de Relações Exteriores do Nepal, com a determinação de táticas de policiamento, o número de oficiais à paisana a serem designados para a missão e assim por diante.

De acordo com os nepaleses, a China teme a infiltração de “sabotadores” treinados na Índia pelo “grupo do Dalai Lama”. O receio recai não só sobre Katmandu, mas também sobre o que eles alegam ser atividades disfarçadas de ONGs em regiões de fronteira, como Mustang. Nessas áreas, é rotineira a ação de agentes de segurança chineses em ambos os lados da fronteira.

27 de março de 2012
Fontes:The Economist - Calling the shots

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