"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 7 de março de 2012

FASCISBIKERS E TALIBIKERS, VOCÊS NÃO ME INTIMIDAM!

Tirem um pouco o traseiro do selim e vão estudar democracia! Submetam-se à Constituição!

Os “bikers”, como toda minoria radicalizada, são, antes de tudo, uns chatos. São também autoritários. Não tenho nada contra quem anda de bicicleta, mas contra quem faz disso uma “causa” e tenta se impor pela força. É um caso análogo ao da Liga Brasileira de Lésbicas, que recorreu à Justiça para tirar os crucifixos das repartições da Justiça no Rio Grande do Sul. É lésbica quem é, goste disso ou não — e não tenho nada com isso.

Só não lhes reconheço o direito de mudar a história brasileira e querer banir os crucifixos da memória cultural brasileira porque, sei lá, consideram que os fundamentos da religião não abrigam as suas práticas. Essa gente não está disposta a acatar a democracia? Lamento! Um ciclista deve ser um indivíduo dotado de direitos; os “bikers” querem impor aos outros o que consideram ser seu “direito” sem ser, a saber: paralisar a cidade.

Cadê os parlamentares de São Paulo, das esferas estadual e municipal? É preciso delimitar a área dos 11 hospitais e adjacências da região da Paulista e criar leis que simplesmente impeçam grupos — sejam eles quais forem — de se impor pela força.

O conjunto dos paulistanos não é obrigado a aderir à força à pauta dessa turma ou daquela. Essa gente só prospera e só parece simpática no noticiário porque também a imprensa está infiltrada por esse, como chamarei?, radicalismo de classe, a tal “classe média consciente”, que julga ter descoberto “a coisa”. Não descobriu porcaria nenhuma!

Eu não escrevi os textos que escrevi para mudar a cabeça deles, não. Tivessem algo interessante sobre o pescoço, não fariam o que fizeram ontem. Escrevi como expressão da maioria silenciosa, que tem de agüentar os chiliques dessa minoria arrogante e autoritária; escrevi como membro daquela parte da cidade que acaba tendo seus direitos seqüestrados por esses filhinhos de papai em busca de uma causa.

São incapazes de entender um argumento. Já estão me demonizando nas redes sociais, conforme o esperado. Vão se danar! Isso é coisa típica dessa era de ignorantes que se pensam salvadores do mundo.

Querem mais ciclovias na cidade — onde for possível ter ciclovias? Têm meu apoio! Querem uma campanha por mais respeito no trânsito? Tudo bem! Espero, aliás, que os usuários de bicicleta também se submetam às leis, não andando sobre as calçadas e usando os sinalizadores, por exemplo. Mas não têm o direito de fazer isso na porrada, não! Até porque é uma burrice!

O que eles acham? Acreditam que a sociedade lhes será mais simpática depois disso? Acham mesmo que, ao saber o motivo da paralisação da avenida, que lhes roubou algumas horas de descanso e do convívio com a família, os paulistanos pensaram: “Pô, esses bikers têm razão!”

A era da Internet e da mobilização das redes sociais revela muitas coisas interessantes, sim! Mas também tem um grave defeito. Os fanáticos disso e daquilo se juntam em verdadeiras seitas e passam a achar que o mundo todo deve ser regulado e organizado segundo as suas regras.

E que se note: eu não sou uma “legião”, como os demônios ou, sei lá, alguns bikers. Eu sou “um”. Quem escreveu os textos fui eu, não a VEJA. Eu nem sei o que a revista pensa sobre “bikers”, eliminação dos crucifixos etc. Aliás, um sujeito que se identifica como “Sampaio”, certamente se inquietando na cadeira, com a comichão a lhe trazer a saudade do selim, escreveu:
“Pode aguardar. Serão milhares pedindo a sua cabeça na Veja”.

Façam isso mesmo! Quem se comporta como Mussolini também pode se comportar como um Robespierre sobre duas rodas. Mas basta apear do veículo para que bata aquela vontade irresistível de botar, além dos dois pés, as duas mãos no chão! Vão protestar nos parques! Aprendam a encaminhar petições ao poder público seguindo as regras da democracia! Instruam-se um pouquinho sobre civilidade.

Para encerrar: o “Fábio” envia-me algo bem delicado: “Eu faço questão de cuspir na sua cova, seu Reinaldo!” É mesmo? Se eu me for antes, rapaz, você terá a oportunidade de fazê-lo. E será um comportamento compatível com seu pensamento. Já sou experiente o bastante para saber que aqueles que não respeitam os mortos não têm também o menor compromisso com os vivos.

Segundo entendi, o protesto fascistóide de ontem foi motivado pela morte de uma ciclista. Segundo os humanistas do selim, segundo os Robespierres e os Mussolinis sobre duas rodas, quando morre “um dos nossos”, a gente pára o mundo; quando morre “um dos deles”, a gente cospe na cova.

É, de novo, a lógica do terrorismo em estado larvar. Comigo não, violão! Comigo, fascista não se cria!

07 de março de 2012
Reinaldo Azevedo

2 comentários:

  1. Sobre as lésbicas e crucifixos, elas fizeram o que qualquer um deveria ter feito. Requisitaram que o Estado, que É laico, se comporte como tal.
    Sobre criar uma área de segurança em torno de hospitais. Acho ótimo. Uma "Hospital Lane", faixa exclusiva para ambulâncias e pacientes, que NINGUÉM, nem bikes, nem carros, poderia usar.
    Sobre parar o trânsito... Meu caro, o modelo que foi construído em torno do automóvel é que parou - e para - diariamente milhões de pessoas nas cidades. TODOS os modelos sociais e urbanos que adotaram bicicletas não saõ assim.
    Um protesto biker às 18hs na Paulista é sim para ser visto - com simpatia ou não -, pois a morte de uma pessoa no trânsito não pode ser vista como algo banal. E o tratamento dado ao crime (e criminoso) nesse caso, não pode ser tido como exemplo a seguir.

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  2. Como vai Ortega. Sabemos que não se trata de ser o Estado laico ou não. O objetivo das minorias radicais tem outro alcance, que não simplesmente discutir a laicidade ou não do Estado. Escorregar nesse argumento é fechar os olhos para o que de fato pretende a Nova Ordem Mundial. Mas já que as minorias sentem-se ofendidas com o crucifixo nos organismos públicos, por que não mudar o nome de alguns Estados, como por exemplo, São Paulo, ou Santa Catarina, ou Espírito Santo? E que tal remover o Cristo Redentor lá da Cidade do Rio de Janeiro?
    m.americo

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