"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 9 de março de 2012

NUNCA HOUVE UMA VORACIDADE POLÍTICA COMO A DO PMDB

Dois títulos de filmes famosos que marcaram época quando exibidos aqui: Nunca Houve Uma Mulher Como Gilda, com Rita Hayworth: e Nunca Houve Uma Primeira Dama Como Eva Perón, com Madona no papel. Agora, como estamos em ano eleitoral, e diante do manifesto firmado por 53 dos 76 deputados da bancada do PMDB, podemos acrescentar: nunca houve uma voracidade política como a do PMDB 2012.

Leio na reportagem de Gerson Camaroti, Luiza Damé e Isabel Braga, O Globo dia 7, que o partido que foi de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves expõe ao público agora sua face fisiológica. O documento, entregue ao vice presidente Michel Temer, presidente do partido, não visa nenhum projeto político construtivo, projeto algum de desenvolvimento econômico e social. Nada disso. Tem como objetivo ocupação ainda maior de cargos públicos. A foto que acompanha a matéria é de Givaldo Barbosa.

O poder pelo poder, descompromissado da verdadeira essência da política que é a melhoria das condições de vida da população, o progresso do país, o fortalecimento do regime democrático, além da maior participação da sociedade em todo processo. O manifesto é por mais cargos, mais participação nas decisões que implicam mobilização de verbas.

O vice Michel Temer recebeu o documento, como não poderia deixar de fazer, porém esquivou-se de dar curso à pressão arquitetada creio que principalmente pelo líder da legenda, Henrique Eduardo Alves. Temer afirmou, na ocasião, que o PMDB encontra-se livre para fazer alianças regionais nos 5 mil e 600 municípios brasileiros sem obrigação de neles se alinhar com o PT. Foi hábil. Desviou o tema. Saiu pela tangente.

O documento tangencia o absurdo. Curioso é que a reportagem de O Globo acentua que assessores do Palácio do Planalto, leia-se da presidente Dilma Rousseff, identificaram o ex-deputado Geddel Vieira Lima, um dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, como entre os principais inspiradores e articuladores do texto incrível.

Será possível? Geddel Vieira exerce um cargo administrativo do qual pode ser exonerado a qualquer momento. Seria o redator menos indicado para a tarefa de elaborar o manuscrito passadista. Algo que não deveria caber nos dias de hoje. Não faz sentido. O que o governo necessita, isso sim, é de um projeto de economia política que se vincule ao plano social, através de uma ponte com as inevitáveis reivindicações trabalhistas que surgem e se multiplicam a cada semana.

De fato tais movimentos são legítimos. Afinal de contas os salários não podem perder para a inflação do IBGE. Mas para isso é indispensável um aumento da produção e da produtividade, sem o que nada poderá dar certo. Não só no Brasil. Mas em qualquer país do mundo.

Acordos políticos exigem metas claras e precisas. Como ocorreu no governo JK, os anos dourados de Janeiro de 56 a Janeiro de 61. Um projeto político que entusiasme e faça com que a sociedade sinta-se representada no esquema de poder. A sociedade deve participar do processo, não só como espectadores, mas como coadjuvante do progresso.

O documento do PMDB significa um retorno à República Velha, como é chamado pelos historiadores o período que vai da proclamação de 1889, vejam só, até 1930. Era o tempo do café com leite. São Paulo e Minas Gerais dominavam tudo. O povo não tinha vez. Os movimentos sindicais eram um caso de polícia, disse certa vez o presidente Washington Luis. A maioria da bancada do PMDB deseja viver em 1927. É o que parece. Triste episódio ela oferece ao país.

09 de março de 2012
Pedro do Coutto

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