"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 29 de março de 2012

O GADO DO ESTADO

Enquanto não é revelada a misteriosa identidade do “Boi” (codinome dado pela Polícia Federal a um famoso líder de massas brasileiro na década de 70 que atuava como agente duplo, dedurando seus companheiros revolucionários ao Departamento da Ordem Política e Social), os brasileiros constatam que a nossa privacidade está indo para o brejo. E o Boi tem seu dedo em mais uma manobra totalitária de Engenharia Social.

O cidadão, dono de veículo automotor, vai se transformar em uma espécie de “gado do Estado”. Tal comparação tem base real. No Brasil, o rebanho bovino já perdeu a privacidade. Os fazendeiros amantes da tecnologia já instalaram chips localizadores nas orelhas de seus bois e vacas. Breve, o rebanho humano brasileiro vai pelo mesmo brejal da modernidade controladora. Mas tudo vai depender se vamos aceitar – ou não – ser vaquinhas do presépio. Se eu fosse o “Boi”, me preocuparia com a revolta dos motoristas.

Não podemos aceitar, passivamente, uma coercitiva regrinha (absolutamente inconstitucional) que tem o falso objetivo de colocar ordem no caótico trânsito das grandes cidades. É um crime de lesa-cidadania a obrigatoriedade do chip identificador em veículos, a partir do ano que vem. A sociedade precisa se rebelar contra o novo mecanismo de controle social. Além de nos vigiar, ferindo nosso livre direito e ir e vir com, privacidade, o chip vai doer no bolso.

Será aprimorado um infinito esquema de arrecadação de multas. Uma grana que ninguém sabe para onde vai. Sabe-se que a arrecadação da multa de trânsito entre nos cofres públicos sob a rubrica “Receitas Extra Orçamentárias”. Pos isso, não são fiscalizáveis pelos “tribunais” ou conselhos de contas estaduais e municipais. Suspeita-se o dinheiro não é todo investido em programas de educação ou melhoria da sinalização de trânsito. A maior parte dele acaba financiando “mensalões” em refinados esquemas de corrupção.

O excremento legal do chip veicular foi aprovado, no final do ano passado, pela resolução 212 do Conselho Nacional de Trânsito, para entrar em vigor a partir de maio de 2008. Até novembro de 2011 todos os veículos em circulação no País deverão contar com o chip. A medida obriga a instalação chips em todos os veículos licenciados no País - incluindo motos, reboques e semi-reboques. O dispositivo deverá conter um número de série único e intransferível para cada veículo, além da placa, chassis e código do Renavam.

O chip será colado no pára-brisa dianteiro do carro, ou em um local ainda não definido da moto, e poderá ser “lido” por equipamentos eletrônicos de fiscalização. Cada chip nos carros emitirá um sinal de rádio diferente. Um receptor identifica o sinal e facilita na hora de checar multas dos veículos, pagamento do IPVA e até encontrar carros roubados. A tecnologia é chamada de Radio Frequency Identification (RFID) ou identificação por radiofreqüência.

Nossa privacidade será incinerada pelo Estado totalitário em franco processo de ascensão. Primeiro, chips nos carros. Depois, em pulseiras de localização, nos cartões bancários ou nos celulares (neste último caso, uma realidade atual). Não demora, microchips localizadores, ocultos nas vacinas, serão aplicados em nossas crianças. Isto não é ficção científica. É a triste realidade da ciência totalitária estudada no Brasil e no resto do mundo.

O Big Brother, que toma conta de tudo e de todos, existe mesmo. E não é um mero programa de tevê imbecilizante. È assustadoramente real. Seus mecanismos se encontram em fase de aprimoramento tecnológico. As liberdades civis estão por um fio. Ou por um “bite”. Os cidadãos é que precisam se ligar neste preocupante sistema de gerenciamento e controle da vida social imposto, sutilmente, em nome do “bem”, pelo terror psicossocial, burocrático-administrativo do Estado.

O Grande embate entre a sociedade e os poderosos que a controlam, no terceiro milênio, será pela preservação do Direito inalienável à privacidade. Antes que seja tarde demais, temos de lutar para defender nossa intimidade pessoal, nossa individualidade e nossos direitos individuais. Estes são os pressupostos da liberdade no combate ao regime de terror que se avizinha.

Nossos governantes promovem o terrorismo psicossocial. O objetivo deles é manter a maioria da população em um estado contínuo de ansiedade interior. O processo funciona como uma máquina de moer gente. O sistema político-econômico mantém as pessoas demasiadamente ocupadas, lutando pela própria sobrevivência. A sociedade é submetida a uma violenta situação de insegurança, angústia e terror. Tal conjuntura do mal deixa as pessoas exaltadas e implorando por "soluções mágicas" e imediatas, quaisquer que sejam estes pretensos paliativos.

O Estado nos vende a falsa idéia de que a "panacéia" do totalitarismo (o governo forte) é uma solução patológica para uma vida insegura e atomizada. O totalitarismo é sedutor, pois permite vender, à vontade, imagens demagógicas a povos desmoralizados psicologicamente. As ideologias populistas ou as utopias se configuram em mecanismos de controle social.

Curiosamente, o Estado em ritmo de totalitarismo dita as "soluções". Uma dessas idéias criminosas é o tal chip dos veículos, sob o falso argumento de garantir a segurança e permitir um melhor acompanhamento do trânsito nas grandes cidades. Impondo uma regra, sem consulta à sociedade, o Estado promove a submissão absoluta da população e da opinião pública. Esta guerra assimétrica serve para romper a fortaleza psicológica do indivíduo, a fim de deixá-lo sem defesas. A lei (mesmo inconstitucional) nos intimida e controla. Assim, o Estado promove a maior ameaça à vida livre.

Além do terrorismo psicossocial, o Estado emprega o Terrorismo Administrativo. Esta modalidade é definida como o emprego da burocracia e da máquina do Estado para criar dificuldades à vida social, política e econômica do cidadão. Em vez de solucionar questões do dia-a-dia, o Estado fabrica dificuldades. E nos vende pretensas soluções anti-terror ou pró-segurança (por um preço cada vez mais alto). fingindo que está protegendo o cidadão. Na verdade, o Estado usa suas armas para vigiá-lo e controlá-lo, a partir de sistemas de informação e segurança cada vez mais rígidos.

É um exemplo de terrorismo administrativo a mais ampla catalogação dos cidadãos. Trata-se de um controle social ideológico exercido através do monitoramento da polícia secreta sobre os inúmeros registros civis: RG, CPF, Título de Eleitor, INPS, PIS, PASEP, FGTS, ISS, ICMS, Carteira de Habilitação de Motorista, IPTU, RENAVAN, Serasa/BC, contas bancárias, SPCs, INCRA, passaportes/PF, registros de armas, telefones, Internet.

Os terrorismos psicossocial e administrativo fabricam crises artificiais ou situações complicadas no cotidiano, para manter as pessoas em um perpétuo estado de desequilíbrio físico, mental, emocional e financeiro. A ação para confundir e desmoralizar (baixar o moral) da população serve para evitar que os cidadãos decidam o seu próprio destino. O terror psicossocial se manifesta de várias formas, sutis ou evidentes.

São exemplos objetivos: as ações policialescas (em nome de uma falsa segurança); as exageradas multas e sanções; a tropa de tortura fiscal da Super Receita coagindo empresas e contribuintes; a carga tributária elevada e injusta; o colapso induzido nos sistemas de transporte e no trânsito; a lentidão da Justiça, gerando a sensação da impunidade; a demora do Estado judicialmente condenado em pagar precatórios; o excesso de burocracia para resolver simples problemas na máquina estatal; a exagerada exposição à violência ou a fatos violentos como se fossem normais; a forte exposição à pornografia e à luxúria, fatos também tomados como “normais” ou “naturais”.

A tática perfeita do terror, além do investimento no medo e na insegurança para controlar, é investir no consumismo. O consumo pelo consumo produz as diversas formas de “compulsão social”. Atingindo-se o extremo em que as pessoas se vêem diante de tantas possibilidades de escolha, elas não conseguem escolher nenhuma. Este processo compulsivo cria frustrações e desequilíbrios psicológicos. Produz vícios dos mais diversos. Sentindo-se incapaz de escolher, optar e decidir, o indivíduo tende à inércia ou a uma inação. Fica paralisado, o que facilita seu controle.

Através da entropia consumista, as pessoas ficam “cordeirizadas”. Ignoram a real percepção da História. Perdem a noção da liberdade individual. Escravizam-se e são facilmente controladas pelos agentes do poder. Esta é a “vida de gado”, em que o povo vive “marcado, mas feliz”, da música cantada por Zé Ramalho. É nesta marcha histórica que a vaca vai para o brejo.

Por isso, temos de nos rebelar, para não sermos transformados em meros “gados do Estado”.

Se formos mais passivos que vaquinhas de presépio, estaremos aceitando o totalitarismo em marcha. Quem não tiver vocação bovina para a inércia que se prepare para o estouro da boiada. O “Boi” que se cuide! Sua farra vai acabar.

29 de março de 2012
Jorge Serrão

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