"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 18 de março de 2012

O PEREGRINO E O PARLAPATÃO

Dai-me senhor o poder de síntese! Afastai para longe de meus ouvidos, senhor, os parlatatões!
Eu quero apenas responder as três indagações herméticas e saber quem sou de onde venho e para onde vou!
Ouço sempre uma voz que me diz: “se você ficar feliz diante de uma criança sorrindo; se pela manhã a luz do sol traz alegria e contentamento, começou o processo de saber quem você é!”

Quando penso que essa voz se calou, ela torna: “se você ficar feliz ao ver as pessoas rindo, alegres, já não precisará compreender a natureza do sol nem das estrelas, pois as suas essências já vibram em sua alegria!”

E então eu me pergunto: o que é sagrado e em que língua o sagrado nos fala? Sagrado há de ser tudo que pessoalmente consagro, e todo sagrado que eu não profano é a língua pela qual o sagrado me fala.

Conquanto estando certa feita ouvindo um paralapatão discorrendo sobre as bananas que eu trazia da feira, de tanto ele falar até me sentei, pra que os ouvidos aturdidos não causassem o meu desequilíbrio, enquanto o parlapatão prosseguia falando da teoria das bananas, a única palavra que se podia entender em meio a tantas inúteis palavras que o parlapatão falava sem dizer nada.

Levantei-me de pronto e retomando o leme mental peguei as bananas, segui meu destino e sem jogar a cascas das bananas no chão, que nem as descasquei, ainda assim o parlapatão escorregou nelas, depois de uma tremenda derrapada pelas palavras que despejava boca afora!

Não sabe certamente o que é sagrado, nem tampouco a sacralidade da língua!

Hoje, passados aqueles tempos repito a voz e vos digo: “se sois capazes de vos alegrar com as crianças felizes; se sois capazes de vos alegrar com a felicidade alheia; se sois capazes de vos indignar com os exterminadores de insetos, sem necessidade de nos livrarmos de insetos; se vos alegrais com o canto dos passarinhos; se fordes capazes de com lágrimas nos olhos sorrir de puro sentimento de amor ao mundo...

Não tendes mais necessidade de desvendar as estrelas, nem as galáxias, nem o próprio universo, pois estarão convosco conspirando pela harmonia da síntese e sentindo o pulsar do coração cósmico, dentro de vós.

Mas, todavia graças a já terdes viajado pelas galerias profundas do saber, pois é desse conhecer que tendes agora o sentir, quando aflora vivo, consciente e amoroso o Ser Real .

18 de março de 2012
postado por julio

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