"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 29 de abril de 2012

CACHOEIRA SE SENTE ABANDONADO...

Andressa, casada com Cachoeira. diz que ele está se sentindo abandonado



Numa entrevista a Cátia Seabra, Folha de São Paulo de sexta-feira 27, Andressa Mendonça, casada com Carlos Ramos Cachoeira, afirmou que ele está se sentindo abandonado por antigos aliados e, assim, – acentuou – admite a hipótese de prestar um depoimento bombástico à Comissão Parlamentar de Inquérito. Esta vai investigar suas ligações com o senador Demóstenes Torres e o empresário Fernando Cavendish. A bela foto que acompanha a matéria é de Lula Marques. As declarações de Andressa Mendonça foram frontais: ele não aceita ser transformado em bode expiatório.

Se alguém tivesse dúvida a respeito de o governo exercer algum controle sobre os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, depois de ler a entrevista publicada no FSP, sentira logo que é impossível. Se ninguém sabe o que Cachoeira vai dizer, como supor que as investigações possam seguir um rumo de gelo? Não tem cabimento. Isso porque as CPIs dependem de sua repercussão na imprensa e na opinião pública portanto.

Muitos não acreditam na eficácia delas. Mas os exemplos históricos apontam em sentido contrário. Em 1953, a CPI criada para investigar os financiamentos oficiais concedidos ao jornal Última Hora, de Samuel Wainer, através do Banco do Brasil, abalou o presidente da República, projetando uma crise institucional que levou-o à morte.

A CPI da Carta Brandi, documento falso contra João Goulart, divulgado por Carlos Lacerda, tornou-se um sólido fator para garantir a posse de Juscelino Kubitschek a 31 de janeiro de 56, na sequência dos movimentos político-militares de 11 a 21 de novembro de 55.

A CPI que radiografou a atuação de Fernando Collor e PC Farias terminou assegurando o impeachment do presidente da República. A CPI dos Correios e do Mensalão fez o presidente Lula a demitir José Dirceu da chefia da Casa Civil e, como desdobramento, acarretou a cassação de seu mandato parlamentar. E, na sequência e consequência, não apenas isso o que já seria muito. Mas também a substituição de Dirceu por Dilma Rousseff. Não fosse o episódio do mensalão, hoje José Dirceu seria o presidente da República, sucessor de Lula, e não Dilma Rousseff.

Eu sei que uma parte da sociedade repete sempre que CPIs não dão em nada. Quer fazer? É sempre assim. É como em relação às pesquisas eleitorais. Por mais que Ibope e Datafolha acertem, a frase se repete; eu não acredito em pesquisa. Você já foi entrevistado por algum pesquisador? Nada se pode fazer contra a falta de lógica. Apenas pedir aos descrentes que comparam os levantamentos com os resultados.

Até porque – aspecto importante – as pesquisas eleitorais são as únicas que podem ser comprovadas na prática. De um lado os prognósticos. De outro os números oficiais. Não tem mistério. O confronto é dos mais simples. Porém, vale frisar, inclusive como já disse o Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, as pesquisas não são infalíveis. Porém as falhas não chegam a 2 por cento dos levantamentos realizados. Não apenas nos dias atuais. Mas desde 1945. São 67 anos de sondagens. Se o Instituto não fosse eficaz, claro, já teria desaparecido. Mas este é outro assunto.

O essencial está contido na entrevista da jovem (tem 30 anos) Andressa Mendonça. Ele está se sentindo isolado. Do isolamento à ansiedade é um passo. Carlos Ramos Cachoeira pode querer falar. E, falando, detonará uma explosão na área política e administrativa.

Da mesma forma, tal raciocínio aplica-se a Fernando Cavendish. Os amigos íntimos e aliados da véspera desaparecem e se transformam nas clássicas figuras dos apenas conhecidos do depois. Cavendish é talvez, ainda mais que Cachoeira, um arquivo dos maiores e mais amplos em tempo real, como se costuma dizer. Basta constatar as obras que, em curto espaço, a Delta, sua empresa, conquistou no país.

29 de abril de 2012
Pedro do Coutto

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