"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 3 de abril de 2012

CACHOEIRA DERRAMA EM DIREÇÃO À BRASÍLIA

Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam que o grupo do empresário Carlos Cachoeira, denunciado por suspeita de comandar um esquema de exploração de jogos ilegais, negociou propina no Incra com o objetivo de regularizar uma fazenda.

Segundo relatório da PF da Operação Monte Carlo, datado de novembro passado, "são veementes os indícios da corrupção de servidores públicos em troca das liberações e assinaturas necessárias para regularização da área". O relatório menciona valores e diz haver envolvimento do superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Distrito Federal, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, com o grupo de Cachoeira.

Segundo a polícia, foram pagos R$ 200 mil de propina para liberação do registro da fazenda, chamada Gama, nos arredores de Brasília, em abril do ano passado.As gravações indicam que Cachoeira e o empresário Cláudio Abreu, um ex-diretor da Delta Construção e suspeito de integrar a quadrilha, compraram em dezembro de 2010 35% da fazenda - cerca de 4.000 hectares - por R$ 2 milhões. O preço, considerado pela PF como abaixo do cobrado no mercado, é explicado pelo terreno estar em situação irregular, diz a polícia.

O objetivo da compra seria obter lucro com a revenda após a regularização -o que, na investigação, não fica claro se de fato ocorreu. A PF afirma que o dinheiro veio de uma empresa usada pelo grupo de Cachoeira para lavagem de dinheiro. "O valor pago pelo grupo é irrisório acaso a área venha ser registrada e regularizada", diz a PF, ao relatar o potencial de lucro do negócio. "O motivo de negociar parte da área por valor tão baixo assenta-se no fato de 'quem' são as pessoas dos compradores e o que elas podem fazer".

A regularização, dizem os investigadores, dependia de um registro do Incra chamado georreferenciamento - uma espécie de descrição do imóvel, com características e limites. Depois das negociações, diz a polícia, o georreferenciamento foi feito em oito dias e emitido no dia 19 de abril de 2011 com a participação do dirigente do Incra no DF.
A apuração pára aí, não avançando sobre o que ocorreu com o terreno depois. Numa gravação telefônica do dia 25 de abril, Gleyb Cruz, braço direito de Cachoeira, disse que já havia informado o empresário do compromisso que teria sido assumido pelo superintendente do Incra.

"A gente tá com uma pessoa que pode estar alinhada, de peso (...), que é o superintendente do Incra", afirmou Cruz em ligação gravada com autorização judicial. "Tal pessoa foi identificada como Marco Aurélio Bezerra Rocha", registra a polícia. De acordo com a investigação, houve até um calote durante as negociações. "Era para [servidores do Incra] ter recebido 200, recebeu 80 só. Não, 80 não, 75. Porque teve que dar mais 5 para outro fazer um serviço não sei como é que é. Ficou com 75, de 200 ficou com 75 e o cabra [intermediário que fez o pagamento] não atende o telefone dele mais", afirmou um interlocutor identificado pela PF como "Baltazar", um dos vendedores da terra. A polícia afirmou em seu relatório que "200" seriam provavelmente R$ 200 mil.

03 de abril de 2012
(Folha de São Paulo)
coroneLeaks

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