"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 6 de abril de 2012

A GÓRGONA MEDUSA


Eu não assinei o manifesto e os meus interlocutores mais próximos sabem disso desde o início. Não por falta de solidariedade aos companheiros que estavam na frente de combate e que, por isso, continuam a ser hostilizados, porque eles sabem que sempre estive do lado deles, mas porque creio que este não é o melhor caminho.
E luto para convencê-los disso desde os tempos da Constituinte quando tentei influir para que se mudasse o papel dos militares, para que assumissem um papel mais ajustado às nossas demandas e aos nossos recursos. Não gosto de ficar olhando para trás. Cada vez mais convicto fico de que se adotada a via indireta, hoje teríamos supridas todas as nossas demandas por pressão da sociedade reconhecida.
 
Na promulgação da Constituição de 1988, na frente de cinco ministros quatro estrelas, o todo poderoso Ulysses Guimarães culpou-nos pelo assassinato de Rubens Paiva, chamando-nos de facínoras. Escrevi um artigo para “O Estado de S.Paulo” (“A mulher de Lot” - 18/10/1988), comparando-o àquela personagem bíblica que ao olhar para trás se transformou em uma coluna de sal (Genesis 19, 26):
 
Violências e desrespeitos aos direitos humanos ocorreram no passado recente, mas não é justo pinçar um caso reconhecidamente lamentável e condenável, para avivar feridas que a todos interessa ver cicatrizadas. Por acaso não era também sociedade o pracinha de 18 anos que foi pulverizado por um carro-bomba enquanto guarnecia o Quartel do Ibirapuera?”....
Não será avivando feridas do passado que construiremos uma grande nação, não será lembrando a Intentona de 35 ou os momentos difíceis do regime militar que resolveremos nossos problemas”. “Pensei que a Constituinte tivesse nos ensinado a olhar para a frente, mas o seu presidente deu uma demonstração de que pelo menos os nossos políticos continuam propensos a obsessões retrospectivas, com o futuro limitado à próxima eleição. Talvez esta atitude seja fruto de incertezas; quando não se tem seguro o presente, é dificil pensar o futuro, é mais fácil cair na recriminação mútua. Não se alcança a grandeza buscando explicação para a própria debilidade. A grandeza se alcança fazendo o difícil e o difícil é evitar o atalho da demagogia e enfrentar o duro caminho por onde só transitam os estadistas”.
 
Passados quase 25 anos, recorro à mitologia grega para tentar convencer os companheiros. De lá tiro a Górgona Medusa, criatura representada por um monstro feroz de aspecto feminino. Górgona, apavorante, terrível. Seu olhar transformava em pedra aqueles que a fitavam. É o símbolo da mulher rejeitada, e por sua rejeição incapaz de amar e ser amada. Odeia tanto os homens como as mulheres, e estas pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para ser monstro. Medusa é a própria infelicidade, seus filhos não são humanos, nem deuses, são monstros. Seu semblante é o símbolo da histeria forjada com ira, raiva, fúria, ódio e rancor.
 
E o atual ícone desta campanha contra as Forças Armadas é a ministra Maria do Rosário que incapaz de pensar o futuro se atém a cultivar a ira, a raiva, a fúria, o ódio e o rancor. A sua figura até lembra a mais conhecida das representações da Górgona Medusa, a de Arnold Bocklin (1878).
Notem a semelhança.
 
Diz a lenda que Perseu foi o único que conseguiu vencê-la. Para decepar a cabeça da Medusa sem se deixar petrificar, Perseu se sustenta com suas sandálias aladas e mira a Górgona através da visão indireta captada pelo seu escudo espelhado.
Os militares não fizeram outra coisa neste quarto de século do que desafiar a Górgona encarando seus olhos frios da ira, da raiva, da fúria, do ódio e do rancor. E o resultado foi aquele: petrificaram no sentido de que nada mais fizeram do que se entrincheirar atrás da Lei da Anistia e se lamuriar sobre o revanchismo.
 
O que venho propondo desde aquele tempo é que sigamos o exemplo de Perseu, a visão indireta para decepar a cabeça dessa Górgona. É sairmos da trincheira e partirmos para a luta, para fazermos aquilo que já demos inúmeras provas de competência. Aquilo que propus naquele artigo do Jornal do Brasil (“Por trás do Urutú” - 25/10/1987): “Não é uma nova intervenção que está na cabeça da maioria dos militares, mas o desejo de participar ativamente da luta pelo desenvolvimento social”. Propus porque estava certo de que em pouco tempo assumiríamos uma posição relevante que faria a sociedade reconhecida pressionar pelas nossas demandas. Em poucos anos poderíamos fazer uma revolução silenciosa dentro do jogo democrático, dentro da lei.
 
Agora, para isso, duas coisas deveremos fazer. A primeira é arrancarmos dos nossos corações as raízes da amargura de que fala o Apóstolo Paulo, na sua carta aos Hebreus: “Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus, que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos”. E a segunda é sairmos da zona de conforto, seguir o conselho de Felipe Gonzáles: “No se modifica la realidad desde la orilla. Si quieres modificarla, hás de mojarte”. Somente assim conseguiremos contribuir eficazmente para a construção de um Brasil melhor.
O nosso inimigo não é o Lula, ícone deste projeto de poder que aí está, mas a lassidão moral que, conjugada com a miséria, leva milhões de brasileiros a relevar o mar de lama que estão gerando para mantê-los no poder. A lassidão moral que forma o terreno fértil para o surgimento de novos Lulas e para que projetos alienígenas cravem suas raízes no solo pátrio.
 
A revolução silenciosa, para a qual estou propondo a elaboração de uma agenda, não precisará das armas que faziam revolução, mas daquelas que dispomos e que são mais eficientes nos tempos em que vivemos. O Filho do Senhor dos Exércitos, quando dava as últimas instruções aos seus discípulos, ao encerrar a Sua missão redentora, disse-lhes: "Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas" (Mateus 10,16).
Poderemos ser como Ele nos mandou: “astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas”, ou seja, usarmos a visão indireta de Perseu para decepar a cabeça da Górgona que ameaça transformar este país em uma grande Cuba. Esta, a essência da revolução silenciosa que poderemos iniciar. Acesse http://podercidadao.blogspot.com e verá uma proposta ajustada ao nosso perfil que poderá servir de base para o início deste debate.
 
O Brasil não pode ficar oscilando entre ingênuos e oportunistas surtos de juras de legalismos e retardados faniquitos de indignação. Porque não tem mais tempo para perder. E muito menos, nós, pobres mortais que já passamos da metade de uma existência que só Deus sabe quando terminará.
O que me leva a propor essa revolução silenciosa é a convicção de que possuímos a massa crítica necessária para iniciar tão grandioso empreendimento. Somos frutos de uma mesma árvore. Estamos espalhados pelo território nacional, mas mantemos uma identidade ideológica pautada pelo civismo e pelo amor ao Brasil, acima de tudo.
 
Com todo este potencial, estamos marginalizados e nos limitamos a nos indignar enquanto o país vai perdendo o tempo que não mais dispõe e, nós, desperdiçando uma geração que muito tem a dar porque muito recebeu.
 
Enquanto isso, o Brasil vem sendo tocado por políticos menores que se preocupam unicamente com a próxima eleição, com seus interesses e dos grupos que os financiam e que se perpetuam no poder através de uma democracia fajuta, mantida por massas de miseráveis, sustentados por verbas públicas, na mais rudimentar das práticas assistencialistas.
 
O grande problema que enfrentamos foi certamente criado por nós, militares, que durante o regime militar não soubemos consolidar um processo eficiente de geração de líderes, gente capaz de praticar uma política de nação, de penetrar no imaginário e nas expectativas das pessoas para delas extrair a síntese das suas aspirações.
 
A visão indireta que vai decepar a cabeça dessa Górgona que nos atormenta nas últimas décadas é esta revolução silenciosa, a revolução brasileira que os Tenentes não conseguiram: transformar o brasileiro em cidadão para escrever o projeto de nação, necessário para um crescimento ordenado, auto sustentado, duradouro e capaz de construir um Brasil melhor.
 
06 de abril de 2012
Péricles da Cunha é Ten Cel do Exército

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