"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 20 de abril de 2012

MISSIONÁRIOS DO ISLÃ EM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Histórias em quadrinhos como método para missionar o Islã (da'wa)?
Isso. Há um ano, a Universidade de Harvard promoveu um workshop para ensinar artistas de histórias em quadrinhos como abordar o "desconforto dos americanos em relação ao Islã e ao Oriente Médio". E durante esta semana, a Universidade de Georgetown levará ao ar um documentário da PBS, Wham! Bam! Islã!, enaltecendo um gibi chamado Os 99.
Wham! Bam! Islã!

Os 99 parece inócuo. Adweek descreve seu tópico como "uma equipe de super-heróis multinacionais [que] se unem para combater as forças do mal". O canal infantil americano Hub da TV a cabo explica mais detalhadamente que, "Os 99, criado pelo destacado especialista em Oriente Médio e psicólogo clínico Dr. Naif al-Mutawa [é composto de] super-heróis como personagens que devem trabalhar juntos a fim de maximizar seus poderes. Cada membro do Os 99 personifica um dos 99 valores universais, tais como sabedoria, compaixão, força ou fidelidade e são oriundos de 99 diferentes países de sete continentes. Os super-heróis da série retratam personagens projetados para serem exemplos positivos, representando diversas culturas que trabalham juntas para promover paz e justiça".
Quem pode não concordar com "valores universais… que representam diversas culturas"?
Mas um olhar mais atento revela a natureza islâmica do gibi. O título, 99, refere-se ao conceito do Islã que Deus tem 99 nomes, cada um aparece no Alcorão e personifica algum dos atributos de Seu caráter: o Misericordioso, o Compassivo, o Benevolente, o Sagrado e a Fonte da Paz, mas igualmente o Vingador, o que Causa Preocupações e o Criador da Morte.
O gibi, produzido por Teshkeel Media Group do Kuwait, relata um conto em parte fatual, em parte imaginário, que começa em 1258 d.C., quando os Mongóis cercaram Bagdá. Os bibliotecários pelo jeito conservaram a sabedoria da principal biblioteca da cidade codificando-a em 99 jóias que se espalharam pelo mundo. Os heróis têm que encontrar essas "jóias do poder" antes que um arqui-inimigo o faça. Cada um deles é um muçulmano comum que, através do contato com a jóia, adquire poderes super-humanos e representa um dos 99 atributos de Deus.
Todos os super-heróis são muçulmanos (isto é, nenhum cristão, judeu, hindu ou budista), alguns vêm de países ocidentais como os Estados Unidos e Portugal. Os vilões, ao contrário, são acima de tudo não-muçulmanos.
Naif al-Mutawa
Al-Mutawa descreve objetivos contraditórios para Os 99. Às vezes, insiste "não estou querendo converter ninguém". Dessa maneira, espera ele, que "as crianças judias achem que os 99 personagens são judeus, as crianças cristãs achem que são cristãos, as crianças muçulmanas achem que são muçulmanos e as crianças hindus achem que são hindus".
Outras vezes ele diz que planejou a série concluindo que "o mundo árabe precisa de ídolos". Ele almejava desenvolver "um novo elenco de super-heróis para as crianças do mundo islâmico" e esperava que seu trabalho "pudesse muito bem ajudar a salvar uma geração" de muçulmanos. Ele até acredita que seus personagens de quadrinhos possam "salvar a reputação do islamismo". De fato, as discussões em torno do Os 99 enfatizam seu componente islâmico. O New York Times observa que seus super-heróis têm "especificamente como meta jovens leitores muçulmanos e se centram nas virtudes muçulmanas". O Times (Londres) descreve como missão da série incutir gradualmente "valores islâmicos antiquados em crianças cristãs, judias e atéias".
Na mesma linha, Barack Obama elogiou os gibis por terem "cativado a imaginação de um número tão grande de jovens com super-heróis que personificam os ensinamentos e a tolerância do Islã". Um banco de investimento islâmico cujos produtos "cumprem inteiramente com os princípios da Sharia" investiu US$15,9 milhões no Teshkeel e felicitou-o por "destacar a rica cultura e herança islâmica".
Capa do gibi.

Em suma, Os 99, disponível tanto em árabe como em inglês, contém conteúdo abertamente islâmico e promove explicitamente o Islã. Concordo, seu islamismo tem aspetos modernos, mas entre os não-muçulmanos a série engaja sorrateiramente a da'wa.
Fora os gibis, Al-Mutawa desenvolveu outros produtos (histórias em quadrinhos on-line, jogos, lancheiras e parques temáticos) e prevê outros mais (histórias em quadrinhos em jornais, adesivos e talvez brinquedos). Mas sobretudo, ele quer um desenho animado. Embora em 2011 a rede Hub tivesse planejado colocar no ar Os 99, isso nunca aconteceu, principalmente porque a desaprovação fez com que recuasse em relação a um show que incutia "valores islâmicos em crianças cristãs, judias e atéias"
Cinco dos "Os 99", da esquerda para a direita: Mumita (rápida), Dr. Razem (perito em jóias), Rughal (poderes do mistério), Jabbar (expansível) e Noora (que vê a verdade).

Em suma, além da doutrinação islâmica de crianças ocidentais, já presente nas escolas por meio de livros de ensino, materiais escolares adicionais e os passeios de sala de aula, inclui agora gibis e seus mais diversos derivados, reais e potenciais. Pode até ser que Os 99 sejam ótimos para crianças muçulmanas, mas apesar do apoio da Universidade de Georgetown, crianças não-muçulmanas não deveriam ficar expostas a esse tipo de propaganda missionária.
20 de abril de 2012
por Daniel Pipes
National Review Online

Original em inglês: Islam's Cartoon Missionaries
Tradução: Joseph Skilnik

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