"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 18 de maio de 2012

A TURMA DO GUARDANAPO

Animada com a impunidade, a Turma do Guardanapo transforma disfarce em enfeite

No velho faroeste americano, atores que faziam o papel de bandido usavam lenços para esconder o rosto. Como havia também o chapéu, ficavam expostos apenas os olhos, parte do nariz e centímetros da testa. Não era fácil para o xerife identificar um fora da-lei.


No moderno faroeste brasileiro, os bandidos são de verdade e os crimes ocorrem no mundo real, mas ninguém precisa esconder o rosto. Basta caprichar na pose de político ou empresário a serviço da pátria, do PAC e do Protetor dos Pecadores Companheiros, e estará garantida a condenação à perpétua impunidade.

A boa vida sem perigo de cadeia animou o grupo formado por Sérgio Cabral, Fernando Cavendish e meia dúzia de amigos a ressuscitar o pedaço de pano popularizado pelo cinema ─ não para ocultar-se, mas para exibir-se. No festivo encontro em Paris, os passageiros da alegria substituíram o lenço pelo guardanapo, botaram na cabeça o que cobria a face e transformaram em enfeite o que era disfarce.

Antes da aparição da Turma do Guardanapo, mais uma obra da Delta, faltava algum bloco que fundisse a inventividade do País do Carnaval e o descaramento de um Brasil reduzido a sucursal do Clube dos Cafajestes. Agora não falta mais nada.



18 de maio de 2012
Augusto Nunes

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